Capítulo 56 - Sem ela eu não vou conseguir

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Lena

Meu estado de espírito não combinava em nada com aquele lugar. O James queria visitar todos os lugares, todas as praias, tudo ao mesmo tempo. Nem sabia por onde começar. Eu só queria não ter que começar. Não queria aquele novo começo. Na verdade, não sabia o que queria. Queria parar o tempo, queria que nada daquilo estivesse acontecendo. Queria ver minha amiga bem novamente.

Chegamos ao hotel. Aquela viagem era meu sonho. Passei tanto tempo planejando tudo, decidindo todos os detalhes. Era um hotel cassino na parte holandesa da ilha.

Deslumbrante. Impossível não ficar encantada com aquela beleza. Mas não era o suficiente para preencher o vazio que eu sentia.

Fomos para nosso quarto, tomamos um banho e eu resolvi descansar um pouco. O James estava ansioso para sair, então acabou indo dar uma volta pelo hotel. Melhor assim, eu precisava mesmo ficar sozinha.

Sozinha na menor ilha do mundo. Com a menor felicidade do mundo, com a menor vontade de sair do mundo, com as maiores lágrimas do mundo. Era uma coisa tão insana pensar em tudo aquilo. Eu não conseguia, não conseguia chegar a nenhuma conclusão. Na verdade, acho que não conseguia pensar em nada. Só chorava e lembrava de todas as palavras de Kara. Seus olhos não saiam da minha cabeça. Assim como a dor que ela estava sentindo. Agora que pensava direito, minha dor não chegava nem perto da dor dela. A minha Kara estava sofrendo demais, por minha causa. E não havia nada, absolutamente nada que eu pudesse fazer. Eu não podia ligar para ela. Também não podia simplesmente fugir da minha lua de mel e voltar para a casa.

Queria poder arrancar aquela dor dela, queria poder ser eu a sofrer tudo aquilo. Oito anos de total dedicação a mim. Por oito anos, a Kara não conseguiu se apaixonar verdadeiramente por ninguém. Eu sabia disso. Mas não sabia que era por minha causa. E nesses oito anos, eu sempre estava com algum cara, sempre namorando algum idiota qualquer. E ela nunca se afastou por isso. A Kara sempre esteve comigo. Mesmo que isso a machucasse, mesmo que eu a machucasse. Ela me amava. Eu a amava também, mas não sabia dizer que tipo de amor era o meu, que tipo de sentimento. Despertei de meus devaneios quando o telefone tocou.

– Lena, nem me ligou para avisar que chegou. – era meu pai, esqueci completamente de ligar pra ele.

– Oi, pai. Não faz muito tempo que chegamos, ainda estou no hotel. A viagem me deixou um pouco cansada e resolvi ficar aqui um pouco.

– O James está com você?

– Não, foi dar uma volta. Daqui a pouco deve voltar aqui.

– Você está triste, filha. A Kara também. Você nem pode imaginar o quanto. Ela não sai do quarto. Não abre a porta para ninguém. Faz horas que está assim. Estamos todos muito preocupados.

Comecei a chorar. Eu não sabia o que fazer. Não queria, não podia ver a Isa sofrendo. Estava me matando.

– Pai, ela gosta de mim. – não tinha porque esconder. Com certeza meu pai sempre soube. Só eu era idiota demais para notar.

– Eu sei, Lena, eu sei. Sei também que você está confusa. Eu sempre tentei te fazer enxergar. Mas não vou mais. Não vou mais tentar te convencer que você também a ama. Só não consegue aceitar isso. Não consegue aceitar que por todos esses anos não entendeu porque a Kara era tão mais importante que suas outras amigas. Só acho, filha, que você deveria perceber isso logo. A Kara está sofrendo. Ela te ama demais. Acho que nem podemos calcular o quanto. Eu não posso, você não pode, nem ela deve poder. E você também está sofrendo, sabe o que isso significa. Não precisa ficar cultivando essa dor de vocês duas. Não é algo impossível de resolver. Só quero que você seja feliz, Lena. Esqueça o que todo mundo julga certo e errado. Ninguém pode decidir por você. Ninguém pode ser feliz por você. O amor nunca é errado, filha.

Eu já estava dominada pelas lágrimas e soluços. Nesse instante, o James abriu a porta e tentei me conter.

– Pai, tenho que desligar agora. Beijos.

Antes de desligar, ouvi "teimosa" do outro lado da linha. O James estava com uma cara de confuso. Não sabia bem o que fazer.

Estava parado na porta, sem reação.

– Só estou com saudades, está tudo bem, não se preocupe.

– Não parece só isso. Mas se você diz. Por que não vai se arrumar? Podemos sair para explorar alguma ilha.

– Não quero. Estou um pouco enjoada. Acho que o voo me deixou assim. Pode ir se quiser, não quero estragar sua viagem.

– Lena, você não pode fazer isso. Não pode emburrar na nossa lua de mel e me deixar por aí enquanto fica aqui trancada. Qual o motivo de tudo isso?

Eu estava alterada. Estava nervosa, chorando novamente.

– Não tem motivo, James. Não tem. Só quero ficar sozinha. Só porque casamos não tenho mais esse direito? Que droga. – gritei.

Ele se surpreendeu.

– Está bem, Lena. Não quero te tirar nada do que você tinha antes do casamento. Se quiser, fico com você aqui.

Está tirando. Tirou a Kara de mim. Tirou a pessoa mais importante da minha vida. Está me privando de estar com ela.

– Não, quero ficar sozinha.

Sozinha? Não. Quero a Kara. É ela quem eu quero comigo. É quem eu preciso ao meu lado. Sempre. Sem ela eu não vou conseguir.

Só então entendi. Eu a amo.

Amor Platônico - Adaptação KarlenaOnde histórias criam vida. Descubra agora