Capítulo 43 - Eu estava ganhando forças para aguentar o que viria a seguir

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Kara

A viagem foi rápida e em poucas horas estava em frente à casa dos meus pais.

Minha mãe me recebeu amorosa.

– Que bom que você chegou, filha! – olhou-me preocupada – Como você está?

Não aguentei e comecei a chorar.

– Vem, vamos entrar.

Sentamos no sofá e ela ficou respeitando meu silêncio. Mas eu não queria mais deixar de falar no assunto.

– É sábado que vem, mãe. Ela vai se casar. E... o pior de tudo é que eu que salvei o casamento... – disse voltando a chorar.

Contei para minha mãe tudo o que tinha acontecido.

– Mas por que você foi falar com ele, Kara?

– Porque eu amo a Lena e ela ama o James. Mesmo que eu sofra, quero que ela seja feliz.

– Minha filhinha, por que você tem que ser assim?

Ficamos em silêncio por um tempo.

– Às vezes eu invejo esse seu sentimento pela Lena, sabia?

– E por que você invejaria toda essa dor que eu sinto? – perguntei surpresa.

– Acho muito linda essa sua mania de se entregar tanto às coisas, você é muito intensa, filha – abraçou-me – Vai ficar tudo bem...

Eu precisava ouvir isso, porque o que eu mais acreditava era que nada ficaria bem.

Meu pai chegou logo em seguida com o almoço e comemos em paz. Eu estava em paz com eles ali. Precisava da minha família.

Passei o dia inteiro grudada nos dois, estava muito carente.

À noite meu celular tocou, era a Lena, ri internamente.

– Oi Lena, já tá com saudades é? – brinquei quando atendi o telefone.

– Kara! Estou, com muitas saudades. Não é justo você me abandonar assim na última semana antes do casamento – como eu amava escutar aquela voz.

– Já conversamos sobre isso, Lena. Você está bem? Parece tão tristinha.

– Claro que estou triste. Você não está aqui comigo. Não posso viver sem você – não tem como esconder o quanto ouvir essas coisas me deixa feliz.

– É só uma semana, você sobrevive. Também já estou cheia de saudades – eu disse melosa.

– É bem mais que uma semana. Você só volta quinta que vem!

– A gente pode se falar todo dia, você sabe disso.

– Tudo bem. Me liga amanhã? Já vou estar com saudade da sua voz quando acordar.

– Eu ligo, pode deixar. Se cuida aí, amo você – disse sincera.

– Também te amo. Manda um beijo para os seus pais. E outro especial para você.

Desligamos.

Minha mãe me olhava profundamente.

– Era a Lena. Ligou porque estava com saudades – expliquei.

– E você não acha isso nada estranho?

– Como assim?

– Vocês se viram de manhã e à noite ela liga dizendo que está com saudades?

– É porque eu vou ficar a semana inteira aqui e... a gente nunca ficou tanto tempo longe uma da outra... Você sabe, mãe...

Ela me olhou séria e respondeu:

– Às vezes não sei quem é mais lesada, você ou ela.

Dia seguinte minha mãe me proibiu de ficar com o celular. Nós saímos para dar uma volta pela cidade e ela me proibiu de levá-lo.

– Você tem que esquecer ela, Kara!

– Eu prometi que ia ligar!

– Então você liga de noite, quando chegarmos.

Minha mãe estava certa, eu sabia. Precisava mesmo esquecer a Lena, já estava na hora, aliás, a hora já tinha passado há oito anos atrás.

Chegamos em casa e fui direto ao o meu celular. Tinha exatamente vinte e nove ligações não atendidas da Lena.

– Você vai mesmo ligar, Kara? – meu pai perguntou.

– Claro, pai, eu prometi.

– Você sabe que precisa se afastar dela, não sabe? – ele perguntou, minha mãe só escutava.

– Eu não posso. Prometi que sempre ia estar com ela.

– Não precisa sumir da vida dela, só não pode mais ficar prisioneira desse sentimento – minha mãe disse.

Eles estavam certos. Eu sabia.

Liguei para a Lena mesmo assim.

– Por que você não me atendeu? Eu estava com saudades! – disse assim que liguei.

– Eu disse que ia ligar, não disse?

– É, mas já são quase oito da noite! – disse brava

– É que eu saí e esqueci o celular em casa. Acabei de chegar e a primeira coisa que eu fiz foi vir te ligar – disse calma.

– Desculpa... é que não estou acostumada com isso.

– Mas vai ter que se acostumar. As coisas não vão mais ser como sempre foram. Vai ter que se acostumar com nossa distância...

– Não sei se quero me acostumar com isso...

Ficamos em silêncio.

– Eu tenho que ir, minha mãe está me chamando para jantar – menti

– Tudo bem – disse triste – Não esquece esse celular amanhã! – disse brava.

– Não vou – silêncio – Eu te amo, Lena. Durma bem...

– Também te amo. Boa noite.

Desligamos.

O resto da semana passou tranquilamente. Falei com a Lena todos os dias.

Era bom estar ali com meus pais. Eles faziam de tudo para que eu ficasse feliz. Passávamos o dia inteiro juntos. Saímos, assistíamos filmes, jogávamos baralho, faziam minhas comidas preferidas... tudo para me fazer esquecer o casamento. E até que estava adiantando. Eu estava ganhando forças para aguentar o que viria a seguir.

Na quinta-feira de manhã arrumamos nossas coisas e saímos os três de carro. Fomos todos no meu, combinamos que depois do casamento eu voltaria e passaria alguns dias com eles. Todos sabiam que eu precisaria disso.

Amor Platônico - Adaptação KarlenaOnde histórias criam vida. Descubra agora