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21 de Dezembro

Ela desceu do carro se sentindo exausta e feliz por estar finalmente de volta a sua casa, mesmo que a viagem de apenas dois dias tenha sido ótima e memorável, Natália ainda sentia falta de sua família e não podia esperar mais para ter seu irmão Nathan de volta aos seus braços.

- Te vejo depois? - Rafael perguntou para a garota, tendo a porta do carro como a barreira entre os dois.

- Não sei, talvez, acho que depois de dois dias inteirinhos com você, eu não aguento mais ver o seu rosto. 

- Vou considerar isso como um sim. - ele retrucou e então a roubou um beijo.

- Você é insuportável. - lhe disse após finalizarem seu amável beijo.

- Eu sei que você me adora, ruivinha. - ele contrapôs antes de deixá-la na frente de sua casa.

Sorrindo boba, ela foi até dentro de sua casa e logo foi recebida com um abraço caloroso de seu irmão.

- Senti saudades, Nat. - ele falou apertando mais no abraço antes de soltar.

- Eu também. 

Tudo aparentava estar normal, o sofá sujo de salgadinho que logo Nathan estava sentado no nele jogando seu jogo, mas quando ela colocou as chaves em cima do balcão, notou as chaves de sua mãe e seu casaco desgastado.

- Onde está a mamãe, Nathan? - ela perguntou desconfiada e ele a olhou preocupado.

- Ela chegou em casa durante a noite, gritou e até quebrou algumas coisas, mas eu fiz o que eu disse e apenas tranquei a porta do quarto. - ele respondeu e ela encarou a porta entreaberta do quarto da mãe.

- E onde ela está agora? 

- Ela não saiu do quarto até agora.

Natália andou minuciosamente até o quarto e abriu a porta lentamente, logo ela arregalou os olhos ao ver a sua mãe caída no chão e uma poça de sangue ao seu redor, juntou um mais um e descobriu que sua mãe bêbada acabou cortando a mão com a garrafa de cerveja e caiu desmaiada.

Natália penteou os cabelos, nervosa, ela ficou olhando para a situação procurando que surgisse uma solução, ela levantou a mãe e com dificuldade a levou para fora de casa.

- Nathan, me ajude aqui! - Natália pediu cansada para o irmão que mesmo assustado, ajudou.

Ele abriu a porta de trás do carro e ela colocou a mãe no banco de trás, dirigiu até o hospital, o carro só a deixava mais nervosa, pois ele é velho e lento, se ele quebrasse ela teria que chamar uma ambulância e é um custo que ela, definitivamente, não poderia pagar.

Os médicos levaram a mãe desmaiada e deixaram os filhos na sala de espera, Nathan estava sentado com o rosto vermelho e molhado por conta das lágrimas, enquanto Natália estava tentando se manter tranquila diante da situação. Algumas horas depois, avisaram que a mãe está bem e teve uma overdose e deu pontos na mão, mas já poderia voltar para casa.

O carro ficou em silêncio, a mãe dos ruivos não tinha a mínima cara de pau, e Natália estava irritada demais para sequer tirar satisfações. Ela só tinha uma obrigação, cuidar de Nathan, apenas por uma noite, porém nem isso ela conseguia fazer, era somente uma noite em casa, sem bebidas, sem drogas.

Na tarde da noite, Natália se sentou nas cadeiras que tem na frente da sua casa, ela olhava para o nada, apenas tentava controlar qualquer sentimento que estava a se apossar dela, queria estar tranquila e a bebida era a única capaz de a relaxar no momento.

Até aquele momento, pois sua salvação tinha acabado de chegar, ele desceu do carro e se sentou ao lado da garota.

- Tudo bem? - ele perguntou e é possível notar sua respiração por conta do frio iminente.

Natália ficou em silêncio, olhou para a garrafa e franziu as sobrancelhas, ela notou uma coisa, notou algo que não queria notar.

- Acha que eu sou igual a ela? 

- Igual a cerveja? - ele perguntou risonho e a garota revirou os olhos.

- Igual a minha mãe. 

Rafael ficou alguns segundos pensativo.

- Aconteceu alguma coisa? - ele perguntou preocupado e ela suspirou olhando para o horizonte.

- Responda, por favor, a minha pergunta. - ela pediu e agora era Rafael que estava a olhar para o horizonte.

- Não, eu nem acredito que esteja duvidando disso, você, Natália Jones, é uma das pessoas mais responsáveis que eu conheço, você é única, diferente de tudo que eu conheço. E não se puna por beber após um dia difícil, mesmo as pessoas mais equilibradas precisam de um refúgio, um descanso.

- Me acha equilibrada? - ela perguntou debochada e ele deu de ombros.

- Você consegue ser uma ótima irmã e uma idiota ao mesmo tempo. 

Mas o seu sorriso se fechou ao ver a sua mãe saindo de casa, ela apenas assistiu a cena calada, sua mãe acendeu um cigarro e saiu com o carro. Natália pegou a garrafa de vidro e a jogou no chão com força.

- Eu não acredito que ela fez isso. - Natália exclamou irritada e se levantou olhando para o carro que se tornava cada vez mais distante. - Ela não liga para ninguém, nem para os próprios filhos.

- Ei, fica calma. - Rafael levantou tentando tranquilizá-la, mas a garota recuou.

- Sai de perto de mim!

- Natália...

- Você viu o que ela acabou de fazer? Ela deu um susto enorme em mim e no meu irmão, eu morro de medo de perder ela, de ficar sem mãe todos os dias, já não bastava ficar sem pai? Me diz, eu mereço isso? Eu sinto tudo isso me engolir todos os dias, o medo, a ansiedade, eu só queria ser feliz, e olha o que eu ganhei em troca, uma mãe desgraçada e um pai que me abandonou quando eu ainda era pequena, desde pequena eu fui fadada a ser uma fracassada.

Natália desmoronou, sua voz estava embargada, ela soluçava e lágrimas cobriam suas bochechas rosadas, ela estava quebrada e não conseguia mais se esconder com seu sorriso sarcástico e com sua pose de durona, ela não conseguia mais dizer foda-se para os problemas, aquilo estava a consumindo lentamente.

Rafael, incapaz de saber o que dizer para consolar a garota, a abraçou.

- Me larga! - ela gritou enquanto se debatia nos braços de Rafael.

- Eu não vou te abandonar.

Aos poucos, ela parou de se debater e se entregou, o abraçou com força e chorou em seus ombros, aos poucos, a dor foi passando e restaram apenas sua respiração ofegante.

Fear and LoveOnde histórias criam vida. Descubra agora