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Rafael Parker

Suspirei pesadamente deitado no sofá enquanto olhava para o teto branco. Natália havia me rejeitado novamente. Abruptamente, havia separado nossos lábios, soltado algum palavrão direcionado a mim e saído do apartamento feito um furacão. Eu fiquei, novamente, perdido sem saber como reagir.

De maneira alguma eu a culpava por estar confusa com seus sentimentos ou por me negar, eu entendo até. Eu a magoei demais, duas vezes para deixar mais claro, e isso não tem perdão, às vezes não consigo perdoar nem a mim mesmo. Eu tinha sim um pouco de razão, minha vida estava bagunçada demais para eu me envolver em um relacionamento, mas, me arrependo cegamente de não ter lutado por Natália, talvez o sentimento tivesse me assustado.

Eu nunca amei ninguém tanto quanto a amei. Eu a amo intensamente, quase cegamente. Cada detalhe nela me encanta, me tira suspiro e sorrisos. Natália é atrevida, determinada e corajosa, algo que sempre admirei nela. Ela tem um jeito só seu, inigualável, inesquecível, uma personalidade capaz de te fazer rir do nada e se sentir vivo sem se esforçar. E a cada dia eu me apaixono de novo e de novo, cada dia mais. Eu tenho certeza que ela é o que eu quero para o resto da minha vida e não tenho mais medo disso, não quando eu percebi o quanto sou miserável sem ela.

E isso me dói. Me dói por ela se relutar contra mim, me dói por seu olhar ser de dor e tristeza. Me dói ver o quanto eu marquei sua vida negativamente e o quanto a magoei. Jamais serei capaz de me perdoar por tê-la deixado por medo, mas agora eu estou disposto a tudo para tê-la, e não importa o que eu tenha que sacrificar, darei tudo para que ela me perdoe e seja minha novamente.

A porta se abriu e eu me sentei no sofá automaticamente. Era Natália, ela tinha os cabelos molhados e os olhos borrados de rímel. Seus olhos pararam sobre os meus, impassíveis, ela não demonstrava nada, e de certa forma isso também me doeu, gostaria que ela se sentasse ao meu lado e que deixasse eu abraçá-la, fazer cafuné em sua cabeça e passar a noite inteira assim. Mas não há nada que eu possa fazer, não agora quando ela está tão distante.

Natália desviou seus olhos do meu e foi em direção ao quarto sem dizer nenhuma palavra, nenhuma explicação, e isso me deixava a beira das emoções, curioso e preocupado para saber o que havia acontecido e o que se passava em sua cabeça claramente confusa demais para raciocinar com clareza.

Isso me atormentou por horas, horas que se passaram em um estalar de dedos, eu estava tão vidrado em meus pensamentos que nem vi que o céu já estava escuro e que já era madrugada. Me levantei atordoado, esfreguei meus olhos e fui em direção ao lavabo, joguei água em meu rosto e suspirei frustrado. Passar muito tempo dormindo fazia isso comigo.

Depois de um tempo, dormir havia se tornado algo distante, tanto por causa do trabalho, quanto por minha cabeça sempre estar em um turbilhão de pensamentos por segundos. Depois que eu me afastei de Natália comecei a ter uma série de problemas psicológicos, tive que enfrentar crises de ansiedade e a frequentar bastante o psicólogo.

Meus olhos pararam na porta entreaberta do meu quarto. Em passos cautelosos, me aproximei da porta e espiei pela brecha vendo que Natália dormia calmamente na cama. Reprimi ao máximo a vontade de entrar no quarto, mas quando percebi já estava à sua frente. Peguei o lençol e cobri Natália que ainda estava vestida com a roupa que havia chegado há um tempo.

Observei como ela parecia calma e um anjo, linda como sempre. Apertei meus lábios e coloquei uma mecha do seu cabelo ruivo atrás de sua orelha. Eu a amava perdidamente e sabia que mesmo que ela se recusasse a me amar de volta, que vivessemos vidas totalmente separadas, eu iria sempre amá-la.

Me afastei dela antes que ela pudesse acordar ou que eu não pudesse me controlar. Voltei para o sofá e me deitei nele me aconchegando nas cobertas que fiz para mim. Mesmo que eu tentasse, nada fazia minha mente acalmar e eu passei horas acordado pensando, pensando o quanto fui um idiota e como seria se Natália nunca conseguisse me pedoar, e, quando eu estava imaginando nosso futuro feliz, eu adormeci.

Como sempre, eu acordei primeiro que a ruiva, e como sempre, eu estava fazendo o café da manhã. Estava feliz porque sabia que Natália ficaria feliz ao ver o cereal em cima da mesa e os ovos com bacon que ela tanto amava. A refeição favorita dela é o café da manhã, os bolinhos, o achocolatado, e a única coisa que chegava a se comparar a isso era pizza, ela ama pizza de frango.

Meu celular tocou e distraído com os ovos no fogo acabei não vendo quem era, mas a voz já entregava tudo.

- Rafael Parker, meu amigo! Como está aí na Califórnia?

Era Jacob Stan, um amigo antigo, um tanto intenso e egocêntrico, mas que me acolheu quando eu me demiti da empresa de engenharia do meu pai.

- Jacob! Está tudo certo por aqui, gerenciar a filial daqui está sendo tranquilo, a empresa está promissora, os números estão crescendo a todo vapor.

- Já podia imaginar o sorriso sacana de Jacob.

- É claro que está, pois tem você no comando. - ele disse e riu. - Sabe uma coisa ótima, Parker?

- O que seria? Melhor do que a nova filial impossível. - Jacob riu mais uma vez.

- Pode chegar aos pés. Eu vou fazer uma festa aí na Califórnia para comemorar o meu novo relacionamento. Soube que eu estou namorando Raquel Evangeline, uma modelo francesa conhecida mundialmente, ela é tudo, você tem que conhecê-la.

- Que ótimo, Jacob! Adoraria conhecê-la, afinal, tenho que avisar sobre você Jacob, ela tem que estar sabendo pelo que vai passar. - Jacob gargalhou.

- Tenho até medo de perdê-la por você, Rafael, parece que todas as mulheres caem aos seus pés e é claro, os olhos verdes de matar.

Agora foi a minha vez de rir.

- Eu não teria tanta certeza. - disse me lembrando que a única garota na qual desejava, não me desejava nem um pouco.

- Ah, mas eu tenho. Então, vai vir para a minha festa? O tema vai ser de Gala em homenagem a ela, é claro. Raquel não merece menos que isso. Mas por que eu perguntei mesmo? É claro que você vai, e pode chamar uma acompanhante também é claro, eu não gostaria que você fosse acompanhado.

- Seria uma ótima ideia, preciso de alguns planos para conquistar a mulher dos meus sonhos.

- Mulher dos seus sonhos? O que? Pensei que não quisesse mais saber de amor depois da lunática.

- Isso é história para outro dia, Stan, te ligo depois tenho que terminar um café da manhã.

- Então tá, me avisa como ela vai reagir a essa breguice.

Rindo mais uma vez ele desligou e eu suspirei aliviado. Mesmo que Stan seja meu amigo, grande amigo, ainda é meu chefe.

Um tempo depois, quando a mesa estava quase pronta, escutei a porta do quarto se abrir e dali vinha a ruiva mais linda do mundo. Seu cabelo estava preso em um rabo de cavalo e ela se vestia com roupas de academia o que atiçava ainda mais o meu fôlego. O cropped preto apertando os seios, a legging colada ao corpo realçando todas as suas curvas principalmente sua bunda. Ela estava linda e extremamente sexy usando apenas pouco, não precisava se esforçar muito na verdade.

- Tenho uma pergunta para você. - ela disse se sentando à mesa. - Se eu finalmente cedesse às suas tentativas ridículas, você por acaso continuaria fazendo esse café da manhã todo preparado? - ela perguntou com ironia imaginando minha resposta.

- E você está cogitando isso? - rebati e ela revirou os olhos.

- É claro que não. - ela responde como se fosse óbvio e eu ri fraco em resposta.

Fear and LoveOnde histórias criam vida. Descubra agora