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O som agudo e constante do meu despertador soou me fazendo gemer ainda com muito sono, tanto que mal conseguia abrir os olhos. Mas, depois que o segundo alarme soou, eu sabia que precisava levantar. Eram cinco da manhã de uma plena e comum segunda-feira. Vesti um cropped preto de academia e uma legging preta, ambas peças da Nike. Amarrei meu cabelo em um rabo de cavalo bem preso e calcei meus tênis também preto.

Dá para notar que eu nem gosto de preto.

Preparei um café da manhã de costume, ovos, bacon, torradas e café, mesmo que eu detestasse o sabor amargo. Tomei meu pré-treino e fui até a minha varanda. Sim, eu tinha uma pequena academia na varanda. A varanda é bem grande, com coberta e algumas plantas de plástico que já estavam aqui quando comprei. O apartamento não tinha espaço para uma academia, então trouxe a minha esteira, os pesos, o tapete e o saco de pancadas para cá.

Até que é muito bom treinar vendo a vista linda do sol surgindo e com uma música eletrizante.

Eu comecei a fazer exercícios por conta do meu trabalho que requer que você saiba se defender, pelo menos um pouco. E desde que eu comecei, eu nunca mais parei. Fiquei viciada em bater no saco de pancadas e depois de um tempo, comecei a treinar com os meus colegas de trabalho. Percebi que bater nas pessoas e chutá-las era algo que me acalmava e que me fazia muito bem. É uma forma muito interessante de extrair a raiva e as decepções do passado.

Eu estava a todo vapor, correndo e sentindo todos os meus músculos se contraírem. Respirei fundo e senti o vento balançando meus cabelos. Nem a brisa gelada da manhã poderia esfriar o meu corpo. Estava ao som de Miley Cyrus e estava concentrada demais no meu exercício para perceber que tinha companhia.

Só quando eu parei de correr que eu percebi que havia alguém me admirando, podia sentir seu olhar quente sobre mim. Fingir que não percebi e continuei a beber água ainda de costas. Tinha certeza de que era o meu mais novo vizinho e se ele fosse mesmo um gato solteirão como as fofoqueiras disseram, eu gostaria de dar uma boa primeira impressão.

Pode até ser que isso não passe apenas disso, mas mesmo assim, eu gosto de fazer com que todos caiam aos meus pés. A sensação de ser admirada é algo que aumenta muito a minha autoestima, que de fato já é muito elevada.

— Vai ficar só olhando? - perguntei ainda de costas após desligar a música.

— Estava me perguntando quando você iria perceber.

Senti meu coração parar quando eu escutei aquela voz tão familiar. Fechei meus olhos, tentando imaginar que aquilo era só coisa da minha cabeça, que aquela voz não pertencia a ele. Me virei lentamente e suspirei pesadamente quando confirmei meus temores.

O meu novo vizinho, gato e solteirão, é Rafael Parker, meu ex namorado e meu primeiro amor, na qual tenho um longo histórico muito doloroso de decepções.

— Rafael Parker. - disse sem nenhuma animação.

— Natália Jones, é um prazer revê-la. - ele sorriu daquele jeito, tão charmoso e brilhante.

— É uma pena que eu não possa dizer o mesmo. - resmunguei.

— Só para deixar claro que eu não fazia a mínima ideia de que você seria a vizinha do lado.

Ri irônica.

— Não? Tem certeza? - cruzei os braços e Rafael sorriu.

— Talvez eu soubesse que você morava nesse prédio, mas eu realmente não sabia que eu daria a sorte de conseguir o apartamento ao lado do seu… - ele colocou as mãos nos bolsos da calça. — Com uma ótima varanda quase compartilhada.

Bufei.

— Eu não sei o que você quer comigo Rafael, já deveria ter me superado a muito tempo, não sei porquê ainda não fez isso. - o confrontei.

Rafael estava exatamente como eu me lembrava, só uma coisa havia mudado, eu não via mais aquela tensão nos ombros que ele carregava consigo. A barba ainda estava perfeitamente feita, os cabelos lindos como sempre, seu corpo ficava cada vez mais atraente e seu rosto, seu rosto era de tirar o fôlego de qualquer um.

— Tem certeza de que me superou? - ele me questionou, me olhando de maneira maliciosa.

Fiquei em silêncio por dois segundos, mas foi o bastante para ele notar a resistência. Porém, eu não desistiria, não me renderia novamente a ele.

— Você acabou com qualquer chance que houvesse entre nós dois, Rafael. Faça o melhor para si e se esqueça de mim.

Rafael pela primeira vez, naqueles quinze minutos, ficou sério.

— Disse que iria te reconquistar Nat, e é isso que eu vou fazer e nada vai mudar isso.

Fingi com todas as minhas forças que aquilo não tinha abalado alguma parte de mim que, no fundo, não tinha se esquecido dele. Sorri debochada e dei de ombros.

— Boa sorte então.

Saí da minha varanda e fechei a porta fechando as cortinas também. Assim que estava fora do campo de visão de Rafael, fechei meus olhos e respirei fundo. Os dias daqui em diante serão mais difíceis.

Rafael toda vez surge de repente na minha vida, ele abala todas as minhas estruturas e derruba os meus muros, e assim como ele surge de repente, ele desaparece, ou foge, da mesma maneira, e todas as vezes eu me machuco e fico despedaçada. Nas duas vezes que isso aconteceu ele tinha motivos na qual ele achava válido, e todas essas vezes, esses seus motivos eram injustificáveis na minha visão.

Ele fugia, eu nunca soube se era por medo do sentimento, do comprometimento ou de outra coisa. Mas, agora, eu não me interesso em saber nada sobre ele e pretendo ficar bem longe de seus encantos.

Meu celular tocou me despertando de meus pensamentos e vi que Colin estava me ligando, sorri e atendi. Eu amo falar com Colin, irritar ele é o meu passatempo preferido.

— Oi chefinho. - disse sempre disposta a irritá-lo.

— Natália… - ele já soava sem paciência. — Preciso de você mais cedo hoje, se apresse, eu estou sem paciência para esperar.

Ri fraco.

— E quando não está. - resmunguei.

— Natália! - ele rugiu e eu sorri.

— Como estão as crianças? - perguntei e ele suspirou.

— Estão bem, Lise também, agora pare de gracinhas e venha logo.

Ri e peguei a minha mochila.

— Já estou indo chefinho.

E ele desligou bem na minha cara, como sempre.

Fear and LoveOnde histórias criam vida. Descubra agora