Fear and Love

14

Um ano depois

Rafael Parker

Olhei sem parar para o diamante brilhante sem parar, a caixa aveludada azul marinho, o prata brilhando com a grande pedra no centro. Como uma simples jóia poderia fazer tanta diferença na vida de uma pessoa? Eu havia comprado há apenas quatro dias e já sentia que aquilo tinha grande significado na minha vida.

Me senti pressionado, pressionado a apressar as coisas. Eu não estava pronto, não estava pronto para assumir um compromisso tão sério com alguém, não estava pronto para acordar todos os dias da minha vida ao lado de uma mulher, não estava pronto para dividir uma casa, uma vida, um lar.

Um casamento é fardo para a vida, uma coisa que tem que acontecer, parte de um ciclo. Devo confessar que sim, minha esposa é linda e com ótimos sentidos e emoções, seria uma mãe boa e uma esposa eficiente, mas, mesmo que eu não acreditasse no matrimônio, eu sabia que a mulher com que eu casasse não deveria ser apenas uma boa mãe e esposa, e sim uma mulher que eu amasse e realmente desejasse um futuro.

Faz quase dois anos que eu estou em um relacionamento com Christine e meu pai já começou a questionar quando eu pediria a mão dela. Christine também não deixou passar despercebido as suas expectativas e vontades a favor do casamento. Ela é muito chegada a isso, principalmente pelo fato de que passou sua vida toda sendo criada para se casar com um empresário e formar uma aliança entre as empresas.

Gosto de Christine, eu até acho que a amo, mas, no fundo, sinto que ela não é a pessoa perfeita para mim. Seus olhos podem ser verdes como o mar, seus cabelos loiros como raios de sol, seu rosto angelical como o céu, e… senhor, ela sabe muito bem o que fazer na cama. Fora que sua personalidade é bastante agradável, ela é uma mulher muito compreensiva e parceira, um tanto mimada e egocêntrica também.

Fechei a caixinha rapidamente quando alguém bateu em minha porta e a guardei em uma gaveta enquanto permitia a entrada da minha secretária. Nancy entrou com os ombros encolhidos e as bochechas coradas como sempre fazia, já estava me acostumando com seu jeito desajeitado e de como ela sempre parece estar envergonhada por algo.

— Rafael, tenho a descrição dos principais novos clientes, tem histórico, modelos de construções, e mais algumas coisinhas. - ela, devagar, colocou a pasta em cima da mesa.

— Obrigado, Nancy.

Nancy forçou um sorriso e saiu apressadamente do escritório. Fiquei alguns segundos tentando digerir, no fim, dei de ombros e suspirei. Eu odeio esse trabalho.

Folheei alguns dos formulários até que eu bati os olhos em uma foto, uma foto com muitas pessoas: “A elite”. Era uma garota ruiva, jovem e bonita, com os cabelos cor fogo presos em rabo de cavalo bagunçado, batom vermelho nos lábios, uma blusa tão pequena para seu corpo, o couro também em vermelho e uma calça preta de cintura alta, a jaqueta de couro nos braços, como se ela tivesse tirado a pouco tempo, as botas de cano baixo com um salto grosso notável.

Era ela, Natália Jones. Há quanto tempo eu não tinha notícias dela? Parece tanto tempo agora.

Olhei as pessoas ao redor e finalmente li o formulário: “Colin Campbell, cliente da empresa concorrente, fez inúmeras boates, duas em New York, três na Califórnia e uma muito requisitada em Las Vegas. Oferece grande renda, contudo, obtém histórico criminoso duvidoso”. Continuei lendo e olhei a parte de trás da foto onde havia algo escrito: “A elite, os principais parceiros de Campbell”.

Me recostei na cadeira perplexo, fiquei encarando a foto por minutos, olhando sem parar para Natália. Sem pensar duas vezes, digitei seu nome no google, mas não achei nada, então pesquisei por Colin Campbell e vasculhei todas as fotos, encontrando uma foto no instagram de um site de famosas, Colin e sua elite.

Natália ficava mais bonita a cada foto e eu me surpreendia pelo fato de mesmo que anos tivesse passado, ela continuava exatamente igual. Com a pose de durona, sabe tudo, com os cabelos ruivos compridos e o corpo magro, as roupas com personalidade e os lábios rosados. Ela tinha um jeito único, só dela, ela sempre foi e sempre será diferente de todas as outras.

Inesquecível, Natália é inesquecível.

Como se fosse um flash, me lembrei de seu sorriso travesso e como ele fazia meu coração martelar, me lembrei de como ela era sexy e maravilhosa sem sequer se importar, ela poderia estar dormindo com a minha camisa enorme nela e suja de molho de pizza, mas como se fosse ontem, eu me lembrava como eu perdia o fôlego ao vê-la daquela maneira, me lembrei de como, ao olhar em seus olhos, confusos e com turbilhões de emoções, contudo, olhos sinceros e doces, eu me sentia feliz, feliz por estar com ela, feliz por ter ela, feliz por ela ser quem ela era, corajosa e divertida.

E naquele momento eu senti meu coração bater mais forte, minha respiração falhar e meus olhos se fecharem inundados de lembranças, lembranças que foram vividas tão intensamente, mas que agora me trazem grandes tristezas.

Como eu pude esquecê-la? Deixei de pensar nela, deixei de me lembrar do seu cheiro viciante e do som da sua risada. Eu não fazia ideia do quanto eu sentia saudade dela e do quanto eu ainda a queria.

Senti um amargo invadir minha boca e um vazio surgir em meu coração. Eu estava enganando a mim mesmo, enganando a minha família e a Christine. Não poderia continuar nada com a minha namorada, não quando eu não sentia nada de tão intensamente e verdadeiro como um dia eu já vivi.

— Rafael? Rafael?

Meus olhos se abriram de repente, recaindo-se na figura feminina a minha frente agachada preocupada.

— Christine. - sussurrei e ela suspirou.

— Você está bem? - ela acariciou meus cabelos.

— Sim, sim, eu estou bem. - murmurei.

— Você estava estranho, o que houve? Uma reunião ruim?

Christine se sentou em meu colo como fazia de costume e eu sem pensar, a abracei.

— Eu… estava pensando. - desviei os olhos enquanto tomava coragem. - Acho que temos que conversar.

— Eu não acredito! A sua mãe contou? - franzi as sobrancelhas.

— O que a minha mãe me contou? - ela abriu a boca surpresa.

— Eu planejei… uma festa de noivado para nós… eu vi a nota fiscal em cima da escrivaninha e… eu estava muito ansiosa e quando eu dei por mim, já estava comprando muitas taças de champanhe.

A encarei atônito por longos segundos, processando a informação. Christine tinha olhando a minha escrivaninha, mexido nas minhas coisas, e, antes que eu sequer pedisse, planejou nossa festa de noivado?

— Tudo bem para você? - eu fiquei em silêncio a olhando, ainda atônito. - Que bobeira minha, é claro que sim. Eu já convidei a família toda e seu pai estava bem animado, amor, até deu a ideia de chamar alguns fotógrafos e repórteres.

Engoli o seco e fechei meus olhos com força. Isso não está mesmo acontecendo, está?

Eu acabo de descobrir que eu ainda tenho sentimentos pela minha ex namorada, decido terminar com Christine e ela acabou me revelando que planejou uma festa de casamento com repórteres e que meu pai estava animado. Se ele estivesse realmente animado eu não poderia mais fazer nada. Mais uma vez…