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Natália Jones

Ele sabia como me ganhar e isso me dava raiva, muita raiva. Rafael tinha me ganhado por algumas horas em troca de uma pizza de frango da minha pizzaria preferida, refrigerante e como complemento, batata frita. Ele disse seus termos e eu não tive como recusar, o cheiro era atraente demais para eu suportar. No fim, acabamos os dois no sofá assistindo alguma série qualquer.

E o que eu mais odiei, foi que eu adorei aquele momento. Odiei como aquele momento aliviou toda a tensão que eu carregava, como a companhia dele me transmitia paz e como tudo parecia mais leve quando eu estava com ele. Odiei como eu passei todo o filme sentindo a necessidade de tocar em sua mão, me aninhar em seus braços ou mexer em seus cabelos que pareciam muito sedosos daquela visão.

Eu começava o odiar cada dia mais.

Conviver com Rafael era como conviver com um fantasma às vezes, pois, felizmente, nossos horários não se batem. Ele passa a manhã todo trabalhando, desde às sete, até às nove da noite, e esse horário eu já estou na boate, ou seja, realmente não nos vemos muito. Porém, hoje parece ter sido diferente, pois, quando eu saí do quarto e fui em direção a cozinha, encontrei Rafael só de uma camiseta cinza com mangas longas até o cotovelo e um short curto que valoriza bem as suas pernas torneadas.

- Já está me secando a essa hora da manhã, Jones? - ele perguntou com uma xícara de café nas mãos.

Cruzei meus braços e me apoiei na parede olhando-o com as sobrancelhas erguidas em deboche.

- Não devia estar trabalhando, Parker? - perguntei com um tom de irritação muito aparente.

- Você está me expulsando da minha casa? - ele perguntou e eu bufei.

- É, estou! - Rafael gargalhou, mas eu continuei com a cara fechada.

Rafael veio em minha direção e me puxou pela cintura me deixando surpresa, muito surpresa.

- Eu tirei um dia de folga para ficar com você, ruiva.

O afastei com brutalidade e revirei os meus olhos.

- Como se eu quisesse estragar meu dia com você. - disse irritada e ele sorriu daquele jeito que consegue me tirar o fôlego sem muito esforço.

- Para a sua sorte, eu planejei algo bem divertido para o nossa manhã.

O olhei com uma sobrancelha erguida.

- E o que faria você achar que eu iria com você? Dessa vez pizza não vai rolar.

- Sem pizza hoje. - ele ergueu as mãos em rendição. - Vamos à praia.

- Vamos?

- Sim, por que eu iria comprar duas caixas de cerveja e reservar uma mesa para duas pessoas em um restaurante?

Ri debochada.

- Pode tirar seu cavalinho da chuva, querido, eu não vou com você nem fodendo.

- Tudo bem. - ele respondeu calmamente e eu me surpreendi por sua facilidade ao aceitar. - Eu tenho uma segunda opção mesmo.

Senti um bolo se formar na minha garganta e minhas sobrancelhas se ergueram levemente por causa da surpresa momentânea. Ele tinha uma segunda opção? Eu já devia imaginar isso? Mas por que eu me sinto tão incomodada com a ideia de ele ir para a praia com uma garota que não seja eu? Deve ser orgulho ferido, deve ser isso.

- E quem seria essa pessoa? - me repreendi mentalmente por minha voz ter falhado ao perguntar.

Rafael sorriu percebendo o meu “nervosismo” e eu senti vontade de socá-lo, o sorriso ladino dele fazia meu estômago revirar de um jeito que eu não gostava.

- Não me diga que está com ciúmes de mim, ruiva?

- Não, não mesmo. - respondi rapidamente e ele tinha aberto ainda mais o sorriso debochado. - Só quero saber a garota que está em segunda opção para eu avisar a ela na furada que está se metendo.

- Claro, claro, vou fingir que acredito. - ele penteou os cabelos antes de responder. - Respondendo a sua pergunta, o nome dela é Alissa, ela é brasileira e você sabe, brasileiras tem uma ótima fama em todos os sentidos.

Senti novamente aquele bolo na garganta e um leve aperto no coração. Eu sabia da fama brasileiras, as peles bronzeadas, os cabelos cacheados vivos, o corpo com muitas curvas, cheias de energia e que ostentam uma sensualidade que só elas tem. Conheci uma brasileira e posso confirmar tudo isso.

- Que seja, estou pouco me fodendo pra você e a sua brasileirinha de merda.

Me virei irritada e fui até o quarto batendo o pé. Penteei meus cabelos para trás frustrada por estar tão irritada. Sentia-me enjoada apenas por imaginar Rafael beijando outra garota, sorrindo daquele jeito para outra ou simplesmente pegando na mão dela. Era inacreditável o modo como Rafael conseguia me tirar dos meus eixos, como ele consegue me deixar louca e sem noção nenhuma.

Era como se ele fosse uma droga e que cada dia a mais eu fico mais e mais viciada nele, e isso me irrita pra caralho. Quero ele, desejo ele, todo o meu corpo palpita ao vê-lo, ao sentir o seu toque, ao simplesmente ter seu olhar sobre mim.

- Foda-se.

Voltei para a cozinha onde Rafael ainda se encontrava e apertei os lábios me preparando mentalmente para dizer o que eu queria. Rafael me olhou com uma cara convencida, estava apenas esperando para mais uma de suas vitórias. Eu estava perdendo em meu próprio jogo, ridículo, eu sei, mas assim como Rafael conseguiu me manipular de um modo totalmente sagaz, ele também poderia manipular o jogo, e eu odeio isso.

- Vamos passar algumas horas na praia e nada de gracinhas, e você que vai pagar por tudo.

- Claro, como quiser ruiva. - ele concordou com um sorriso idiota nos seus lábios.

Era uma ação idiota, eu sabia, e mesmo perdendo, eu sentia vontade de sorrir. Não queria admitir, mas estava criando expectativas sobre o dia e até animada, tudo isso por causa daquele sorriso idiota e esperançoso. A esperança que Rafael têm, sua determinação, seu jeito espirituoso me faz ser um pouco assim também, e eu odeio isso.

- Vou arrumar as coisas para irmos. - ele avisou e eu assenti.

Fui até o meu, quer dizer, o quarto da casa de Rafael, e procurei algum bendito bíquini, e por sorte, eu tinha um. O que estava fazendo ali? Eu não sei, provavelmente às pressas eu joguei junto das lingeries. O bíquini é simples, preto com alças finas e na parte de baixo correntes douradas que dão todo o charme. Vesti um cropped preto com um short jeans claro e uma sandália branca comum.

Enquanto eu tentava ajeitar o meu cabelo que estava igual a um ninho de passarinho, Rafael se arrumava no closet, dividindo o espaço comigo. E toda aquela “paz” entre a gente, o jeito como agíamos confortavelmente um com o outro, me deixa, de algum jeito, tranquila e com o coração aquecido, com vontade de fazer isso todos os dias, de passar todas as horas com essa sensação quentinha e deliciosa.

Fear and LoveOnde histórias criam vida. Descubra agora