Estava deitada no colo de Lise enquanto assistimos a um filme. Estávamos comendo pizza, pipoca e brigadeiro e tudo poderia estar mais que perfeito se a minha cabeça ainda não estivesse a um turbilhão de pensamentos. Uma angústia estava instalada em meu peito, a dor de ter me afastado de Rafael, de pensar em não tê-lo mais, e mesmo que fosse por alguns dias, parecia que já vivenciamos isso por anos.
Lise colocou uma colherada de brigadeiro na boca e eu suspirei pesado incapaz de conter mais aqueles sentimentos só para mim e isso atraiu o olhar de Lise. Era como se ela já estivesse preparada para o que vinha a seguir e eu sabia disso.
— Eu encontrei o Rafael novamente e começamos a ter um casinho!
Lise ergueu as sobrancelhas surpresa.
— Rafael? Rafael daquele natal?
— Sim, o próprio.
— Como isso aconteceu? - ela perguntou, se ajeitando em seu assento.
— Ele se mudou para o apartamento do lado, e eu juro, eu tentei o máximo que pude, o evitar, mas ele estava bem determinado. Era na casa dele que eu estava quando o meu apartamento estava reformando, foi com ele que eu passei esses quatro dias. E eu não consegui me segurar, de alguma forma, parece que todos aqueles sentimentos estavam à tona de novo.
Lise começou a alisar os meus cabelos, seus olhos levemente arregalados, ela tentava absorver todas as informações.
— Por que não me contou nada?
— Eu… - suspirei. - Estava com medo de admitir, de aquilo se tornar verdade e cair na real, estava vivendo em um fantasia achando que conseguiria resistir aos encantos de Rafael Parker.
— E por que ainda está aqui, Nat?
A olhei, com todos os meus sentimentos expostos, eu sabia que aquele olhar podia dizer tudo quando Lise suspirou.
— Estou com medo, Lise, medo que ele vá embora de novo, medo de…
— Passar por tudo aquilo de novo. - Lise completou quando eu já não era mais capaz.
— Eu pensava que eu era corajosa, mas agora vejo que eu sou um fracasso. - ri de escárnio.
— Não, claro que não, você está longe de ser um fracasso, Natália! É sem dúvidas a pessoa mais corajosa que eu conheço, enfrentou tantas e tantas coisas de cabeça erguida e me pergunto se eu teria coragem ou força o suficiente para passar por tudo que você passou. E não tem problema nenhum em ter medo e isso não invalida toda a coragem que você tem.
— Não? - perguntei com a voz já embargada.
— Não. - ela respondeu e respirou fundo. - E para falar a verdade, eu te entendo, muito bem até. Eu já passei por isso, vi o quanto dá medo o amor, esse sentimento tão forte, tão intenso e que rompe todas as barreiras que você construiu durante toda a vida. Esse sentimento é o maior que existe, o mais transformador e que tem a capacidade de te fazer ou a pessoa mais feliz do mundo, ou quebrar seu coração, partir em milhares de pedacinhos.
Engoli o seco.
— Colin me dava medo, o sentimento que eu sentia por ele me dava medo. Mas… - ela suspirou em meio às memórias. - Me dava ainda mais medo um futuro sem ele, sem o seu sorriso travesso, sem a sua risada que me fazia tão bem, sem seu abraço ou seus beijos sempre intensos. Tinha medo de perdê-lo, de não tê-lo, de ver ele com outra pessoa que não fosse eu ou de simplesmente vê-lo infeliz. E foi isso que me fez ter forças para enfrentar o medo de encarar o sentimento, porque não encarar seria mil vezes pior.
Uma lágrima escorreu pela minha bochecha ao perceber que tudo o que Lise falava fazia sentido para mim. Era a mais pura verdade, o medo de enfrentar o sentimento, de me entregar e de me machucar era grande, mas o medo de não tê-lo, de viver cada dia da minha vida sem ele, parecia ainda maior.
— Mas como eu posso consertar isso agora? - perguntei em um choramingo baixo.
Lise sorriu para mim e enxugou minhas lágrimas.
— Tenho certeza de que ele estará lá esperando por você.
— É, espero que sim.
Suspirei aliviada sem um peso a mais nos ombros e estava preparada para encarar qualquer coisa, contanto que fosse ao lado de Rafael.
— Porra, o que Rafael Parker fez comigo? Ele me transformou numa puta de uma chorona.
Mais algumas horas se passaram. Eu havia dormido na casa de Lise e ao acordar eu me deparei com uma cena extremamente familiar. Uma mesa cheia de comidas deliciosas, Colin na ponta, Lise ao lado e Alice e Henri do outro lado da mesa. As crianças comiam suas comidas de uma forma tão comportada que nem eu era capaz de fazer. Como aquelas crianças podiam ser filhas de Colin?
Colin por sinal parecia bem diferente do seu estado habitual, ele estava em seu modo familiar, com um sorriso singelo sempre no rosto e as roupas mais folgadas ainda não arrumadas para o trabalho. Lise por outro lado já estava perfeitamente arrumada para ir trabalhar e as crianças estavam todas enfeitadas para ir para a escola.
— Bom dia, Nat! - desejou Lise.
As crianças acenaram para mim também desejando bom dia e se segurando para não desobedecer aos pedidos de sua mãe de não ficarem agitados durante as refeições. Como eu não havia percebido o quão boa Lise tinha se tornado em ser mãe? Ela parecia mais perfeita a cada dia e me sentia orgulhosa por ela. Lise não era mais a menina assustada que um dia eu já conhecera.
Me sentei à mesa e comecei a servir. As crianças começavam a conversar animadamente e até mesmo Colin era contagiado por aquela alegria pura. Falando em meus afilhados, eles estão cada dia mais lindinhos. Henri está a cara do pai, com os cabelos castanhos escuros e os olhos claros intensos, fora a pele clarinha como neve. Alice é como a cachinhos dourados, sua pele é mais bronzeada como a da mãe, seus olhos são de um verde mais puxado para o castanho, seus cabelos são dourados feito o sol, mais loiros que os da mãe.
— Okay crianças, hora de se arrumar para irem à escola. - Lise disse quando todos já haviam terminado de comer. - Vão pegar suas lancheiras na cozinha, por favor.
Enquanto as crianças corriam animadas atrás de seus lanches, Lise ajudava Colin com a gravata e o paletó. Colin, como sempre, analisava com paixão cada detalhe da esposa, sorrindo quando ela mordia o lábio por conta de alguma dificuldade ao fazer o nó na gravata. Era claro que Colin sabia fazer o nó perfeitamente, mas que apreciava muito mais a sua esposa tentando fazer.
— Bem, acho que está bom. - Lise comentou e Colin gargalhou.
— Um dia você consegue, pequena.
Colin a puxou pela cintura e mordiscou o lóbulo da orelha da brasileira que sorriu apaixonada e despejou um beijo carinhoso nos lábios do moreno. Abaixei meus olhos tentando ignorar o fato de que estava de vela, e era fácil, pois meus pensamentos estavam todos direcionados a Rafael, desejando que um dia eu pudesse ter isso com ele. Claro, bem distante, afinal, prefiro aproveitar um pouco a vida antes de engatar a maternidade, mas, ao lado de Rafael, tudo isso parece bem legível.
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Fear and Love
RomanceNatália Jones sempre teve muitos problemas durante a sua vida, mas nada poderia derrubá-la. Tendo a coragem como sua proteção e não tendo medo de viver a vida do modo mais intenso, ela acaba conhecendo Rafael, um garoto até então desconhecido, mas q...