Estava deitada no meu sofá assistindo tv, a tarde estava livre para mim e eu adorava esse tempinho, podia colocar todas as minhas séries em dia. Depois de um tempo a pessoa cansa de viver em festas o tempo todo, agora, durante a tarde, eu me vejo assistindo tv como pizza, e a minha tá a caminho.
A campainha tocou e eu fui toda animada atender a porta, abri sem pensar e arregalei levemente meus olhos totalmente atordoada ao ver Rafael na minha porta, ele segurava uma caixa de pizza e tinha uma sacola na outra mão. O olhei com raiva e cruzei os meus braços.
- O que você quer aqui? - perguntei irritada, muito irritada.
- Eu trouxe pizza e sobremesa. - ele ergueu a sacola, cerrei os olhos em sua direção.
Levantei com cuidado a tampa da caixa da pizza e grunhi ao ver que era a minha pizza.
- Essa é a minha pizza! - exclamei irritada.
- Não é mais já que eu paguei com o meu dinheiro. - ele retrucou e eu abri a minha boca em um O enorme.
- Você fez o quê?
- Me passei por seu namorado e paguei a pizza, aproveitei e peguei algumas coisas que tinha na minha geladeira.
A raiva só crescia dentro de mim.
- Por que é que você fez isso?
- Por você, ruiva. - ele deu de ombros.
- Valeu então.
Fui tentar pegar a caixa de pizza mas ele a afastou rapidamente, grunhi ainda mais irritada e ele sorriu se divertindo com a minha reação.
- Mas tem um porém... - respirei fundo. - Você só vai poder comer se... eu comer junto.
Senti vontade de socar a sua cara e quebrar todos os seus dentes, mas me segurei tentando ser uma pessoa civilizada.
- Mas essa é a minha pizza! - eu gritei e ele apenas deu de ombros.
-;Você pode pedir outra, mas... - ele olhou para o relógio. - Acho que pode demorar um pouco.
Fiquei o encarando, com raiva e segurando forte o batente da porta.
Rafael estava lindo, parecia que quanto mais o tempo passava, mais bonito ele ficava. Os seus cabelos estavam meio bagunçados, ele vestia uma camisa cinza de manga longa que valorizava seu corpo, uma calça moletom preta e um tênis caríssimo. Seu rosto ficava cada vez mais assimétrico, a pele bronzeada, os lábios agora rosados, as sobrancelhas levemente franzidas demonstrando sua ansiedade e os olhos sempre tão... indecifráveis? Às vezes eu não conseguia entendê-lo, mas depois de todo esse tempo, era mesmo difícil entendê-lo através de seus olhos.
Suspirei e fechei meus olhos não acreditando no que eu iria dizer a seguir:
- Tá, você pode comer comigo, mas sem... - franzi as sobrancelhas irritada. - Essas idiotices que você faz "querendo me conquistar". - fiz aspas com os dedos.
Me repreendi mentalmente quando algo vibrou ao ver o sorriso feliz em seu rosto. Eu sabia que me arrependeria amargamente depois, me arrependeria demais, mas no momento tudo aponta para ele, meu coração me faz fazer merdas tão grandes que eu nem discuto mais. Aprender a lidar com a culpa é algo que eu venho trabalhando.
- O que você tem aí? - perguntei casualmente enquanto fechava a porta.
- Nada demais... - Rafael virou a sacola e deixou que caísse uma porrada de doce no balcão. - Só alguns chocolates.
Franzi as sobrancelhas na sua direção.
- Por que caralhos você tem esse tanto de chocolate?
Rafael sorriu e eu conhecia aquele sorriso.
- Eu sabia que você ama chocolate, então enchi a minha geladeira com tudo isso na esperança de um dia você comê-los comigo.
Senti o meu estômago revirar, engoli o seco e desviei os meus olhos torcendo para que ele não visse a confusão que causava em mim.
- Tanto faz, eu mudei a minha dieta a muito tempo.
Pude perceber a decepção de Rafael, mas tentei não ligar.
- O que você está assistindo?
Fiz uma careta quando Rafael, todo folgado, se sentou no meu sofá colocando a caixa de pizza em cima da mesinha de centro e pegando uma fatia.
- SkyRojo. - respondi me sentando ao seu lado a uma distância segura. - Uma série com prostitutas e homens filhos da puta.
Rafael riu e se aconchegou mais no sofá.
- É sério isso? - o olhei como se fosse óbvio. - Tá bom. - ele ergueu as mãos em rendição e eu revirei meus olhos.
- Cala a boca e fica quieto.
Rafael sorriu me olhando com um brilho estranho nos lábios e eu me segurei para não olhá-lo porque eu sabia que ele estaria me olhando também. Porém, depois de um tempo, ficou quase sufocante seu olhar sobre mim e eu o olhei de relance com raiva.
- Pensei que o entretenimento estivesse ali. - apontei para a tv.
- Você é muito mais interessante de assistir.
Idiota.
- Eu não disse: "sem idiotices"? - perguntei ainda irritada.
- Foi você quem perguntou, eu só disse a verdade. - grunhi irritada de seu jeito sonso.
Joguei uma almofada na sua cara e ele riu. Rafael pegou outra almofada e jogou na minha direção, o olhei desacreditada e comecei a atacá-lo e ele a revidar. No fim, acabamos em uma briga sem fim, eu estava levando a sério, até que começamos a esbarrar nas coisas e rir disso.
Dei uma bofetada com a almofada em seu rosto e ele acabou caindo com o impacto, mas o filho da puta segurou minha mão e me puxou junto. Senti o meu joelho bater contra o chão e gemi com dor.
- Você está bem? - ele perguntou ainda risonho, mas parecia realmente preocupado.
- Estou, estou, eu não sou molenga assim Parker.
Rafael riu, mas logo percebemos a posição constrangedora em que estávamos. Eu estava deitada em cima dele, com as pernas entrelaçadas umas nas outras, nossos rostos estavam a centímetros um do outro e eu podia sentir seu hálito quente em meu rosto. O seu cheiro forte e amadeirado invadiu meus sentidos e eu fechei meus olhos apreciando ainda mais a fragrância.
Abri novamente meus olhos quando a mão de Rafael subiu até a minha cintura e a outra colocou uma mecha solta do meu cabelo atrás da minha orelha. Ele engoliu o seco e seus olhos estavam fixos em meus lábios, e, quando ele lambeu os seus lábios cobertos de desejos, me senti tentada também.
E, como sempre, sem pensar, eu acabei com a distância entre nós dois e colei nossos lábios. Minha mente implorava para que eu me afastasse, mas, naquele momento, tudo que eu conseguia pensar era o que eu estava sentindo. As mãos de Rafael passeando por meu corpo com cuidado, seus lábios levemente ressecados grudados nos meus, seu cheiro nos rodeando, o gosto da sua boca com gosto de bala de menta. E tudo parecia se encaixar.
Mas aí memórias foram desbloqueadas, toda a dor invadiu a minha mente e de repente, eu estava a dois anos atrás, com o coração despedaçado e tudo isso porque, mais uma vez, Rafael tinha me deixado, e se eu o deixasse entrar, ele faria a mesma coisa, como em um looping infernal, e eu jamais permitiria isso de novo.
Me afastei dele abruptamente e me levantei, Rafael se levantou em seguida, sua feição entregando que ele já sabia o que estava acontecendo. Penteei meus cabelos e fechei meus olhos, como se isso fosse apagar toda a dor ou me fazer esquecer de quanto eu havia gostado daquele beijo.
- Vai embora. - mandei sem olhar em seus olhos.
- Nat...
- Vai embora. - mandei, dessa vez olhando em seus olhos cobertos de dor.
Parece ter funcionado, pois ele abaixou seus olhos e apertou os lábios. Mas, antes de sair, ele me olhou uma última vez e cheio de intensidade e verdade, disse:
- Eu não vou desistir de você Nat.
Ele fechou a porta atrás de si e eu abracei o meu corpo.
Eu queria acreditar em você, mas eu não consigo mais...
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Fear and Love
RomanceNatália Jones sempre teve muitos problemas durante a sua vida, mas nada poderia derrubá-la. Tendo a coragem como sua proteção e não tendo medo de viver a vida do modo mais intenso, ela acaba conhecendo Rafael, um garoto até então desconhecido, mas q...