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24 de Dezembro

Nat? - Nathan perguntou assim que viu Natália entrar em casa. - Onde você estava? - ele perguntou e ela engoliu o seco.

Natália não estava muito lúcida, mas ela sabia que diante de seu irmão teria que se comportar como se estivesse, mesmo que o cheiro de bebida, vômito e maconha esteja muito presente.

- Eu estava no mercado. - ela disse a primeira coisa que veio a sua mente.

- E onde estão as compras? - Nathan perguntou desconfiado e a garota olhou para as suas mãos.

- Esqueci o dinheiro. - ela mentiu e sorriu amarelo.

- Você estava aonde a mamãe sempre vai, não é? - ele perguntou decepcionado e Natália abaixou o olhar.

Ela se sentiu suja, hipócrita, culpada, sempre criticava os atos da mãe, mas cometeu seus mesmos erros, ela molhou os lábios e encarou todos os lados, menos os olhos machucados do seu irmão, a decepção dele era a pior das consequências, ela não queria que ele fosse que nem ela, que ele sofresse o tanto que ela sofre todos os dias por causa da mãe deles.

- Estava. - ela confessou encarando suas mãos.

- Eu vou para o meu quarto. - ele respondeu e se trancou no quarto.

Essa cena se repetiu em sua cabeça várias e várias vezes, e no fim, ela acabou encostada na parede chorando destruída. Ela ficou olhando para a porta do quarto do irmão e chorou por horas até adormecer.

Ao amanhecer, Rafael estava assistindo tv, sem conseguir pensar em nada, ele olhava para as pessoas felizes da tv e só conseguia lembrar do sorriso da ruiva que havia conquistado seu coração, ele passou horas pensando como poderia reconquistar Natália, mas não sabia como fazer isso.

- Você vai ficar o dia todo aí, assistindo essa série idiota? - Alexandre perguntou e Rafael apenas o ignorou. - Eu sei que eu errei, peço desculpas por isso, eu deveria ter confiado em você, mas seu pai...

- Ele te manipulou, eu sei, ele sempre faz isso com todo mundo. - Rafael completou e suspirou cansado.

- Mas ele te ama, Rafael, ele só não sabe como ser um pai. - Alexandre se sentou ao lado do adolescente.

- Agora isso não importa. - Rafael disse amargo e o silêncio se pôs na sala do pequeno apartamento luxuoso.

- Talvez eu possa te ajudar com a sua garota. 

- Por que você faria isso?

- Porque eu quero me desculpar e eu confio em você. - Alexandre respondeu e Rafael ficou alguns segundos pensativo.

- Certo, mas o que eu poderia fazer para que ela acredite em mim? Ela não parece muito disposta a isso.

- Eu não tive muitos relacionamentos, na verdade foram muito poucos, mas em todos eles, falar a verdade foi o que sempre funcionou, encare ela e diga a verdade, mesmo que ela não queira escutar, faça-a escutar. - Alexandre aconselhou.

Seguindo o conselho de Alexandre, Rafael foi onde ele sabia que Natália estaria, na feira da cidade, era onde ela sempre passeava com irmão, pois ele dizia que em apenas um dia não daria para conhecer tudo que havia ali, mas na verdade, era apenas uma desculpa para passar mais tempo com a irmã.

Rafael encontrou o pequeno ruivo que tentava alcançar o sino na frente do poço de enfeite natalino, então levantou o garoto que tocou o sino e sorriu para o moreno.

- Rafael. - Nathan exclamou e em seguida o abraçou.

- Oi garoto, sabe onde está a sua irmã? - ele perguntou e Nathan franziu as sobrancelhas.

- Ela está chateada. - Nathan disse olhando para a ruiva que encarava os dois de longe.

- Ela te contou?

- Não, ela fez o que sempre faz quando está chateada, agiu que nem a mamãe. - Nathan respondeu e aquilo partiu o coração de Rafael.

Rafael sabia o quanto aquilo destruía Natália, agir como a mãe que ela tanto desgostava, fazia ela odiar a si mesma, ela não precisava dizer para ele, ele simplesmente sabia, por conhecê-la o bastante para reconhecer seus sentimentos.

- Eu vou consertar tudo isso, eu prometo. - prometeu Rafael olhando bem nos olhos entristecidos de Nathan.

Nathan apenas assentiu e Rafael bagunçou seu cabelo antes de correr atrás de Natália, e a garota, assim que percebeu, começou a correr do garoto.

- Natália!

- Não, não, não. 

- Natália!

- Não... - ela foi interrompida pelo garoto que se pôs a sua frente.

Ela estava distraída demais para notar que ele havia dado a volta e sendo mais esperto, parando a sua frente e fazendo-lhe cruzar os braços e evitar olhar em seus olhos.

- Precisamos conversar. - ele disse e ela riu debochada.

- Você precisa, eu só quero que você vá embora mesmo. - ela o cortou e deu as costas para ele, mas antes que ela se afastasse, ele a virou fazendo ela o encarar contra a vontade.

- Eu não vou deixar você ir sem me escutar. 

- Então vai, tenta me convencer, vamos ver se você consegue. - ela debochou e se sentou no banco.

- Nat, eu... eu estou apaixonado, eu gosto de você, de verdade. - ele abriu o coração e ela o olhou bem fundo.

- Papo furado. - ela respondeu simples e ele suspirou.

- Eu prometi a mim mesmo que iria parar de me envolver com aquele ciclo de garotas, mas eu encontrei você, a ruiva que sempre viveu na detenção, eu comecei a te notar e aquela carta, eu vi a oportunidade de me declarar para você, sabia que o ano iria acabar e que tudo iria ficar apenas naquele papel, então eu vi você, tão linda e confusa, e eu não aguentei, tinha que ir lá e conversar com você, eu não poderia parar a mim mesmo, e aquela foi a melhor escolha que eu fiz, você foi a minha melhor escolha.

Ela estava a um passo de perdoá-lo por ter feito o que fez, de dizer que os dois poderiam ficar juntos até que o último pôr do sol fosse, até que uma garota surgiu.

- Rafael? - ela perguntou com a cabeça erguida e logo Natália a reconheceu.

Com os cabelos ruivos encaracolados, os olhos castanhos arredondados, as roupas rebeldes e a cara de idiota, ela sabia quem era aquela garota.

Fear and LoveOnde histórias criam vida. Descubra agora