5 • A mudança

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Não havia muitos outros passageiros naquele ônibus, o que era bom, já que assim ninguém reclamaria de Akaashi ter ocupado o assento ao lado com suas coisas ao invés de colocá-las no maleiro do veículo. Mas ele tinha um motivo para não ter colocado suas coisas junto das dos outros.

Quando foi comprar a passagem, o destino final não importava, somente a duração da viagem, quanto mais demorada, mais longe, mais lugares para se perder. E esse era esse o seu objetivo, não o ponto final.

Já tinham feito duas paradas durante as quatro horas de viagem e agora seria a terceira, Akaashi pensou que seria uma boa hora para descer.

Ele estava com muito sono por conta do dia exaustivo e a gravidez também tinha um peso nisso, mas as diversas noites que teve de passar em claro para terminar trabalhos durante os anos de faculdade o tinham preparado para situações assim.

O motorista estacionou o ônibus e alguns dos passageiros que estavam acordados começaram a se levantar. Akaashi colocou a mochila nas costas, pendurou a mala no ombro e, com um pouco de dificuldade para andar no corredor estreito, conseguiu sair do veículo.

Grande parte do céu ainda era azul escuro, mas começava a clarear perto da linha do horizonte, indicando o início de um novo dia. A fria brisa da manhã gelava os dedos e as orelhas, mesmo assim, Akaashi abaixou a máscara e respirou fundo aquele ar fresco de cidades interioranas.

Olhando ao redor, percebeu que a alguns metros do estacionamento tinha uma singela mercearia onde os outros passageiros estavam indo.

Ao entrar, encontrou por volta de uns seis corredores com prateleiras que sim até a altura dos olhos e cheias dos mais variados produtos, mesmo que em sua grande maioria fossem comidas e souvenirs.

Ele dirigiu-se até o caixa, onde encontrou uma mulher com olhos brilhantes por ver seu estabelecimento tão movimentado.

— Olá — começou, chamando a atenção dela —, posso usar o banheiro?

— É claro, meu bem. Aqui estão as chaves.

Embora tivesse dito no plural, ela lhe estendeu apenas uma que acompanhava uma etiqueta azul e branca com o escrito "banheiro".

Akaashi dirigiu-se para o local e com uma rápida olhada, reparou em como o cômodo era limpo e arrumado, algo que ele não esperava de uma mercearia em uma parada de ônibus. Já havia ido em restaurantes em que os banheiros eram deploráveis, então aquela era uma surpresa boa.

Ele não podia negar que estava apertado depois de quatro horas de viagem, mas sua principal intenção era apenas fazer com que o tempo passasse e o ônibus fosse embora sem que ninguém percebesse sua ausência.

Deu algumas voltas no quarto, contou os azulejos do chão e encarou-se no espelho por algum tempo. Olheiras começavam a ficar aparentes e espinhas indesejadas também apareciam.

Quanto tempo tinha se passado? Vinte minutos? Talvez fosse. Akaashi reuniu suas coisas novamente e saiu do banheiro, trancou a porta e voltou para o caixa.

A loja agora estava mais vazia, as pessoas ali possivelmente eram empregados ou moradores da cidade. A mulher no caixa agora estava concentrada lendo algo em uma revista.

— Aqui está a chave, desculpe ter demorado.

Ela parecia ter levado um pequeno susto com a presença repentina de Akaashi e rapidamente colocou a revista de lado.

— Meu bem, você ainda está aqui?! Seu ônibus acabou de sair! Se chamarmos um táxi, você ainda pode alcançar ele — disse afobada e começou a procurar por um telefone embaixo do balcão.

Refúgio - BokuAkaOnde histórias criam vida. Descubra agora