9 • O movimento

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Havia um espelho em uma das paredes do quarto. Em algum momento, enquanto Akaashi ia de um lado para o outro, arrumando algumas coisas no cômodo, percebeu pelo canto do olho seu reflexo e parou.

Deixou no chão o que estava segurando e se aproximou lentamente do objeto, como se estivesse com receio de si mesmo.

Nunca tinha se importado muito com sua aparência, passava longe de ser alguém superficial, narcisista ou qualquer coisa do tipo. Mas agora notava o quão melhor aparentava estar simplesmente pelas olheiras, acumuladas durante os anos de faculdade, estarem mais suaves.

Abaixou levemente o olhar, parando na região da barriga e virou-se alguns centímetros para o lado. Agora, no início dos cinco meses, a maioria de suas roupas não eram mais capazes de esconder a gravidez.

De alguma forma - mesmo com todos os problemas e desventuras que já haviam acontecido -, Akaashi às vezes esquecia do que estava acontecendo, mas bastava uma simples olhada no espelho que tudo se reafirmava.

Bastante relutante, ele começou a levar a mão na direção de sua barriga, mas um sussurro o fez parar e cerrar o punho. Não tem necessidade. Sendo assim, ele voltou para sua arrumação tão rápido quanto ela tinha sido interrompida antes.

Olhando no relógio, Akaashi sabia que não demoraria muito até que Bokuto aparecesse para jantar e, realmente, cinco minutos depois, batidas à porta anunciavam sua chegada.

Tudo aquilo começou em um dia que Akaashi estava desejando comer onigiri, depois de ligar para o mercado e pedir os ingredientes, Bokuto apareceu para a entrega e ficou muito animado com o fato de Akaashi saber cozinhar, tanto que pediu para que lhe ensinasse, pois sua mãe não tinha a menor paciência e odiava que mexessem em suas coisas. Depois disso, eles não combinaram mais nada, mas sempre que se despediam com um simples "até" estava implícito que seria para mais um jantar.

- Hoje eu vi um comercial onde as pessoas estavam comendo yakisoba e fiquei com vontade - Akaashi tinha acabado de abrir a porta, porém mais parecia ter aberto uma torneira -, aí olhei na internet e não parecia muito difícil de fazer, então perguntei pra minha mãe os ingredientes e comprei eles. Você acha que dá pra fazer?

Ele estendeu uma das sacolas que segurava e Akaashi pôde ver uma linda variedade de legumes.

- Claro - respondeu calmo -, entre.

Bokuto deixou seus sapatos ao lado da porta e entrou prestando mais atenção no conteúdo das sacolas que carregava do que para onde estava indo, o que lhe acarretou uma batida contra a quina de uma parede.

- Você está bem? - Akaashi perguntou preocupado, analisando atentamente o rosto de Bokuto à procura de qualquer corte ou possível hematoma.

- Estou sim - ele respondeu de uma forma distorcida por ter sua face apertada em vários locais. - Eu sou forte, lembra?

- Sim, lembro - Akaashi parou a inspeção e voltou as mãos para junto do corpo. - "Um pouco mais alto, um tanto mais forte e lá embaixo é um pouco maior" - murmurou.

- Isso mesmo, olha.

- Não! - O instinto de Akaashi foi rapidamente tapar os olhos com as mãos e se virar, tinha certeza que seu rosto estava vermelho.

Enquanto Akaashi achava inacreditável que ele pudesse realmente ter sugerido algo assim, Bokuto ficou confuso com aquela reação exagerada vinda de Akaashi por conta de algo tão trivial.

- Você não gosta de pés?

- O quê? - Abaixou um pouco as mãos, encontrando os olhos confusos de Bokuto.

Refúgio - BokuAkaOnde histórias criam vida. Descubra agora