7 • O burburinho

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Seria algo bastante surpreendente e incomum, mas caso alguém passasse em frente ao antigo chalé do sr. Mizaki, ficaria impressionado com sua mudança.

Akaashi tinha feito um esplêndido trabalho com a limpeza do local durante as últimas duas semanas. Depois do leve acidente na escada, Bokuto aparecia sempre que podia e o ajudava com algumas coisas.

Não havia mais nenhuma vinha se alastrando pelas paredes externas, as janelas estavam limpas, tornando-se agora possível enxergar através delas, o gramado selvagem e em excesso na frente da casa tinha sido arrumado... o local parecia ter voltado a se encher de vida.

Agora, Akaashi se encontrava deitado no sofá, tinha um livro sobre o peito, e encarava o teto pensando no que poderia comer.

Bokuto ainda não o havia visitado naquele dia e já fazia algum tempo que ele não trazia mais nenhuma cesta de boas-vindas cheia de quitutes. Era óbvio que Akaashi não estava interessado somente nos presentes. Ele estava começando a apreciar a presença do rapaz, ter alguém para conversar — mesmo que a conversa partisse quase que inteiramente de Bokuto com seus monólogos — era algo bom. Akaashi achava curiosa a forma como ele facilmente conseguia fluir por assuntos e misturá-los mesmo que não tivessem relação aparente. Mas também não tinha como negar que ganhar comida era ótimo.

Akaashi sentou-se e deixou o livro sobre a mesa de centro, esticou as pernas e os braços tentando expulsar o desânimo. Levantou-se tendo como objetivo chegar ao quarto, ignorou a cozinha porque sabia que nada ali seria de seu agrado. No cômodo desejado, pegou um pouco do dinheiro que tinha guardado e colocou no bolso, encaminhou-se novamente para a sala.

Sabia que logo mais teria de conseguir um emprego já que agora pretendia construir uma vida ali. O dinheiro que tinha retirado do banco facilmente o sustentaria por meses, mas a consciência de Akaashi não permitiria. Aquele dinheiro deveria ser usado para garantir o bem-estar de seu filho no futuro, nada tiraria isso de sua cabeça.

Ao lado da porta de entrada, havia uma cadeira que fazia às vezes de um cabideiro. Akaashi vestiu o moletom que estava ali — agora qualquer roupa minimamente apertada já lhe causava incômodo — e, depois de calçar seus sapatos, saiu trancando a porta.

Pegou a trilha pela qual viu Bokuto voltar para a cidade diversas vezes enquanto murmurava melodias e observava os arredores como se fosse a primeira vez que passava por ali.

Essa era a primeira vez que Akaashi de fato iria à cidade. De uma forma ou de outra, sem nem mesmo notar, tinha ficado todo esse tempo recolhido no chalé, ocupado em torná-lo habitável. Bokuto também tinha contribuído para que ele não precisasse sair, sempre levava as coisas que ele havia pedido e mais algumas que ele talvez pudesse gostar.

Durante sua caminhada, Akaashi constatou que, de fato, a cidade era bastante pacata. Poucas pessoas andavam pelas calçadas, carros eram praticamente inexistentes nas ruas e não parecia haver muitos estabelecimentos comerciais. Pelo que havia pescado em um dos inúmeros falatórios de Bokuto, haviam diversas fazendas nos arredores e, no começo, o vilarejo tinha somente um posto de saúde e um policial, uma escola e algumas vendas. Mas com o tempo algumas pessoas vinham, gostavam da calmaria e resolviam ficar.

A alguns metros a frente, Akaashi avistou um supermercado com o mesmo nome da pequena mercearia da mãe de Bokuto. Ao entrar, encontrou a mulher contando alguns produtos em uma prateleira e fazendo anotações em uma prancheta. Quando ela se virou na intenção de ir checar outro corredor, viu Akaashi e o que quer que fosse fazer não importava mais no momento.

— Menino — ela abriu os braços e também um enorme sorriso. Como o bom observador que era, Akaashi percebeu nela a mesma empolgação de Bokuto. — Quanto tempo! Como tem passado?

Refúgio - BokuAkaOnde histórias criam vida. Descubra agora