18 • A rotina

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Agora, quando acordava, as primeiras coisas que Bokuto via não eram as pesadas cortinas em frente à sua janela que bloqueavam a claridade, ou as paredes escuras de seu quarto com vários posters de atletas e times famosos de vôlei espalhados por elas.

Para começar, seus olhos eram forçados a serem abertos por conta dos raios de sol que invadiam o cômodo. As paredes eram lisas, apenas madeira indo do chão até o teto. Mas nada disso importava, pois ao olhar para o lado, ele se deparava com seu mundo.

Mesmo com a luz forte, Akaashi ainda aparentava aproveitar um sono profundo e sua expressão serena comprovava isso. Entre eles, estava Hoshi vestindo seu folgado macacão de tricô azul esverdeado que os permitia perceber a respiração calma do menino durante o sono.

Aquela ser a primeira coisa que via no dia já tornava tudo perfeito, mas notar o singelo gesto da pequena mão de Hoshi estar segurando forte um dos dedos de Akaashi quase o fazia chorar.

Depois de uma semana um pouco conturbada após a liberação de Akaashi e Hoshi do hospital, um acordo não verbal tinha sido feito de que era mais prático que Bokuto passasse a ficar no chalé por mais tempo. Ele não morava ali oficialmente, embora tivessem várias roupas suas no armário, alguns de seus pertences espalhados pela casa, uma escova exclusivamente dele no banheiro e ele dormisse ali praticamente todos os dias.

Ruídos baixos foram o que fizeram Akaashi acordar e, ao abrir lentamente os olhos, ele viu Bokuto com um semblante meio choroso enquanto se apressava para limpar rapidamente algumas lágrimas.

— Ei — Akaashi soltou cuidadosamente a mão do filho e a levou até o rosto de Bokuto —, o que foi?

— Nada... — ele fungou o nariz e colocou sua mão por cima da de Akaashi, fazendo um leve carinho com o polegar nas costas dela. — Eu só... só...

Seu olhar ia do menino para ele diversas vezes enquanto Akaashi sabia do turbilhão de sentimentos dentro dele que causavam um fenômeno raro: deixá-lo sem palavras. Era assim todas as manhãs e Akaashi não podia sonhar com nada melhor.

— Eu sei — ele sussurrou e Bokuto pareceu ficar mais aliviado. Akaashi se apoiou em seu cotovelo e se inclinou para dar um beijo suave na testa de Bokuto. — Bom dia, meu bem.

— Bom dia, meu mundo.

Ambos sabiam que apelidos carinhosos os deixavam envergonhados e seus rostos completamente vermelhos, então, sempre que um se referia ao outro assim, os apelidos eram devolvidos e eles acabavam deixando tímidas risadas escaparem.

Com os movimentos do colchão ao seu redor, Hoshi também acabou acordando e, murmurando alguma coisa, chamou a atenção dos pais.

— Bom dia, meu Hoshi — falou Akaashi, tocando de leve a ponta do nariz do filho.

— E aí, amigão? — Disse Bokuto, também se apoiando em seus cotovelos e enfiando o nariz entre o pescoço e ombro do menino, arrancando algumas gargalhadas dele.

— Dormiu bem, filho? — Akaashi perguntou.

— Com o que você sonhou? Conta para mim — Bokuto aproximou a orelha da boca dele e concordou diversas vezes antes de arregalar os olhos e dizer: — Dragões?! E você estava voando neles?! Que demais!

O sorriso banguela de Hoshi se alargou ainda mais. Todas as manhãs eram uma festa de risadas e demonstrações de afeto. Akaashi sempre ficava hipnotizado com o carinho tão genuíno que Bokuto e Hoshi tinham um pelo outro.

— Desculpe interromper a conversa de vocês — Akaashi sentou-se na cama com as pernas cruzadas e segurou Hoshi apoiado contra seu peito —, mas não acha melhor ir tomar um banho agora? Você pode acabar se atrasando para o trabalho.

Refúgio - BokuAkaOnde histórias criam vida. Descubra agora