Refúgio - BokuAka

15 • À noite

— Tem certeza que não quer deixar para outro dia? — Bokuto perguntou pela décima vez. — Está frio... claro, é inverno — ele deu um leve tapa em sua testa —, e você ficou resfriado há pouco mais de uma semana.

— Está tudo bem — Akaashi o tranquilizou pela décima vez. — Eu já estou completamente recuperado e, para prevenir, tomei um chá bem quente faz poucos minutos e também coloquei o máximo de roupas que consegui.

— Certo... — sua confirmação não mostrava muita certeza, mas ele acabou sorrindo ao notar como os braços de Akaashi ficavam um pouco afastados dos lados do corpo por conta do volume de roupas.

— Vamos, então?

Bokuto assentiu e ambos saíram do chalé, pegando o caminho contrário ao que ia para a cidade, passando por trás do chalé.

Na noite anterior, Bokuto tinha ido fazer uma de suas costumeiras visitas a Akaashi e acabou comentando sobre algo que Kuroo havia lhe contado: um cometa, o qual Bokuto não recordava o nome, passaria por volta das sete e meia da próxima noite. Akaashi viu o quanto Bokuto parecia animado com aquele acontecimento e sugeriu que eles fossem assistir.

Agora estavam ali, caminhando por entre as árvores enquanto o vento gelado fazia a ponta de seus narizes e maçãs do rosto ficarem vermelhas. Dava para sentir também o mesmo vento desarrumando os poucos fios de cabelo que ficavam para fora das toucas e esbarrando em suas roupas, sem levar embora o calor.

A noite estava quieta, somente o som de algumas cigarras cantando ao fundo, eles caminhando e, claro, Bokuto.

— Sabe sobre o que meus alunos vieram me perguntar outro dia?

— O quê? — Akaashi perguntou, sem desviar os olhos da estrada à sua frente.

— Sobre a ligação.

— Interessante — comentou Akaashi, virando-se para ele, curioso sobre o desenrolar da história. — Como surgiu esse assunto?

— Bom, disseram que o professor de biologia tinha falado apenas por alto sobre isso e eles resolveram vir me perguntar, já que dos dois alfas, e um ômega, habitantes desta cidade, eu sou o único com quem têm intimidade. Mas acho que no fim eles ficaram bem decepcionados.

— Por quê?

— Quando me perguntaram, percebi que também não sei praticamente nada sobre o assunto — seu tom ficou meio abatido e sua expressão parecia um pouco frustrada. — Me lembro de já ter procurado a respeito alguma vez na internet, quando era adolescente, acho, mas por ser algo tão raro de acontecer, só encontrei as definições e vários comentários maldosos dizendo que era tudo invenção.

Ao encarar Akaashi, sua postura abatida foi embora tão rápido quanto veio. Era fascinante a facilidade que ele tinha para mudar de humor.

— Você acredita que é real? Ou sabe alguma coisa? — Perguntou, colocando as mãos fundo nos bolsos do moletom.

Akaashi voltou a encarar a estrada, pensativo. O que sabia sobre a ligação? Acontecia somente entre alfas e ômegas, não importando se era entre dois alfas ou dois ômegas. Também sabia que não era uma escolha, simplesmente acontecia em um momento extremamente significativo para o casal. Mas, tirando isso, ele não fazia ideia do que estar ligado a alguém significava ou o que poderia trazer para a vida de ambos.

— Mesmo que muito pouco, existem relatos de pessoas que se ligaram — Akaashi ponderou. — Eu li os que consegui encontrar e eles costumam dizer que é um sentimento inexplicável. Em alguns documentários que vi, a maneira com que os entrevistados se olhavam era tão... diferente, que, sim, eu acho que pode ser real.