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Minhas vistas estão cansadas.

Tenho me sentido assim nos últimos dias. As pontas dos meus dedos doem conforme continuo digitando linhas de código no teclado.

Trabalhar em home office tem suas vantagens: posso acender quantos cigarros quiser, sem ter que descer alguns lances de escada para fumar no lado de fora, posso trabalhar com qualquer roupa que eu quiser ㅡ o que na maioria das vezes é uma bermuda velha, ou simplesmente cueca ㅡ e, posso dar algumas cochiladas durante o dia, contando que entregue o meu trabalho bem feito.

Mas, a desvantagem é apenas uma: eu acabo trabalhando mais do que eu trabalharia se estivesse presencialmente na empresa. Lá pelo menos eu tenho um horário certo para encerrar as atividades. Trabalhando em casa, já não consigo contar quantas vezes virei a noite buscando erros.

Sou programador.

Trabalho para uma empresa que terceiriza os serviços para um banco digital, e apesar de nunca ter pisado os pés no banco, eu conheço todos os sistemas que ele utiliza, afinal, a maioria deles passam por mim. Escolhi essa profissão, quando com 14 anos hackeava as contas dos meus amigos por pura diversão. Fazia isso com tanta facilidade que soube naquele instante que eu era bom nisso. Me formei e hoje consigo ter uma estabilidade financeira trabalhando com o que eu gosto.

Conheci James na metade da faculdade. Ele cursou marketing e apesar de nossos cursos não serem nem um pouco parecidos, os nossos gostos eram. Nós nos encontrávamos quase todas as noites na lanchonete, quando pedíamos um café enquanto os outros universitários se entupiam de refrigerante. Éramos viciados em cafeína e isso acabou sendo um assunto que começamos a comentar conforme ficávamos mais próximos.

As conversas se tornaram um encontro, do encontro nos aproximamos, ao nos aproximar acabamos nos apaixonando e no final do ano passado decidimos dividir um apartamento. James e eu não temos família em Londres, nos mudamos para estudar, e meu plano era voltar para Doncaster quando me formasse. Mas no momento em que peguei o meu diploma eu soube que meu lugar era aqui. As oportunidades eram infinitamente maiores, e eu já estava acostumado com a rotina que eu havia criado. James também decidiu ficar, e achamos que seria mais oportuno diminuir as despesas morando juntos, afinal, nos dávamos bem e era um passo inevitável que precisaríamos tomar uma hora ou outra no nosso relacionamento.

ㅡ Ele respondeu. ㅡ Ouço a porta do nosso apartamento se abrir, e percebo que já são oito da noite. James se aproxima da minha mesa improvisada na sala, e cola os lábios nos meus rapidamente, antes de me olhar sorrindo.

ㅡ Ele quem? ㅡ Pergunto franzido as sobrancelhas em confusão.

James rola os olhos divertido, jogando a bolsa de couro que ele carrega em seus ombros sobre o sofá. Ele inclina levemente a cabeça para o lado e coloca as mãos na cintura como se me achasse um idiota. 

ㅡ Harry. ㅡ Ele diz como se fosse óbvio, mesmo com a confusão provavelmente ainda estar dançando em meu semblante já que James ergue uma sobrancelha sugestido. ㅡ O homem do aplicativo, Louis.

Assim que as palavras escapolem da sua boca, eu engulo em seco, sentindo um calafrio percorrer a minha espinha. 

Já haviam se passado dois dias desde que tivemos a conversa, e imaginei que James tivesse esquecido dessa história, mas pelo visto, não esqueceu. 

ㅡ Quis esperar chegar em casa para respondermos ele juntos. ㅡ James diz animado e eu giro a minha cadeira para encará-lo. 

ㅡ Agora? 

ㅡ Sim, agora. Vem, amor. ㅡ James me chama, se sentando no sofá. ㅡ Temos que mostrar a ele que temos interesse. 

Desligo as telas dos dois notebooks em minha frente, e me levanto sem nenhuma vontade, me sentando ao lado dele no sofá.

Backfire [L.S]Onde histórias criam vida. Descubra agora