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A neve cai sobre nós quando ele se aproxima do meu corpo, ficando alguns passos a distância de mim. Seus olhos verdes parecem ainda mais claros mesmo na escuridão. Meu corpo inteiro está em alerta, minha respiração ofegante, meu coração acelerado no peito, minhas mãos tremem. Eu não sei bem o que esperar dele, então, eu só espero…

Ele solta um suspiro longo antes de me encarar.

ㅡ Eu tinha quatorze anos quando gostei de uma pessoa, Louis. ㅡ Sua voz é baixa e embargada e eu preciso fazer um esforço para ouvi-lo com clareza. ㅡ  Estudávamos na mesma escola e trocavámos bilhetinhos no intervalo. Ele tinha dezessete anos e estava no último ano da escola. Não sei ao certo se era paixão, mas eu gostava dele a ponto das minhas bochechas ficarem vermelhas quando o via. Ele dizia que gostava do meu sorriso… eu acreditei e comecei a sorrir mais.

Ele se engasga, negando com a cabeça como se aquilo trouxesse alguma lembrança muito viva em sua memória. Não digo nada, apenas permaneço encarando o seu rosto quando ele abaixa a cabeça. Vejo as lágrimas começarem a pingar no chão, se misturando aos flocos de neve que caem em sincronia com seu choro ㅡ calado, porém intenso.

ㅡ Na hora do lanche sentávamos juntos, e sua mão sempre esbarrava na minha, me causando borboletas. Eu sabia que ele era gay, já que ele não fazia questão nenhuma de esconder isso, e até aceitava ser cauteloso por saber que a minha família era muito religiosa. ㅡ Ele funga, e brinca com os dedos, enquanto permaneço olhando para os seus cílios molhados que piscam lentamente. ㅡ  Nosso primeiro beijo foi no muro atrás da escola e eu lembro que não sabia ao certo o que fazer com a boca, com a língua ou com a mão, mas ele parecia interessado em me explicar. Ele me pediu em namoro no mesmo dia e meus olhos brilharam. Eu finalmente tinha um relacionamento com alguém que eu gostava.

Ele solta uma respiração pesada, e não procura meus olhos, mesmo eu estando com o olhar fixo nele. Algumas pessoas passam por nós na calçada, mas parecem não nos notarem.

ㅡ Foram quatro meses de beijos escondidos, olhares roubados e toques sutis, até ele me convencer a me entregar a ele. ㅡ Ele nega com a cabeça e soluça. ㅡ Eu não sabia bem se queria, mas ele me disse que era uma prova de amor que estaríamos selando no nosso namoro… e eu, por ingenuidade, concordei.

ㅡ Harry… ㅡ Toco a sua mão, e seus dedos gelados encontram com os meus, no frio de um início de um inverno torturante. ㅡ Você não precisa continuar se não quiser. Você não precisa me contar. Sei que você tem os seus motivos para agir assim...

ㅡ Eu quero te contar, Louis. Eu preciso contar isso pra alguém. ㅡ Ele me encara, e percebo suas bochechas rosadas sendo banhadas por lágrimas que não param de cair.

Seu olhar não é mais o olhar brilhante do exuberante Harry Styles. Seu olhar é um rio perdido, tentando buscar um mar para se desaguar.

Eu apenas engulo em seco e assinto.

ㅡ Dizer que foi péssimo é eufemismo. Eu nunca tinha me sentido tão mal até então. Ele não foi nada cuidadoso comigo, e foi mais bruto do que o necessário... e eu me lembro que mesmo me fazendo sangrar, ele continuou. Eu não disse uma só palavra, afinal, estávamos selando o nosso pacto de amor. ㅡ Ele pausa. ㅡ Eu só pedia para aquilo acabar o mais rápido possível para que eu pudesse ir para a casa. Quando ele terminou, ele me disse que eu precisava melhorar muito na cama. Eu era virgem, estava sendo abusado e ainda precisava melhorar? ㅡ Ele dá de ombros, chorando. ㅡ Pois é, era o que ele achava.

Engulo em seco observando ele limpar as lágrimas, e não sei ao certo o que falar. Mas acho que agora a posição não é de falar, é de ouvir.

ㅡ Eu lembro de ir por todo caminho até a minha casa mancando e chorando até não restar mais lágrimas. Mas, havíamos feito um pacto e eu pensei que amor fosse aquilo. No outro dia na escola, ele não olhou na minha cara nem uma vez sequer, enquanto eu implorava por seu olhar. Quando vi ele conversando com um amigo, apontando para mim, e comentando algo, naquele momento eu soube que ele tinha me usado. Eu era ingênuo, mas não era bobo. Por mais que eu estivesse acabado, eu tentei esquecer, e comecei a passar mais tempo com as meninas, fazendo penteados e tranças nelas como forma de distração para o meu coração partido e pisoteado.

Backfire [L.S]Onde histórias criam vida. Descubra agora