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Fico parado olhando para a mesa que agora toma quase metade da minha pequena sala, e entendo que realmente faltava algo nesse apartamento.

Vejo o meu apartamento como um comparativo da minha vida.

Minha vida era como um apartamento vazio. Eu tinha coisas e em um determinado momento me vi sem nada. Quando me mudei para cá, nem um colchão eu tinha. Aos poucos fui mobiliando da maneira que me agradava. Comprei uma cama, um frigobar, um sofá, uma geladeira e agora uma mesa. Fora as outras coisas que eu trouxe quando me mudei.

Olho em volta e noto que agora finalmente parece um lar.

Penso nisso, como penso em minha vida. Eu quis tantas coisas durante tanto tempo. Eu quis tanto e tive tanto medo do que poderia acontecer. Eu quis reformular, mudar, transformar, mesmo com as incertezas que batiam em minha porta.

Mas eu mudei. Eu me reformei. Eu me refiz. E ainda tive o privilégio de encontrar um amor no meio da minha mudança.

É estranho pensar que é necessário uma tormenta para conhecer a pura e repleta paz. É necessário enfrentar a tempestade para desfrutar da calmaria.

Ainda sou o mesmo, mesmo tendo mudado tanto. Agradeço pelos baques da vida não terem me tirado tudo, mas por terem me dado aquilo que eu nem sabia que me faltava.

Eu só precisava de um pouco de coragem para finalmente alcançar o oasis. E eu estou nele agora, desfrutando de tudo que eu tenho direito e pedindo baixinho ao universo que nada disso termine.

Ligo o rádio baixinho e vou para a cozinha fazer um café enquanto Harry ainda está dormindo. Não quis acordá-lo porque sei que ele trabalha aos sábado e precisa descansar o máximo que consegue.

Fico divagando sobre o quanto me sinto inteiramente feliz como não me sentia há anos. Em como me sinto bem e completo. Em como minha vida só decolou de uns meses para cá.

Assim que passo o café, ouço "love grows" tocar baixinho e vou até a sala, começando a balançar o corpo conforme a música. Abro as cortinas e me empolgo. Faço alguns passos enquanto sopro a xícara de café em minha mão. Deslizo de um lado para o outro, balançando o corpo e cantando, porém, quando giro os pés e dou meia volta, dou de cara com Harry escorado na parede, me encarando com um sorriso nos lábios e as sobrancelhas erguidas. O cabelo preso em um coque alto e usando apenas uma cueca preta, com os olhos inchados de sono.

Esse homem é o meu paraíso, mesmo quase me matando de ataque cardíaco.

ㅡ Ai que susto, amor. ㅡ Digo rindo e levando a mão até o peito.

A presença dele é tão natural que às vezes me esqueço de que não estou sozinho.

ㅡ Você tomou o seu remedinho hoje, benzinho? ㅡ Ele diz sorrindo mais largo e se desencostando da parede.

ㅡ Eu não tomo remédio. ㅡ Digo me aproximando e puxando a sua mão, o trazendo para o meio da sala. ㅡ Eu só estou feliz.

ㅡ Percebi. ㅡ Ele solta uma gargalhada quando giro o seu corpo. ㅡ Qual o motivo dessa felicidade?

ㅡ A vida. Você. Nós. Tudo.

ㅡ Você acordou inspirado hoje? ㅡ Ele sorri.

ㅡ Eu sempre acordo inspirado quando durmo ao seu lado. ㅡ Digo e beijo o seu pescoço quente e cheiroso.

Volto a cantar e percebo que "love grows" me remete a Harry. Solto uma gargalhada e ele me olha parecendo não entender.

ㅡ Essa música é sua, anjinho. ㅡ Sorrio divertido puxando sua cintura e embalando nossos corpos. ㅡ Suas roupas são engraçadas e seu cabelo é livre e selvagem. Você conversa meio preguiçosamente, as pessoas acham você doidinho e sua vida é um mistério. Mas o amor cresce onde você passa.

Backfire [L.S]Onde histórias criam vida. Descubra agora