Backfire [L.S]

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Harry Styles

Oito meses. 

Em oito meses não sei dizer quantas vezes me encontrei sentado nessa cadeira enquanto sou avaliado e tratado.

Nas primeiras sessões eu sentia como se estivesse indo para o abate onde toda a minha vida estaria exposta, quando eu me abri de verdade, me pareceu um martírio ter que reviver tudo e em alguns momentos eu senti como se realmente estivesse revivendo. Agora, depois desse tempo, eu gosto de estar aqui, eu gosto de ter alguém para me ouvir quando tudo o que mais preciso é falar.

Dra. Kimberly é uma ótima psicóloga ㅡ mesmo quando afunda o dedo em minha ferida múltiplas vezes para tentar ver se há algo mais profundo que eu ainda não contei.

Mas eu contei tudo… eu me virei do avesso, eu me abri, eu me desdobrei, eu me expus, disse até o que eu não permitia pensar comigo mesmo. E agora, me perguntando o que mais doeu, tenho a certeza quando respondo:

ㅡ Tudo.

Ela me encara e concorda com a cabeça. Digo isso com convicção, porque tudo nessa situação me doeu. Cada pequena coisa que foi retirada de mim, cada vez que fui invadido, cada palavra que me direcionaram, cada olhar torto que me lançaram. Tudo nessa história me dói ㅡ ou pelo menos, me doeu um dia.

ㅡ A sua dor consiste em cinco coisas, Harry: a traição, a injustiça, a perda, a vergonha e o desamparo. ㅡ Ela diz, com a voz suave. ㅡ E são essas coisas que estamos tratando. As pessoas costumam usar o tempo como refúgio, como aquela coisa bela que cura, como o remédio milagroso. Mas o tempo, Harry, ele também é cruel, ele também maltrata, ele também tira… Então, eu quero que você me responda com sinceridade: Quanto você perdeu nesse tempo? Quantas coisas você deixou de viver nesse tempo? Quantas vezes você poderia ter amado nesse tempo?

ㅡ Eu perdi muito. Deixei de viver muito. Deixei de amar muito.  ㅡ Assumo, pensativo e choroso.

ㅡ Então, não se permita mais perder. Não deixe que isso te tire mais nada. ㅡ Ela dá uma pausa. ㅡ Você conhece a teoria de que todas as células do nosso corpo se destroem e reconstroem em sete anos?

ㅡ Conheço.

ㅡ Pois bem… já se passaram quatorze. Você não só se reconstruiu, como se re-reconstruiu. Você não é mais o mesmo. ㅡ Ela me lança um sorriso complacente. ㅡ Você não é mais aquele garoto ingênuo… você é um homem: responsável, adulto, trabalhador, talentoso, forte, resiliente. Você não se assemelha em nada a aquele que você costumava ser há quatorze anos atrás. Quanto à traição que você sofreu pelos seus sentimentos, infelizmente estamos sujeitos a isso. Até nós mesmos nos traímos. É o que fazemos depois da traição que conta, é como reagimos a ela, é como nos reerguemos depois do baque. Já a injustiça, ela acontece. Coisas ruins acontecem a pessoas boas, Harry. Isso significa que elas deveriam acontecer? Não. Mas infelizmente acontecem, e vão continuar acontecendo. Você tem um trauma, mas não permita que esse trauma te tenha. Faça a sua própria justiça para você mesmo. Se liberte.

Ela da uma longa pausa e me encara. Concordo com a cabeça e engulo em seco, e ela então continua:

ㅡ A perda em compensação, é sempre a pior parte, mas precisamos estar prontos para perder. Durante toda a vida vamos perder as coisas, algumas com mais valor, outras com menos, mas a gente sempre perde e precisa se acostumar com o fluxo do rio que não pára. Mas saiba que a pior perda é daquilo que deixamos de ganhar. A gente não chora porque uma pessoa morreu, Harry, a gente chora porque jamais vai ter o privilégio de tê-la viva de novo.

Sinto o baque de suas palavras e sinto meus olhos marejarem, mas também concordo com a cabeça, mostrando a ela que estou absorvendo cada palavra e entendendo cada ponto que ela quer me mostrar.