Backfire [L.S]

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Harry Styles

Louis me encara com seus olhos azuis e suas pálpebras inchadas de sono por alguns instantes antes de dar dois passos em minha direção, passando os dedos delicadamente por minha cintura e me puxando para perto do seu corpo quente e acolhedor.

ㅡ O que te fez mudar de ideia, anjinho?

Se ele apenas soubesse o quanto eu amo esse apelido, e como ele conseguiria tudo que ele quisesse de mim apenas me chamando assim...

Solto uma risada curta e baixa pelo pensamento e nego com a cabeça. 

ㅡ Eu não me conheço, Louis. ㅡ Respondo em reflexo, voltando a ficar sério. ㅡ Eu não me conheço sem ser aquele Harry de anos atrás.

Um vinco surge no meio das suas sobrancelhas e ele me encara como se não entendesse o que eu quero dizer com isso.

A verdade é que eu, até um tempo atrás, também não compreendia. Nas sessões com a Dra. Kimberly, comecei a compreender que há hábitos que não conseguimos desfazer por completo, e que às vezes muitos traumas são tratados assim. Ela me explicou que muitos pacientes que possuem algum tipo de bloqueio, se apegam a ele porque é tudo que conhecem a respeito de si mesmos, e eu finalmente compreendi que eu também estava fazendo isso.

Era cômodo ser o Harry da concha, o Harry que se escondia por uma camada grossa e impenetrável de proteção, era cômodo me trancar, porque desde que tudo aconteceu foi assim que eu me sentia seguro. Eu que sempre fui tão exposto, só queria me manter em minha alcova, longe dos leões e das ameaças. Tanto, que desacostumei a andar ao ar livre. O processo é lento, já que não reconhecia mais a textura da terra, ou a rispidez com que o vento balançava os meus cabelos, mas eu preciso me livrar do meu cativeiro, que por muito tempo eu considerei ser um lar. Eu estive acomodado em uma prisão mental e demorei para me dar conta disso.

ㅡ Eu quero me conhecer sem meus traumas. ㅡ Explico, vendo seus olhos azuis atentos em mim. ㅡ Sei que pode não fazer sentido o que estou dizendo, mas eu só me permitia ser raso, sem mergulhos profundos. Eu nunca permiti que ninguém ultrapassasse as minhas barreiras até você chegar, Louis. Mas junto a você, também veio a percepção de que eu sou um campo infinito de possibilidades.

Um sorriso iluminado começa a brotar em seu rosto quando ele concorda.

ㅡ Você é, Harry.

Reflito por um instante e continuo:

ㅡ Eu não tenho uma figura bem montada de família, e eu posso não estar preparado para conhecer a sua, mas é algo que eventualmente terei que fazer, porque eu quero viver com você. ㅡ Digo honestamente. ㅡ Eu quero e preciso usufruir de tudo o que esse relacionamento tem a me oferecer, e eu quero lidar e conhecer todas as vertentes. E eu preciso fazer isso para aprender a me desapegar do desamparo dos meus pais.

ㅡ Fico feliz que pense assim, anjinho, de verdade. ㅡ Sua voz e seu rosto resplandecem verdade.

ㅡ Você foi o empurrão que eu precisava. ㅡ Digo, me sentindo frágil. ㅡ E, se não fosse por você, eu viveria para sempre assim, porque era cômodo me esconder, porque era seguro, porque eu tinha medo de não me reconhecer sem as bagagens do trauma. Mas adivinhe só, Louis? Eu não quero mais essas bagagens. Eu quero me descobrir, eu quero criar outras memórias, eu quero criar uma nova história com você ao meu lado.

ㅡ Nós já estamos escrevendo nossa história, Harry. Você pode ter certeza que você não é mais o mesmo do primeiro capítulo.

Ele acaricia meu rosto com a ponta dos dedos e eu dou um sorriso.

ㅡ Que bom, eu não gostava dele tanto assim.

ㅡ Eu gostava, ㅡ ele também sorri ㅡ mas confesso que amo muito mais o de agora.