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Meu despertador toca apressado enquanto eu não tenho pressa alguma em levantar. Hoje é um daqueles dias que se eu pudesse eu ficaria na cama.

Minha cabeça está explodindo e meu corpo inteiro dói. Vou até o banheiro e tomo um banho para ver se eu me livro dessa sensação. Como isso não acontece, tomo dois relaxantes musculares para conseguir trabalhar.

Me sento em minha cadeira e fico olhando para o nada enquanto fumo um cigarro, esperando dar a minha hora de logar. Fico pensando na enorme reviravolta que a minha vida deu nos últimos meses.

Eu tinha uma vida estável porém falsa, que eu jurava adorar, até ver o castelo da hipocrisia e da mentira desabar diante dos meus olhos.

Quando James me fez aquela proposta eu apostei que aquela seria a nossa ruína, e foi… mas o que não sabia era que eu precisava dessa ruína para me reerguer. Eu gostava de James porque nossa vida era cômoda. Porque era cômodo viver ao lado dele, porque eu me acostumei com uma vida que eu jurava ser boa.

Eu não me enxergava naquele relacionamento, eu não tinha voz. Contando que James estivesse bem, eu também estaria ㅡ mesmo não estando.

Passava minhas horas mergulhado no trabalho, fazendo as mesmas coisas todos os dias religiosamente, e me acomodei assim. Só fui perceber o quanto eu era manipulado e anulado quando a vida precisou surrar isso na minha cara, já que por conta própria, eu jamais seria capaz de ver.

E aí veio Harry, que me tirou do cômodo e me balançou de todas as formas existentes. Não era monótono estar com ele, pelo contrário, era sempre uma aventura. Eu nunca sabia o que esperar dos meus dias com ele, e isso de certa forma também me assustava.

Eu estava acostumado com o seguro, e de repente o incerto esmurrou meu peito.

Meu relacionamento com James era como um avião perdendo altitude aos poucos, indo em direção a um impacto inevitável em uma colina; mas era tão sutil que eu não percebia. Harry, pelo contrário, foi a turbulência: rápida, forte, e bagunçada; tirando tudo do eixo.

Mas no fundo, por mais que dê medo, a gente sabe que nenhuma turbulência derruba um avião. Já uma perda de altitude significativa, sim.

Harry era o incerto desconhecido, e eu fui me deixando levar pela sua beleza, pelo seu jeito, pela sua força. Pela chama que ele acendia em mim todas as vezes que ele me olhava ou me tocava, até me ver preso em um beco sem saída.

Eu me apaixonei. E eu não me apaixonei como normalmente se apaixona: de forma lenta, gradual, pelos detalhes. Eu me apaixonei rapidamente, de uma só vez, pelo todo ㅡ exatamente como uma turbulência que chega sem avisar.

Não mergulhei o pé para sentir a temperatura antes de entrar na água. Eu mergulhei de ponta.

Eu me apaixonei sabendo que estava fodido. Eu me apaixonei sabendo que eu não poderia me apaixonar, eu me apaixonei mesmo não querendo me apaixonar, eu me apaixonei sem medir as consequências.

Algumas pessoas acreditam que a paixão é involuntária, já o amor é uma escolha. Você não escolhe se apaixonar, mas você escolhe amar alguém. E hoje eu concordo com essa linha de raciocínio, porque se eu tivesse escolha eu não teria me apaixonado por Harry, mas eu tive o poder de escolher entre amá-lo ou não.

Eu poderia passar por cima de todos os nossos problemas pessoais para tentar, mas eu não quero amá-lo agora. Não quando eu sei tudo o que aconteceu, não quando eu sei que ele não está pronto, não quando eu sei que não terei cem por cento dele, não quando eu ainda preciso me tornar quem eu quero me tornar, não quando eu sei que o sentimento que temos um pelo outro não está curado e amadurecido.

Backfire [L.S]Onde histórias criam vida. Descubra agora