A minha mãe se foi

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6 meses depois

Foram os piores meses da minha vida. Nesse momento me olho no espelho e não me reconheço. Estou no fundo do poço e não faço questão de sair dele.

Há quatro meses minha mãe morreu. A dor que a perda dela me causa chega a me deixar sem ar. Ela foi embora e levou o meu coração.

Naquele dia eu escutei algo se quebrando na cozinha. Desci pra ver porque não tinha mais ninguém em casa. Quando cheguei na cozinha o meu pai estava imóvel, em choque, encostado no balcão. O copo caiu da mão dele. Na outra mão estava o telefone. Ele não falava nada, estava ali imóvel, em choque e custando respirar. Eu sabia o que era. Minha mãe tinha morrido.

O médico já vinha nos preparando, porque víamos diante dos nossos olhos ela cada vez pior. Mas ninguém está preparado para o momento exato da morte. Depois de tudo que poderia ser feito ela e meu pai voltaram pra nossa cidade. Ela ficaria internada por aqui mesmo, porque não faria diferença. Eu tentava ter aquela fé que Ravi disse pra eu ter, mas no fundo eu sabia que ela não sairia dessa.

Caminhei até meu pai e o abracei forte. Eu estava sem chinelo e os cacos do copo entraram nos meus pés. Mas pra ser sincera não senti dor. A dor do meu coração era tão forte que alguns cortes nos pés não faziam diferença.

Não falávamos nada. Fiquei ali abraçada e os braços dele não me abraçaram. Percebi que era mais grave do que pensei e liguei pra emergência. Alguns minutos depois eles estavam na porta de casa. Segui com eles pro hospital, precisava de curativos.

Meu pai precisou ser sedado. Eu precisei de alguns pontos e logo voltei pra casa. Quando cheguei lá a Luna e minha madrinha já me esperavam.

- Meu amor, sobe, toma um banho e descansa. Eu vou cuidar de tudo - minha madrinha Jess disse limpando algumas lágrimas e se fazendo de forte

Não consegui responder. Somente subi com a Luna atrás de mim. Não me lembro de muita coisa, nem sei bem como tomei banho e como deitei na cama.

No outro dia lá estávamos nos, no enterro da minha mãe. Meu pai ainda estava sedado, mas algumas lágrimas teimavam em cair dos seus olhos. Era como se ele fosse um zumbi. E aquilo me destruiu ainda mais.

A minha mãe, a pessoa mais importante da minha vida tinha partido. Ela nem sequer me viria vestida pro meu primeiro baile de formatura. Ela não me veria casar e não veria meus filhos.

Depois do enterro voltamos pra casa e eu me encolhi na minha cama. Minha madrinha e a Luna passariam uns dias aqui pra cuidar da gente. O que mais me preocupava era ver meu pai daquele jeito. Ele vivia sedado, dormindo.

Gael esteve no funeral e não saiu do meu lado em nenhum momento. Mas eu nem conseguia conversar direito com ninguém. Só queria poder dormir por um longo tempo.

Ravi não soube no dia, ele não morava mais aqui e com certeza ninguém postaria algo assim nas redes sociais. Meu celular estava por aí, não faço ideia da última vez que mexi nele. Mas dois dias depois ele estava na porta da minha casa implorando pra Luna deixar ele entrar pra me ver. Mas eu pedi que ninguém me incomodasse. Não queria ver ninguém além da Luna e da minha madrinha.

Alguns dias depois, quando me senti um pouco melhor pra sair da cama, encontrei meu celular. Coloquei pra carregar e quando liguei ele até travou. Inúmeras mensagens, ligações perdidas, e-mails, mensagens no direct do Instagram. Ravi estava desesperado pra falar comigo. Só respondi com um "por favor, respeite meu luto. Estou bem, só não quero falar com ninguém". Depois disso ele não me procurou mais.

Algumas semanas depois da morte da minha mãe voltei pra escola. Por mim eu não iria, mas minha madrinha meio que me obrigou. Na aula eu nem prestava atenção. Vivia no mundo da lua. Gael tentava ser o melhor amigo possível. Me ajudava em tudo que podia, mas eu não dava muita bola pra ele. Vivia no automático. E foi assim por um bom tempo. 


O garoto que me fez perder a linhaOnde histórias criam vida. Descubra agora