Alguns meses depois...

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Eu não sabia muito como lidar com o luto do Nathan. Aparentemente ele estava normal, mas ia de mal a pior na escola. 

A professora aconselhou colocá-lo na terapia, e foi isso que eu fiz. Mas a terapeuta disse que ele era uma criança muito fechada, e que disfarçava seus sentimentos. Não seria fácil, levaria tempo e era preciso ter muita paciência. 

Era sábado. Estava na cozinha preparando um lanche e Nate tomava banho. Ele tinha uma festinha de um amigo da escola pra ir. A campainha tocou. 

- Sim? 

Quando abri a porta dei de cara com aquele par de olhos que não esperava ver mais na minha vida. 

- Ravi? - falei assustada

- Oi, Lídia... eu, é... 

Ravi parecia procurar as palavras certas. Olhei pra ele esperando que falasse, mas ele me encarava, como se estivesse em transe. 

- Você, quer entrar? - falei sem graça. Não sabia o que falar ou fazer... 

- Posso? prometo que serei breve... 

Abri a porta e dei passagem. Ravi entrou e começou a observar discretamente a casa. 

- Então? - perguntei

- Eu só passei pra ver como você está. Queria ter vindo antes, mas achei melhor esperar um tempo... soube do seu marido...eu, é... sinto muito, Lídia. Sinto muito, do fundo do meu coração!

Sei quando Ravi é sincero, e ele definitivamente estava sendo naquele momento. 

- Obrigada, Ravi. É muito gentil da sua parte - falei firme segurando o choro

- Como você está? 

- Levando... vivendo um dia de cada vez. Mas não tem sido fácil. Nate é muito pequeno, me destrói ver ele assim... - falei com os olhos marejados

- Ei, pode chorar, Lídia. Não precisa segurar... 

- Não imaginei viver o luto de novo tão cedo... é como se tivesse cutucado uma feriada já cicatrizada e ela voltasse a sangrar... ta muito difícil, Ravi...

Nesse momento eu já chorava descontroladamente. Ravi se aproximou, com cautela, e colocou a mão no meu braço.

- Eu posso te abraçar? - falou baixinho

Balancei a cabeça consentindo, e então ele me abraçou bem forte. Ravi foi antes de tudo meu amigo. O abraço dele era um lugar confortável pra mim, apesar de tanto tempo e apesar de tudo. 

Escutei um barulho vindo da cozinha apitando. Tinha colocado um bolo pra assar e era hora de tirar. 

- Preciso ir até a cozinha. Espere um minuto... - falei limpando as lágrimas

Nesse momento Nate gritou do banheiro pedindo uma toalha. 

- Quer que eu leve a toalha pra ele? 

- Poderia fazer isso, por favor? É só abrir o armário do corredor, você já vai ver...

- Vou lá então!

Tirei o bolo do forno e logo após alguns segundos Ravi voltou. Branco, assustado, como se tivesse visto um fantasma. 

- O que aconteceu? - perguntei já assustada e indo em direção ao banheiro, achando que tinha acontecido algo com Nate. Mas Ravi segurou o meu braço e me encarou

- Porque escondeu isso de mim por tanto tempo? - perguntou sério

- Isso é algum tipo de brincadeira? não estou entendendo - franzi a testa

- Não tinha a pretensão de me contar que o garoto é meu filho? - falou em um sussurro, quase sem conseguir falar 



O garoto que me fez perder a linhaOnde histórias criam vida. Descubra agora