Luto

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Nunca imaginei viver o luto tantas vezes na minha vida. A morte acontece, isso é fato. Mas perder minha mãe, e agora meu marido, pai do meu filho, de uma forma tão precoce e triste não era algo imaginável. 

Eu segurava a pequena mão do meu filho de apenas 6 anos enquanto o caixão era enterrado. Eu sei que tenho que ser forte por ele. Ele é pequeno, não tem tanta dimensão da morte, mas sei que está sofrendo muito, mesmo que do jeito dele. 

Mas a verdade é que eu não sabia lidar com todos aqueles sentimentos que me invadiam. É como se a morte de Marcus tivesse trazido a tona todos os sentimentos que senti quando minha mãe morreu. E era desesperador.

Marcus ficou uma semana em estado grave. Os médicos não tinham esperanças, mas eu sim. Passei a semana dormindo ao lado da sua cama de hospital. Nate ia todos os dias e passava horas conversando com o pai, que dormia profundamente. Ele sempre me perguntava quando o pai iria acordar, e eu sempre dizia que se Deus quiser logo. Dar a notícia que seu pai foi morar no céu, me destruiu por dentro. Nate era só uma criança, não merecia tamanha dor. 

- Meu amor, vou levar Nate pra minha casa. Fiz uma torta de maçã que ele tanto gosta. Vai pra casa e descansa, dorme. Quando acordar vamos estar te esperando lá em casa - falou meu pai me abraçando enquanto todos se despediam após o enterro

- Tudo bem - falei em modo automático

Marcus era brasileiro, sua família era toda brasileira, mas ele e os pais foram morar no Canadá quando ele completou 15 anos. Seus pais concordaram em enterra-lo no jazigo da minha família, para que assim, sempre que Nate sentisse saudades, pudesse visitar o tumulo do pai. 

- Minha querida, estamos indo pro hotel... amanhã já vamos embora. Não quer ir com Nate passar umas semanas lá na nossa casa no Canadá? - perguntou minha sogra

- Por enquanto não, Rose. Prefiro ficar em casa pra processar tudo isso e colocar a cabeça no lugar. Mas em breve levo Nate pra visitar vocês, prometo!

- Tudo bem... amanhã cedo passaremos pra despedir de vocês...

- Ta bem, até mais - disse abraçando ela e em seguida meu sogro 

Depois de despedir das pessoas peguei um uber e fui pra casa. Entrei na casa e senti um vazio que jamais senti antes. O cheiro de Marcus ainda estava naquele lugar. Podia escutar sua gargalhada enquanto fazia o jantar e sujava o nariz de Nate de molho. Ele foi um homem maravilhoso. 

Sentei no sofá e peguei um porta-retrato que estava na mesinha. Tinha uma foto nossa, de quando nos conhecemos. Jamais imaginei que aquela ida no café, em um dos dias mais difíceis da minha vida, resultaria em um casamento e um filho lindo. Jamais imaginei que o perderia tragicamente... tantos planos, tantos sonhos não realizados. 


O garoto que me fez perder a linhaOnde histórias criam vida. Descubra agora