Me deixa cuidar

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Entrei no banheiro o mais rápido que pude e joguei água no rosto. Comecei a ter uma crise de ansiedade. Depois de um tempinho controlando a respiração consegui me acalmar.

A porta do banheiro bateu e quando olhei no espelho era Ravi ali dentro.

- Você tá louco? Esse banheiro é feminino, se te pegarem aqui você tá ferrado!

Ravi tranquilamente trancou a porta

- Pronto, ninguém vai me ver aqui!

- O que você quer, Ravi. Vai me manter presa aqui?

Ravi caminhou lentamente ao meu encontro, analisando cada parte de mim. Seus olhos subiam e desciam, era como se estivesse estudando uma obra de arte.

- Porque você quer sentir dor? - falou

- Oi?

- Suas tatuagens... são muitas, e são grandes... você fez pra sentir dor...

Senti um nó na minha garganta.

- Fiz porque achei bonitas, foi só isso... - disse encarando o chão

Ravi se aproximou mais ainda e inevitavelmente olhei em seus olhos.

- Eu te conheço, baby...

Seus olhos sentiam pena de mim. E eu odeio, odeio que alguém tenha pena.

- Não preciso que tenha pena de mim!

- Eu tentei, Lídia. Tentei te ver, tentei falar com você. Não podia ter me ignorado e me afastado, não foi justo... tudo que eu queria era cuidar de você...

- Você não estava aqui, Ravi. Não ia adiantar... e vejo que agora tem outra pessoa pra cuidar... - falei desviando o olhar

Ele riu fraco.

- Não tenho nada com a Luísa. Só somos amigos, da mesma equipe de motociclistas... você tá com ciúmes?

- Não. Você pode ficar ou fazer o que bem entender com quem você quiser. Não temos nada, Ravi. Só comentei...

- Você ta com ciúmes sim... é essa cara que você faz quando ta com ciúmes - disse pegando no meu queixo, mas eu logo desviei dele

- Acho melhor voltarmos, logo vão sentir nossa falta...

- Ainda quero conversar com você... posso ir na sua casa hoje a noite?

- Não. Não temos mais nada pra conversar, Ravi...

Quando virei pra encara-lo ele se aproximou de mim e me segurou forte pela cintura. O toque dele era meu ponto fraco.

- Seu corpo diz ao contrário - sussurrou e eu me arrepiei inteira

Fui me afastando até encostar na pia do banheiro. Ravi se mantinha pressionado no meio das minhas pernas e tudo que eu queria era ser beijada ali mesmo. Senti sua respiração próxima da minha minha...

- Você não tem esse direito. Não pode chegar do nada e me agarrar assim... - falei fraca

- Tudo bem - disse se afastando - você está certa... me desculpa... eu só não queria perder a oportunidade de falar com você. Não consigo resistir quando estou perto de você...

- Vou indo então... - falei ainda meio trêmula

- Ele te faz feliz? - perguntou sem olhar diretamente pra mim

- Não sou feliz há quatro meses, Ravi...

Nesse momento algumas lágrimas caíram e comecei a chorar sem parar. Não era algo que eu pudesse controlar.

Ravi nem pensou duas vezes e me abraçou, me puxando para o seu peito. Me permiti chorar como há muito tempo não chorava. Toda aquela casca que construí ao meu redor se desfez.

- Eu não sei como tirar essa dor, não sei o que fazer pra você voltar a ser feliz. Juro que queria toda essa tristeza pra mim... não pode me manter longe de você, não é justo... tudo que eu queria era ter cuidado de você no momento que você mais precisou... me deixa cuidar agora - falou também chorando

Começaram a bater na porta. Levei um susto e Ravi se escondeu em uma cabine e falou pra eu abrir a porta.

Disfarcei e sai, disse que tinha ficado presa. Peguei minhas coisas na mesa e fui embora.

O garoto que me fez perder a linhaOnde histórias criam vida. Descubra agora