Adeus, again

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Fodemos em cada canto daquele bar, como Ravi havia prometido. 

Estávamos exausto, sem forças, deitados no sofá. Meu corpo em cima do dele e nossas pernas entrelaçadas. Ravi estava de olhos fechados e passava as mãos pelos meus cabelos. Eu brincava com sua correntinha. 

- Eu e aquela garota não transamos. Nós nem nos beijamos na verdade - falou quebrando o silêncio

- Como? o que? - falei olhando pra cima

- Não te trai, Lídia. Quer dizer, sim, trai sua confiança, mas não aconteceu nada naquela noite

Me sentei e encarei seu rosto confusa.

- Alguns meses depois encontrei aquela garota em um bar. Pedi pra conversar e ela me esclareceu tudo, porque tudo não passava de um borrão. Disse que eu chamei ela pra sair dali. Ela topou, pedimos um uber e fomos pra casa. Chegou lá já fomos direto pro quarto. Eu tirei minha roupa ficando só de cueca, e enquanto ela tirava a dela eu simplesmente deitei e apaguei. Ela ficou com medo de ir embora de madrugada e resolveu deitar ao meu lado e dormir. O restante você já sabe... 

Minhas lágrimas já escorriam. 

- Porque não me procurou pra contar? - perguntei

- Não faria diferença, faria? Eu te trai, mesmo que não tenha acontecido nada entre eu e aquela mulher eu levei ela pra dormir na nossa cama...

- E provavelmente se não estivesse tão chapado teria rolado, já que era sua intenção - falei já nervosa

- Talvez você não acredite, mas nunca passou pela minha cabeça te trair. Nunca, em nenhum momento. Mas entendo sua mágoa e raiva, você tem todo o direito. 

Levantei rapidamente procurando pela minha roupa. 

Depois de toda aquela euforia, é como se minha consciência me lembrasse que eu havia aceitado casar com outro homem na noite anterior.  

- Aonde vai? - perguntou sentando no sofá

- Embora, ué... preciso ir pra casa... 

- Vai me passar seu telefone? quero te ver de novo... - falou simples

- Você ainda não entendeu que nunca mais em nossas vidas nós vamos nos encontrar? essa foi a última vez, Ravi. Na verdade nem deveria ter acontecido, eu sou uma idiota...

- É por causa da traição? 

- Sim, não, quer dizer, é por causa de tudo... estou noiva, não entende? 

- Mas é a mim que você ama, Lídia. Vai se enganar até quando? 

- Você não me conhece mais. Eu amo o Marcus e ele me faz feliz... - falei vestindo minha roupa o mais rápido que consegui

- Então me responde uma coisa, sem mentir, do fundo do seu coração... 

- Hum? - perguntei o encarando e cruzando os braços

- Pensou nele enquanto fazíamos amor?

Droga. Idiota. 

- Não - respondi rápido

- E já pensou em mim alguma vez enquanto fazia amor com ele? 

Aquela pergunta foi como uma pedrada no meu coração. Sim, eu já pensei inúmeras vezes. Era ridículo da minha parte mas não existia conexão como a minha e Ravi. Marcus era um cara maravilhoso, mas era impossível não pensar em Ravi algumas vezes. 

Não respondi, apenas desviei o olhar pro chão. Ravi caminhou em minha direção e segurou meu rosto, fazendo eu encarar seus olhos.

- Só me responda isso, por favor - falou em um sussurro

Respirei fundo. 

- Sim, já pensei... 

- É isso, amor. O seu coração é meu, assim como o meu  é seu. Não pode fugir disso. 

Me soltei dos seus braços e fiquei de costas pra ele. Senti ódio, porque ele tinha razão.

- Quer saber se eu ainda te amo, Ravi? Sim, eu ainda te amo. E temo que esse sentimento nunca vai acabar. Mas eu também amo Marcus, do fundo do meu coração. Só é um amor diferente, mas eu o amo... e quer saber? ele é um cara maravilhoso, que ao contrário de você, quer construir uma família comigo... - falei mostrando o anel no meu dedo

- Mas nós já éramos uma família... morávamos juntos e tínhamos a nossa vida... 

- Você não entende, não é? Eu não quero apenas "morar junto", Ravi. Eu quero casar. Quero me vestir de noiva. Quero tudo certinho, como eu mereço. Quero ter filhos, quero uma família de verdade - Ravi arregalou os olhos - mesmo sabendo de tudo que eu quero, você nunca me pediu em casamento, nunca tocou no assunto. E quando eu pensei que estava grávida você quase morreu. Você nunca quis ser pai. E eu me odiei por querer tanto que aquele teste desse positivo. Me odiei por desejar tanto ter um filho seu. Porque sabia que você não queria... - falei já chorando desesperadamente

Ravi também deixava algumas lágrimas escorrer.

- Lídia, eu... 

- Não precisa dizer nada, Ravi. Eu estou indo embora... 

- Mas você disse que me perdoou... 

- Sim, Ravi, te perdoei. Mas isso não significa que vamos voltar a ter um relacionamento, porque eu não vou conseguir. Aquela cena de vocês dois na NOSSA CAMA não sai da minha cabeça. Eu fico me martirizando com aquilo, fico remoendo. Quando fecho os olhos consigo até sentir o cheiro daquele quarto. Eu tive que vender tudo, tive que mudar de casa. Tive que fazer terapia, tomar remédio. E adivinha quem esteve ao meu lado sem soltar a minha mão? Marcus, meu futuro marido e a pessoa certa pra mim... - falei virando as costas e caminhando pra porta

- Não vai, Lídia, por favor... - falou chorando 

Virei e encarei pela última vez seus olhos. Os olhos do homem mais lindo que já vi.

- Se sair por essa porta vou entender que quer distância. E eu prometo que não vou mais atrás de você - falou soluçando - então não vai, por favor, eu te imploro...  

Respirei fundo, segurei o choro e abri a porta. O sol estava forte e eu sentia que minha cabeça ia explodir. Caminhei pro carro o mais rápido que pude. Entrei, e me escorei no volante, soltando todo o meu choro. Não fui embora de imediato. Olhei para o retrovisor algumas vezes na esperança que ele viesse me pedir mais um pouco pra ficar, e talvez eu não resistisse e ficasse. Mas ele não veio, como prometeu que não viria. 

O garoto que me fez perder a linhaOnde histórias criam vida. Descubra agora