Capítulo 3

1.2K 109 70
                                    

Por horas, remaram pelo vasto oceano, chegando a se perguntar se não se perderam na rota. Mas não, estão no caminho certo. Só estão demorando porque estão de barco a remo.
Astrid começou mais uma sessão de reclamação.

— Não acredito que estou indo salvar um dragão. Um dragão.

— Eu não te obriguei, pode pular na água e ir embora.

— Ir nadando? O barco é meu.

— E a culpa do meu dragão ter sido levado é sua.

— Vá você nadando para essa ilha e salvar esse Fúria da noite.

— Com prazer.

Soluço soltou o remo e se colocou em pé. Preparou e mergulhou. De inicio, Astrid não se preocupou. Mas começou a repensar quando não viu o Cavaleiro emergir na água. Será que ele vai nadando mesmo? Olhou para debaixo do barco, tentando encontrar algum sinal de que ele ainda está ali e tudo é apenas drama.
Para sua surpresa, algo saiu da água. Um dragão. E Soluço montado nele.

— Astrid, lhe apresento um Escalderível domesticado.

A loira abriu a boca para questionar, mas só resmungou um ah. Ela deve se preparar para várias surpresas. Soluço foi deixado no barco pelo dragão e laçou uma corda em seu pescoço, ele os levaria mais rápido do que remando.

— Sabia que esse dragão joga uma água tão fervente ao ponto de queimar vivo até os ossos?

— Sabia que eles adoram uma truta? — Soluço balançou uma que tirou de um saco que trouxera.

— Que legal. Você os alimenta para depois ser o prato principal?

— Não me acha um espinha de peixe, não?

Astrid ficou calada. Não porque ficou sem resposta, mas sim sem reação. Se pegou observando o corpo de Soluço. Que corpo. Balançou a cabeça para espantar esses pensamentos e apenas resolver seguir a viagem.
Não levou uma hora, para avistarem a ilha. Soluço lhe contou que morou por meses nela. Construiu passagens secretas que com certeza ninguém descobriu até hoje.
Soltou o Escalderível, que afundou na água, e estendeu a mão para Astrid. Agora terão que ir nadando, a passagem é submersa. Lutou contra a ideia de realmente ajudar Soluço, mas cedeu. Quem sabe pode usá-lo como ponte para conseguir mais dragões. Se eles obedecem quando recebem comida, o que a impediria de usar comida para fingir ser amigável. Enquanto nadavam, fez um lembrete mental de testar essa ideia nos dragões que usam para treinamento em Berk.
Estava ficando sem fôlego quando finalmente entraram na caverna submersa. A loira soltou um uau que sofreu eco.

— Daqui dá para ir em qualquer lugar da ilha. Primeiro vamos cuidadosamente pelas entradas e ver aonde dão.

O que ele não pensara, era que os caçadores adaptaram a ilha para ter fins de caça. As entradas que passaram, todas, davam em uma espécie de prisão. Pensou em como esses homens são burros. Tem passagem secreta em todas as prisões e pelo visto nunca descobriram. Voltaram para a caverna e foram tentar pelo último caminho. Para sua sorte, deu na jaula de Banguela. Ele está adormecido, ainda sobre efeito de erva de dragão. Tirou de sua cintura o jarro com o antídoto que pegara com o Biruta. Pediu ajuda de Astrid para abrir a boca do animal, mas foi ignorado. Sozinho, teve que dar um jeito de dar o líquido. Conseguiu. Em segundos o dragão resmungou. Isso chamou atenção dos caçadores que estavam de guarda. Os dois se esconderam atrás do Banguela para não serem visto. Quando o Fúria da noite ia se levantar, Soluço sussurrou para o dragão fingir de morto. Ele obedeceu. Suspirou aliviado. Esperou o guarda se afastar e abriu a porta, que não foi difícil. Saíram os três com cautela. Poderia ter saído pela passagem, mas ela não cabe o dragão.
Quando estavam saindo, escutaram a voz de Kenny. Astrid os mandou sair enquanto faria uma distração.

— Não alimentem o Fúria da noite, isso pode dar forças e... — viu Astrid parada — Astrid? O que minha futura esposa faz aqui? Resolveu supervisionar meu trabalho. Não se preocupe, minha querida, eu sou perfeito em tudo.

O ruivo disse. Astrid apenas um sorriso de canto ignorando ele tê-la chamado de querida. Isso deixou Soluço perplexo. Como assim futura esposa? Astrid está prometida a um caçador? O ruivo se vangloriou fazendo mímica para o dragão que olhou sem entender. Ele é mais forte, inteligente que Kenny, porque ele era o prometido? 

— Estou aqui dando uma volta.

— Não vi você chegar e nem um barco.

— Isso é para você ver como seus homens são bons.

O caçador que acompanhava Kenny engoliu seco. Ele colocou a mão sobre o ombro de Astrid e a levou para uma jaula.

— Quero que veja minha nova aquisição. Um Fúria da noite.

Astrid soltou um riso nasalar ao ver a jaula vazia. Ela espera mesmo que o dragão e Soluço já tenham saído porque ela quer sair dali o mais rápido possível.
Kenny olhou para o caçador, que levantou os ombros ao ver a jaula vazia. Ele não sabe o que aconteceu, minutos atrás viu o dragão ali. Quando voltou a olhar para Astrid, ela não estava mais ao seu lado. Viu ela correr. Na porta, ela fez um sinal com os dedos na testa dizendo tchau e no momento seguinte, pedras desmoronam, os prendendo no subterrâneo. Foi Banguela quem fez isso. Foi pega pelas patas do dragão que alçou voo.
Os caçadores atiram redes, mas ele desvia de todas. Conseguiram recuperar o alado e estão agora indo embora.

— Já que vamos voando — Astrid começou — Posso pelo menos voar de uma forma mais confortável.

Banguela a soltou e voou mais abaixo dela, a colocando em suas costas. Por instinto, abraçou a cintura de Soluço com medo de voar.

— Isso é loucura.

— Confesse, é uma loucura maravilhosa. Voar é mágico.

Astrid não disse nada. Encostou sua cabeça no ombro de Soluço e seguiram para a ilha. Ela olhou para o céu alaranjado, admirando o pôr do sol. Sorriu ao lembrar que está realizando um sonho de quando era adolescente, ver esse céu lindo com Soluço, com seu Soluço. Mas essa sensação foi embora ao perceber que são inimigos assim que for embora para Berk. Inimigos podem se amar? A pergunta ronda em sua cabeça. A principal é se Soluço sente o mesmo. 
E ele sente. Está sentindo um friozinho na barriga que sentia quando conversava com Astrid quando morava em Berk. 
Passaram por uma linda aurora boreal no caminho. Astrid esticou a mão como se fosse capaz de alcançar. A sensação de estar junto de Soluço a preenche e some novamente ao lembrar que vai embora e talvez nunca mais vê-lo.

Quando chegaram na ilha, à noite, Soluço insistiu para que a loira descansasse antes de voltar de barco para Berk. Ela negou. A acompanhou até o barco que ele usa para pesca.

— Eles podem estranhar o barco — Soluço disse.

— Já cheguei várias vezes com barcos diferentes daqueles que comecei a viagem.

— Se seguir nessa direção — mirou as estrelas com os dedos — Chega em berk na hora do almoço. Mas se aceitar a carona de um dragão aquático, chega ao amanhecer.

Negou. Vai ir remando para casa. Faz semanas que saiu de Berk. Será bom rever seus pais, seus amigos e Stoico. Quem sabe contar sobre a novidade de talvez não ser taxada de louca ao dizer que o Haddock filho está vivo. 
Entrou no barco com as jarras e bolsa de frutas que Soluço deu para a viagem e saiu para se despedir melhor. O ruivo estender a mão, mas ela deu um abraço e um beijo na bochecha. Entrou com pressa na canoa e remou. Olhou para trás, ele dando tchau, acompanhado de Banguela que balançava a cauda. Hoje viveu uma aventura incrível. Ir para casa e fingir que isso nunca aconteceu é decepcionante. Olhou para frente e reparou uma corda na ponta. Quando se levantou, foi jogado no chão pela força do impulso. Um dragão está puxando o bote. Resmungou um ah, soluço e sorriu, passando a mão pela trança de seu cabelo.


==================================

Me digam o que estão achando dessa aventura em que Soluço e Astrid são inimigos.

Não deixem de votar e comentar, adoro os comentários e vocês ♥

Espero que estejam gostando e que eu esteja cativando alguma admiração ♥♥♥

@LayHyungMin

Da guerra à paz - Como Treinar O Seu DragãoOnde histórias criam vida. Descubra agora