Prógono

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O resto do dia passou como um flash, rápido e instantâneo. Desirée sentia os pelos de seu corpo eriçados até mesmo quando a noite chegou. Não acreditava no que havia feito e no que havia permitido que Joshua fizesse.

Era loucura.

Ela torceu com todo o seu ser para que não precisasse ver o marido novamente tão cedo, mas no seu mais íntimo ficou desanimada quando ele não apareceu no início da noite, e depois no início da noite, mesmo que soubesse que não teria coragem para olhar na cara dele.

Havia se portado como uma qualquer, se dando daquela maneira à ele e o pior: colocado muito em risco.

Era dessa verdade que ela tentava se convencer, só que não se sentia tão ansiosa assim há mais de seis anos. Era tão estranho, pois podia ouvir seu coração batendo na caixa torácica, podia sentir o sangue correndo em suas veias mesmo depois de horas do toque dele tê-la deixado.

Ela ainda estava deitada na cama dele, sentindo o cheiro dele, mas agradecia aos céus pelos filhos estarem com ela assim a distraiam de passar horas divagando sobre o que as mãos de Joshua sabia fazer com seu corpo.

- Veja mamãe. - Ivy falava e segurava o braço da mãe. - Alec não quer me deixar ver o que pintou.

Havia duas certezas sobre os filhos e ela jamais poderia negar: Alec era um pintor mirim e Ivy era um bisbilhoteira  mirim.

Pedaços de sua vida colocados em outros corpos, e mesmo que ela soubesse que não tinham o sangue do marido em suas veias, sabia que eles eram tão dele quanto dela.

E era isso, esse detalhe, quase insignificante, que Joshua não podia saber, que ninguém podia saber... um segredo que recaia sobre as cabeças do antigo duque, de Desirée e de Michael, uma coisa que todos levariam para o túmulo junto com todos os seus outros pacados, o motivo que faria com que a duquesa nunca pudesse, de fato, ser do duque... era o que fazia esfriar até sua alma sempre que lembrava do toque que nunca passaria disso.

A certeza de que tinha tomado a melhor decisão ao nunca falar a verdade para ninguém se mostrava cada vez mais acertiva sempre que via o duque soltar um pouco as amarras de sua carapaça quando estava com os filhos, e sempre que os filhos riam ou seus olhos brilhavam quando estavam com o pai.

Eles nunca saberiam.

Nunca seria dito de quem Alec havia herdado aqueles olhos inexpressivos e escuros, a alma de Desirée seria despedaçada antes que ela tirasse tudo dos filhos e, de certa forma, de Joshua, afinal, hereditariamente falando, Alec sempre seria o próximo na linha de sucessão depois de Joshua, seu filho ou não, desde que ele não tivesse um filho biológico.

A parte ruim de todo o conto era que eles nunca se pertenceriam, assim como em sua noite de núpcias, nada nunca poderia se concluir entre eles, e ela sempre teria que incluir em suas orações os agradecimentos pelo lapso de memória do marido, ocasionados pela droga.

- Deixe-me ver, meu amor.

- Não é nada demais, mamãe. - Alec era reservados com suas pinturas, mesmo a mãe era difícil ver seus desenhos. - Tenho que ir.

Ele pediu licença e saiu do quarto. Depois do jantar eles haviam ido passar um tempo com a mãe, já que não puderam antes.

- A senhora quer que eu saia também mamãe?

- Não meu amor. - Não podia ficar sozinha ou se voltaria para pensamentos inadequados. - Venha para mais perto de mim. - Pediu de onde estava deitada.

Quando a menina se aproximou Desirée a abraçou e a fez deitar-se com ela.

Abraçadas elas conversaram sobre coisas que meninas gostavam. Sobre laços? Não. Sobre a competição de fitas que seria na manhã seguinte, não sabiam se a fariam, já que a mulher não poderia correr.

Mas dariam um jeito.

- Sabe, mamãe, ele não é tão ruim.

- Quem querida? - Ela sabia quem era e sabia que ele não era tão ruim, mas queria ouvir a filha dizer, gostava de ver ser afirmado aquela "verdade".

- Ora, mamãe, o papai não é tão ruim. - Ivy não gostava de ser pressionada e respondeu com impaciência.

As diferenças entre os gêmeos eram gritantes, mas os dois haviam sido ganhos pelo duque... Ivy era a grande surpresa.

- Eu também não acho ele tão ruim.

- Não? - Ivy perguntou com espanto.

- Não tanto, mas você achava ele ruim antes meu amor, o que mudou?

Desirée acariciou os finos cabelos da filha enquanto a menina pensava na resposta.

- É bom ter pai.

Sim, pensou Desirée, devia mesmo ser bom ter pai.

Era aquilo que ela queria preservar, a família que os filhos podiam ter... família que o homem que um dia carregou sua genética não poderia dar.

Com Joshua eles seriam filhos de um duque, herdeiros de um ducado que carregava as honras e o respeito de muitos, para não dizer todos, desde os tempos mais primórdios.

Nos primeiros anos Desirée se questionava se havia feito o certo ao enganar a todos, inclusive sua irmã, para ter os filhos, mas depois, quando viu os primeiros passos dos pequeninos, suas primeiras palavras e demonstrações de afeto, ela soube que estava certa em mais uma vez se deixar ser guiada pelo sogro.

Mas tarde naquela noite Ivy foi levada por Sophie para seu próprio quarto, onde dormia ao lado de Alec e Desirée foi deixada sozinha no quarto do marido, cercada por tudo que lhe lembrava dele e de coisas irrealizáveis.

Ela adormeceu sozinha. Sua pele lembrava o toque dele e sua boca sentia seu gosto. Não era preciso nenhum sonho erótico quando seu corpo guardava recordações tão vivas e recentes dele.

Ele que havia abandonado tudo e todos, que havia feito ela descer tão baixo para garantir que o plano que a salvou, realmente, funcionasse, era capaz de acender uma chama que ela tentou apagar com mágoas e rancores desde o dia que as fagulhas surgiram. Desirée o culpava, em parte, pois não passaria por tudo aquilo se ele tivesse lhe dado filhos, mas ele não fez e o que foi praticado, mesmo que a anos atrás, praticado está, e não havia nada de pudesse absorver ela da culpa.

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Capítulo curtinho, com uma vibe bem plot twist, mas não se enganem, nem de longe é a coisa mais "errada" que nossa Lady fez (errada entre aspas pois passo pano para ela. Faria o mesmo 😌).

Enfim... se gostou vota, comenta e me deixa saber o que está achando da história.

B-JOKS


O Regresso Do Duque Onde histórias criam vida. Descubra agora