Chá

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Desirée subiu para o quarto enfurecida, nada aliviava aquele sentimento.

Ela havia pedido que Liz e Sophie colocassem flores pela casa, e faria o que tinha decidido fazer antes.

Bastava de luto.

Seu dia havia sido um desastre, desde o momento que saiu de casa. Não conseguiu falar com Hales e por consequência não havia obtido nenhuma informação de Michael e ainda teve que presenciar outra mulher abraçada ao seu marido. Deus a estava punindo de uma maneira horrível.

Ela sabia que mentir por tantos anos, para tantas pessoas teria uma punição divina, mas não imaginava que fosse tão dolorosa. Ela dormia com medo, medo de não suportar mais e contar a verdade - teria que fazer isso um dia, tinha medo de um belo dia Joshua acordar e lembrar de tudo, ou melhor do nada. Aquilo a consumia.

Mas estava decidida, reconstruiria a casa Falstron e depois contaria a verdade, não suportava mais, sabia que depois disso veria seu marido lhe dar as costas novamente e dessa vez para sempre. Não estava preparada para isso ainda, mas ele merecia mais. Ela merecia mais, uma vida em que não tivesse medo a cada minuto, uma vida que tivesse a certeza que as pessoas a sua volta não a deixariam.

Aquilo a roubava dela mesma. Naquela manhã e tarde ela pediu que não fosse incomodada por ninguém, exceto caso houvesse alguma emergência. Não queria ver ninguém ou falar com ninguém, só queria fugir e ter um tempo para organizar seus pensamentos. Não sabia o que dizer a Joshua, mas seu corpo gritava para trazê-lo para mais perto e seu cérebro a alertava de que o futuro dos dois, se baseado na verdade, não traria nada de bom à eles.

Ela deitou-se, não sentia fome e viu seu corpo cair gradativamente na escuridão. Ela não sonhou, tão pouco teve o sono dos justos, apenas não esteve ali.

Desirée sentia um leve toque em suas mãos, a doce inconsciência era suave e poderia prender ela por séculos.

****

Quando acordou estava decidida a falar com Liz e Sophie sobre sua decisão em relação ao luto, imaginou que elas estivessem tomando o chá da tarde como todos os dias as 17hs.

Ela desceu as escadas, torcendo para não encontrar o marido em sua empreitada, ainda não queria vê-lo. Caminhou até a sala onde era costume delas se reunirem, e não se decepcionando avistou as duas moças.

- Day. - Cumprimentou Sophie. -Junte-se a nós.

Ela aceitou o convite, mas ainda procurava palavras para dar início a uma conversa tão delicada, enquanto isso ouvia a conversa das outras duas.

- A senhorita Harriet me pareceu muito inteligente. - Liz falava de uma das candidatas a ser professora das crianças. - Não achou, Day.

Ela tinha achado, sim.

- Talvez seja um pouco nova demais, mas quem já não foi não é mesmo?!

Não iria fazer com a menina o que foi feito com ela, julgá-la pela idade ou aparência.

- Eu não fui, me sinto velha desde jovem.

Liz e Desirée riram do trocadilho da amiga, e em alguns pontos tinha de concordar e admitir sentir o mesmo. Desde muito jovens elas, as três, receberam cargas pesadas demais para carregar.

- Não tem tido muito tempo ultimamente, Day. - Constatou Liz. - Está havendo algo?

Como dizer: sim, estou me envolvendo mais do que posso com meu marido, que não é tão horrível como imaginei e que consegue reviver as borboletas do meu estômago? Não havia como dizer isso.

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