Transato

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Aquele dia tinha sido o pior entre muitos. Desirée ainda sentia seus membros doerem pela tensão que o seu corpo passou. Quando ela leu os documentos que estavam com Joshua quis sumir.

Depois que Joshua a abraçou e a consolou Desirée se sentiu a pior das mulheres. Ele lhe falou tantas coisas bonitas e o quanto gostaria de ter evitado que em um momento tão sensível de sua vida ela tivesse que ver o lado ruim do mundo. Agora, em seu quarto, se perguntava se algum dia, quando Joshua soubesse da verdade, seria capaz de perdoar uma pessoa como ela.

Não havia comido muito durante o dia e sentia seu estômago doer, mas não queria descer e ver todas as pessoas para quem ela mentia. Sentia-se sufocar, como se uma fumaça negra e suja tampasse sua garganta, e junto com essa fumaça vinha o medo, agora mais do que perder os filhos, ela temia perder Joshua, o homem que fazia seu corpo gritar por ele sempre que o via.

Como se seus pensamentos tivessem sido escutados ela ouviu o bater na porta.

- Entre. - Disse sem se importar com quem poderia ser.

Quando viu uma pequena cabeça ser colocada para dentro do quarto e depois ser seguida por outra, seu coração se encheu de alegria. Os filhos a olhavam com o mesmo sentimento alegre.

- Boa Noite, mamãe. - Ivy tinha uma voz firme. - Estamos sem sono.

- Ela está. - O filho, que sempre parecia ter sono, esclareceu.

Ivy olhou para o irmão como se ele a tivesse traído, mas para conter os ânimos da filha Desirée resolveu intervir.

- Podem dormir aqui comigo.

Os filhos, mesmo sabendo que isso ia acontecer, abriram um sorriso e se aproximaram da cama. Desirée desceu e os ajudou a sumir.

- Vocês estão crescendo muito rápido. - Ela disse aos filhos, embora não fosse para tanto. - Em breve não poderei colocar vocês na cama.

- Mas quando não conseguir mais, mamãe, a senhora pode pedir ajuda ao papai.

Ivy, a primeira a ser colocada na cama falou com tamanha naturalidade, que Desirée se surpreendeu. Depois de aconchegar a menina ela colocou Alec ao lado da irmã.

Já de camisola ela se deitou ao lado deles. Passava a mão nos cabelos da filha, tão finos e delicados. Alec, como sempre foi o primeiro a dormir, mas Ivy era mais resistente e enquanto a filha se esforçava para dormir Desirée pensou em como teria sido sua vida sem os filhos, sem ter visto seus primeiros passos ou escutado suas primeiras palavras.

A duquesa sabia que o cerco se fechava em volta dos mentirosos mais cedo ou mais tarde. Nunca havia mentido, nunca enganou ninguém, não até se ver presa em um compromisso que não era seu.

Aos dezessete anos ela foi prometida em casamento a um homem - que hoje não é seu marido, por seu pai. A verdade, que poucos ousavam falar na época, é que Eliab Lovecraft, barão de Fernsby, não teve escrúpulos e prometeu uma filha à um homem rico o suficiente para pagar suas dívidas de jogos, mas teve escrúpulos ao negar a sua filha mais nova e mais amada, ao suposto assassino de esposa. Liz sendo uma bastarda nunca seria aceita, então chegaram a um acordo mútuo.

Esse acordo tinha nome, falta de brilho e um sonho bobo de um dia ser amada.

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A jovem Désirée Marjorie Lovecraft, sempre foi uma jovem que merecia o título de lady invisível, então não se queixava de seu apelidado dado pela madrasta. As vezes a jovem se sentia grata pelo talento de passar despercebida. Day, como era chamada por sua irmã - ou quase, não era vista pelo pai ou por qualquer membro da família desde que não quisesse ser vista, o que acontecia com frequência.

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