Transato III

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Désirée estava sentada a mesa, jantando com o Barão, a Baronesa e sua irmã, o retrato perfeito de uma família perfeita, a mentira ideal.

A diferença gritante entre a família e Liz era que com a meia-irmã, Day sempre sabia o que dizer, e quando não sabia o que dizer, dizia mesmo assim, sabia que Liz a entenderia mesmo que nem mesmo ela o fizesse. Com a família, Desirée não falava, a menos que fosse solicitada, não demonstrava reação, e gostava disso, tinha certeza de que nada que a família dissesse poderia ser útil para ela. Aparentemente, a família também pensava o mesmo, pois se ela só fala quando solicitada, eles não a solicitavam.

Ou quase.

- Querida. -  Começou o barão enquanto a esposa comia. -  Conseguiu ver uma carruagem preta, quando esteve no parque?

A mulher parou o talher a caminho da boca. A expressão dela não foi uma das mais belas. Désirée desejou poder desenhar aquilo e guardar a caricatura para sempre, como uma herança familiar.

- Se faz referência a uma preta gigante, conseguimos ver sim.

Désirée se perguntou se era a que tinha visto com Gwen, se fosse ela, não tinha como “não” ter visto.

-"conseguimos"?

Foi a vez do pai, a jovem lady achou que não existiria expressão que superasse a da madrasta no quesito choque, mas a do pai superou.

-Sim. - Disse a mulher, mas como o homem não falou mais nada, apenas continuou com uma cara de “conte-me”, Gwen continuou falando. - Désirée foi comigo ao parque naquele dia.

O Barão ficou branco um segundo, os próximos segundos foram divididos por várias outras cores: vermelho, verde e por fim roxo. Uma reação um pouco exagerada. Se bem, que Gwen havia baixado uma lei – sigilosamente - onde as filha estava terminantemente proibida de socializar com Désirée e Liz, disso Désirée sabia, mas que o pai havia baixado a mesma lei no que se refere a esposa, era novidade. Não que ela não gostaria que fosse o caso, nunca mais ser obrigada a se reportar a madrasta. 

Que benção.

-O que foram fazer no parque sozinhas? - Perguntou o homem, quando recuperou a voz. - Achei que tinha levado Suzzy.

Sim, pensou a jovem, por que ela é mais propensa a receber o espírito da ajuda, caso algo acontecesse a Gwen, pensou Desirée com ironia.

-Ela estava ocupada e...

A mulher começou a explicar, mas logo foi interrompida pela filha.

-Não estava, aliás eu...

Houve um breve solavanco por baixo da mesa e um muxoxo de dor por cima da mesa. Depois silêncio.

Os membros da família se entreolharam e voltaram suas atenções para a refeição, exceto uma. Désirée, não havia parado de comer, ela podia muito bem comer e apreciar um espetáculo.

A moça não era tola. Sabia que estavam escondendo algo dela, sabia que existia uma distinção, sentia isso. Essa sensação durava meses. Já havia falado sobre isso com Liz, e em tempos nunca chegaram a uma conclusão do que era, e agora a jovem não ligava mais para o que quer que fosse, não afetou sua vida em meses e não faria isso agora. Desconfiava que se a colocassem no escritório do pai e lhe oferecessem a verdade, limpa e clara, ela não iria querer ver.

Não precisava.

Um detalhe importante sobre a jovem era que ela era uma pessoa que não era resistente ao conformismo, ela sabia aceitar. Aceitar e apenas. Não importava o que fosse, ela aceitava. E vivia bem assim, sabia que tudo se encaminhava para o que era de ser e não havia muito o que uma mulher pudesse fazer. 

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