Capítulo 31

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Quando uma árvore é cortada ela renasce em outro lugar. Quando eu morrer quero ir para esse lugar, onde as árvores vivem em paz.

Tom Jobim

(Divisória)

Allie

O mês de Symath possuía quarenta e três dias em um ano comum do nosso planeta. Um dos meses mais amenos e adoráveis de todo o ano, para quem não é alérgico ao pólen, como a Mikki, por conta do que chamaríamos de "O Florescer".

Segundo meus maravilhosos aprendizados, é o equivalente a primavera terrestre, em que as nossas almas se sentem extasiadas por tanta beleza em cores vivas que vinha das flores.

Mas esse mês não estava sendo muito adorável para mim...

Abel havia me chamado para o concurso, já fazia um belo tempo. Mas com tudo o que vinha acontecendo, a nossa relação estava um tanto quebrada, o que em nenhum momento foi a minha intenção. Nunca quis perder a minha amizade com ele! Sim, nós nos cumprimentávamos, treinávamos, mas ainda assim, não éramos capazes de sorrir um para o outro. E do jeito que o garoto estava a encarar o mundo nos últimos dias, parecia, literalmente, que ele não sorria há tempos, não para mim, o que me preocupava, como portadora de laços de amizade.

Para a minha sorte (frase meramente irônica), o dia exato do concurso caia exatamente no mesmo dia do Festival do Eclipse. Posso explicar de forma rasa que é quando o céu escurece e há uma espécie de explosões estelares lindas no céu, um fenômeno anual. Como uma apreciadora da Astronomia, eu não gostaria de perder, de jeito nenhum, isso.

Afinal, nosso povo fazia festa nas ruas, acreditando o quanto aquilo era sagrado e admirável. Mesmo que eu não fosse uma pessoa religiosa, eu tenho que afirmar que era realmente a coisa mais linda do mundo!

Mas esse não era o grande porém desse dia.

Abel estava faltando cada vez mais nos treinamentos das espadas, após as aulas, devido a sua permanência, decidida, no clube de dança do colégio. Eu nunca gostaria de admitir isso, mas ele fazia falta naquele ambiente. Seu jeito salafrário, a forma com que as suas bochechas coravam quando eu respondia suas críticas ou ainda o desafiava... Tudo isso fazia falta.

Não... Tudo nele me causava saudades.

Eu não sei, exatamente, o que pensei naquele dia. Senti uma dor no peito e me encolhi em um canto do vestiário masculino. Não, não haviam vestuários femininos na ala de treinamento, então Kaleo ficava na porta para que ninguém entrasse enquanto eu me trocava para treinar com o Abelhudo.

Abracei meu próprio corpo, sentindo uma pontada de raiva me invadir, em pensar nele com outra pessoa. Misturada a culpa e a tristeza, sentimentos que eu não compreendia e nem queria estar sentindo. Apenas fechei os meus olhos, me encolhendo o máximo possível e rezando para que aquele sentimento passasse logo.

Uma jovem que perdeu a noção do tempo descobrindo o seu ciúme.

Abel

Merda, merda, merda! Ela estava atrasada. A Allie costumava ser pontual aos nossos treinos em dias que não tinha treinamento na zona. Mas hoje, posso dizer que ela havia extrapolado no tempo. Não posso culpa-la, eu também havia faltado ao treinamento. Mas mesmo assim.

Mirei meus olhos ao espelho, por um momento, analisando olhos, nariz, boca... A mesma boca que, há dias, havia beijado o garoto a qual eu nutria sentimentos. Mas não fui capaz de ficar ali por mais de cinco segundos, desviando o olhar e começando a dançar com um completo desânimo em meu corpo, seguindo o ritmo lento do rádio.

Quando As Ruínas Chorarem (ℍ 𝕀 𝔸 𝕋 𝕌 𝕊)Onde histórias criam vida. Descubra agora