Allie
Eu pensava no quão fácil seria lutar com qualquer um dos garotos da minha suposta ala militar, sendo que eu nem possuía uma. Me pus na lista como apenas mais um garoto não-alistado que queria participar do torneio, afinal, isso era aberto a todos os meninos que quisessem, ainda que pudessem partir para a reencarnação. Mas isso é só um detalhe, não é? Para eles, sim. É impressionante o fato de garotos amarem se arriscar tanto, deve ser por isso que eles vivem menos. Fato é que eu estava enganada. Homens alistados e bem treinados de 13 a 20 anos, de toda Cortona lutariam tanto em corpo a corpo quanto lutas com armas escolhidas naquele estádio, e nunca seria fácil enfrenta-los.
Eu estava com uma espécie de capacete na cabeça, que imitava o visual de um gladiador, mas ainda assim era mais tapado, além de uma roupa que favorecesse o peitoral com a armadura, me fazendo parecer ainda mais um "macho alfa", como eles dizem. Percebia os olhares de alguns garotos sobre mim e os seus sussurros soltos ao vento. Ninguém estava com um visual tão caracterizado, e apesar disso, eu não estava com vergonha, pois de certa forma, os soldadinhos de encontravam intimidados. Agradeci pelo meu rosto estar coberto, pois eu estava surtando.
Meu olhar caiu sobre Abel, que escolhia uma espada na mesa de armas. Eu já havia escolhido a minha, e não poderia nem ir ajuda-lo. Precisava evitar contato.
O garoto parecia confuso entre tantas opções, mesmo que entendesse o que cada uma significava. Vi Aurellius pegar a espada que ele havia esticado a mão para pegar e sorrir maldosamente, falando algo. Eles estavam longe demais para que eu pudesse ouvir, mas pelo olhar amedrontado do Abelhudo, não parecia boa coisa. Senti a raiva subir para os meus olhos e acabei por cerrar os punhos e me afastar ainda mais, até que todos foram interrompidos por um chamado.
Era o Juiz principal, que acompanhado dos outros dois juízes em formação triangular explicavam sobre todas as disputas. Seria basicamente dividida em três certames principais, sendo que o primeiro é para testar as suas capacidades no campo de batalha e somar pontos, ainda que muitas pessoas o levem ao extremo, e o segundo é basicamente um combate de espadas, que se não for interrompido, pode ir até a morte. O terceiro é para decidir quem fica e quem sai.
Quando ouvi aquela palavrinha, de apenas cinco letras, a primeira pessoa que eu olhei foi o Abel, que ouvia as regras atentamente.
As lutas não foram custosas e muito menos chatas, o que contribuía para a minha ansiedade momentânea e notável. A maioria dos oponentes acabavam saindo em macas ou pelo menos com cortes no corpo, e não me refiro aos cortes pequenos que fazemos quando estamos cortando legumes. Podia facilmente se ver a perfuração no braço de um garoto, que tentava segurar as lágrimas, sussurrando um: "Eu sou homem!". Eu não sei se chorava ou ria com a situação dele, então optei por fazer os dois.
Parei de rir quando eu ouvi: "Neith Kyrell" ecoar no estádio e notar que era a minha vez de descer. Corri da forma menos feminina possível até o centro, e Aurellius não deixava de me observar. Pelo visto era ele que eu iria enfrentar.
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Quando As Ruínas Chorarem (ℍ 𝕀 𝔸 𝕋 𝕌 𝕊)
FantasyEm um lugar onde só meias verdades eram contadas para a sociedade, ela estaria disposta a ir atrás das verdadeiras respostas, ainda que elas lhe custassem a vida. Afinal, era verdade, aquele mundo estava completamente tomado pelo mal, onde seres rep...