Capítulo 39 - O milagre de Mikaela (Mikaela)

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Após acordar em seu quarto a primeira coisa que Mikaela fez foi correr para o quarto dos pais. Sua mãe não estava lá, mas o barulho de pratos sendo colocados na mesa a fez correr escada abaixo e entrar na cozinha.

Sarah servia a mesa e ela abraçou a mãe com todas suas forças. Enterrou o rosto no peito da mulher e chorou. Logo, uma mão pousou em sua cabeça e começou a fazer cafuné em seu cabelo.

— De onde veio isso, filha?

Mikaela não sabia como explicar sua saudade e só naquele momento se lembrou do que Noel dissera. A mente de sua mãe, assim como a de todos no mundo, devia ter sido alterada para não pensar nos traumas que a feiticeira do inverno havia causado.

Preciso dar uma explicação para minhas lágrimas.

Então ela decidiu matar dois coelhos com uma só cajadada. Decidiu que a primeira coisa que diria à mãe era que ela sabia que as diversas viagens de "negócios" do pai para Nova York desde o começo do ano eram apenas uma desculpa para descobrir mais sobre o progresso da doença.

— Eu sei que o câncer do papai piorou. — Ela tirou de dentro de seu peito as palavras que a estavam consumindo desde que esbarrara com a carta que o pai recebera de seus médicos. Soltou a mãe e se forçou a encarar os olhos dela.

— O que? — Sarah perguntou, confusa. Mas antes de ouvir uma resposta voltou a abraçá-la e Mikaela retribuiu o gesto. — Meu Deus, filha... a quanto tempo você sabe?

— Isso não importa, mãe. — Mikaela olhou novamente nos olhos de Sarah e limpou uma lágrima que escorria na face dela. — Eu sei e não precisam esconder isso de mim. Sempre soubemos que o quadro do papai podia piorar, mas vamos enfrentar tudo juntos. Só peço que nunca mais escondam algo assim de mim, por favor.

Sarah ficou sem reação por um tempo, até que um sorriso tocou seus lábios.

— Desculpe, filha. Eu e seu pai não queríamos te assustar até termos resultados mais conclusivos. E à medida que as coisas foram piorando te contar se tornou uma tarefa impossível. Mas agora...

— Agora vamos enfrentar as coisas juntos, como uma família. — Ela cortou a mãe.

Sarah fez que não com a cabeça e isso a deixou confusa.

— Filha, no final das contas, tudo o que rezei este ano nos trouxe uma luz no fim do túnel. — Sua mãe soluçou e chorou, mas o sorriso em seus lábios não desapareceu. — Seu pai ligou ontem... os últimos tratamentos que começou a fazer estão mostrando um resultado positivo.

Foi a vez de Mikaela ficar sem reação.

— Ele está melhorando? — Conseguiu perguntar depois de um tempo.

— Os médicos disseram que não é nada certo, mas que os resultados são promissores. De alguma forma o tumor mostrou sinais de que está recuando... eles disseram que isso era algo impossível... disseram que era algum tipo de...

— Milagre? — Ela disse e então, sem conseguir mais se controlar, deixou o choro que guardava no peito escapar. Ela e a mãe choraram no meio da cozinha, abraçando uma a outra.

Mikaela só soltou a mãe quando escutou o som da campainha. Foi até a porta e quando encontrou Thomas do lado de fora sua mente entrou em modo automático.

— Por que você está choran...

Ela caiu em cima dele, abraçando-o. O garoto perdeu o equilíbrio e os dois caíram na sua varanda. Thomas a segurou em seus braços e ela pôde ver na cara dele que algo realmente fantástico também tinha acontecido com ele. Ela quase perguntou o que, mas ele a calou com um beijo.

E aquele beijo foi diferente do primeiro que partilharam. Os lábios dele se moveram urgentes sob os dela. Mikaela sentiu que Thomas entregou tudo o que sentia naquele gesto e ela fez mesmo. Fechou os olhos e deixou o sentimento fluir, guiando-a naquilo que era uma experiência nova e, na opinião dela, muito boa. Em algum lugar de sua mente ela sabia que se sua mãe os encontrasse assim na sua varanda ambos teriam muitas perguntas para responder. E mesmo assim, não dava a mínima.

Quando o loiro finalmente interrompeu o beijo, encostou a testa na dela. Mikaela olhou para ele e riu.

— Acha melhor irmos ver como o Daniel está?

Thomas sorriu e então algo atrás dela capturou a atenção do jogador de basquete.

— Pode ser, mas acho que primeiro vamos ter que responder algumas coisas para sua mãe.

Mikaela ouviu os passos apressados de Sarah e então sussurrou.

— Você pode correr pela sua vida se quiser.

Thomas fez que não com a cabeça.

— Prefiro ficar. — Ele sussurrou de volta. — Além do mais, super velocidade é o seu poder.

Depois de quase duas horas de explicações para sua mãe Mikaela conseguiu sair de casa com Thomas ao seu lado. O garoto ainda respirava, mas ela conseguia dizer que ele não voltaria a beija-la na frente de seus pais tão cedo.

Ela ainda ria quando chegaram à casa do xerife. Mikaela sentia que tudo estava dando certo naquele dia, mas ver o roqueiro seria a cereja em cima do bolo.

Pena que as coisas não acabaram como ela esperava. Daniel não estava em casa e de acordo com o vizinho, ele e o tio nem ao menos estavam na cidade.

A lista das crianças más e a feiticeira do inverno eternoOnde histórias criam vida. Descubra agora