Prólogo - O despertar da feiticeira

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Jack Frost gostava do polo sul, um dos poucos lugares onde os humanos ainda não haviam conseguido tocar com sua destruição e desrespeito pela natureza. Um lugar onde resquícios da magia do mundo ainda estava adormecida, aguardando uma nova era de deuses e maravilhas. Uma era que nunca chegaria se ele não fizesse nada quanto à destruição desenfreada do planeta.

De pé em uma vastidão de terra congelada, ele estudava com olhar distante um antigo círculo de runas gravados na superfície congelada da terra. Ele ainda se lembrava da última vez em que estivera ali, à centenas de anos. O círculo ainda parecia novo como no dia em que fora desenhado.

Apesar dos fortes ventos a seu redor, Jack distinguiu um em particular que soprou ao seu redor até ganhar a forma de uma jovem garota de cabelos prateados como os dele. Os dois tinham outras semelhanças, ambos possuíam uma pele branca como a neve, olhos azuis gelo, eram altos e esguios, mas enquanto ela era dona de uma beleza sobrenatural ele, em contraste, se parecia com a figura de um demônio de gelo. Orelhas grandes e pontudas, unhas no formato de garras e dentes pontiagudos não tornavam Jack a figura mais atraente de um recinto, não que ele se importasse com aquilo.

— Você tem certeza do que vai fazer, Jack? — A garota perguntou, segurando uma das mãos dele na dela. — Ainda podemos voltar atrás, podemos encontrar outro meio que não envolva...

— Já tomei minha decisão, Quione. — Jack a cortou, resoluto. — Precisamos fazer isto ou a terra nunca verá sua próxima era de magia. Os humanos já causaram estragos demais ao equilíbrio e não podemos ficar de braços cruzados enquanto o planeta morre.

Quione abaixou a cabeça, evitando olhar diretamente para ele.

— Mesmo assim, é da sua essência imortal que estamos falando. Se fizer isto, será o seu fim. Você não irá renascer quando a grande mãe despertar.

Uma voz forte e sombria invadiu a conversa dos dois. Uma voz que trouxe consigo um medo antigo e irracional.

— Foi ele quem ajudou a colocar o selo que prendeu a feiticeira do inverno da última vez, me parece justo ser ele quem pague o maior preço.

Jack trincou os dentes, suas pernas tremeram e ele precisou de toda sua força de vontade para não correr para o mais longe dali. A figura de Quione se desfez em uma ventania, mas logo se refez para poder encarar o recém chegado. Um enorme lobo negro, maior do que três homens, caminhava com calma até eles. Uma beleza de predador os forçava a não desviar a atenção dos olhos dourados do animal. Nenhum deles ouvira um único som que tivesse denunciado a aproximação do animal e, mesmo estando tão perto, mal podiam escutar o som que suas garras faziam ao tocar o gelo.

— Espírito da caça, é sempre um desprazer te ver. — Quione disse, com desdém.

— Três dos antigos estão aqui, como pede a tradição. Vocês querem gastar mais tempo com palavras inúteis ou vamos fazer o que sabemos que deve ser feito? — O lobo questionou, impaciente.

Ignorando o tom de intimidação do lobo, Jack apenas assentiu e caminhou até se posicionar no centro do círculo de runas. Buscando uma faca que sempre trazia presa ao cinto, ele cortou a palma da mão e fechou o punho com força para permitir que seu sangue azul escuro escorresse. Uma série de gotas tocou o chão de gelo que pisava e nesse mesmo momento ele, Quione e o espírito caçador iniciaram um cântico pronunciado em uma língua que à muitos anos os humanos haviam esquecido.

Ao terminar seu ritual, os três mergulharam em silêncio por um momento que pareceu eterno. Apenas o som do vento interrompia a calmaria e foi assim até que a terra tremeu e o som de gelo se rompendo irrompeu de debaixo da terra.

O chão debaixo de Jack se abriu e ele foi engolido pela escuridão. Quione gritou e levou as mãos até a boca, mas não tentou ajudá-lo. O lobo deixou escapar um uivo longo e poderoso, como se saudasse alguém que ainda não estava ali. Então as longas lanças de gelo começaram a sair da terra, seguidas por enormes blocos congelados que logo se uniram um ao outro, criando uma enorme construção de gelo.

— O que é isso? — Quione perguntou, observando o monumento que se erguia diante de seus olhos.

O som de uma risada cruel escapou da boca do lobo.

— Um castelo. — Ele disse. — Ela está reconstruindo seu castelo. A feiticeira sempre teve uma inclinação para uma entrada dramática, acho que certas coisas nunca mudam.

— Então nós conseguimos? Este será o início da nova era?

— Não sei se será um novo início, garota. — O lobo respondeu. — A feiticeira do inverno traz apenas o fim. Este é o fim desta era, o fim da era dos humanos. E no momento, isso é só o que me importa.

A lista das crianças más e a feiticeira do inverno eternoOnde histórias criam vida. Descubra agora