No momento em que as garras do boneco de neve acertaram o escudo, o corpo inteiro de Thomas tremeu. E depois, ele sentiu uma onda de energia quente e muito agradável percorrer seus músculos.
Energia.
Ele não fazia ideia de como sabia aquilo, mas cada célula de seu ser lhe dizia que energia pura inundava seus músculos. Thomas estava cheio de poder e precisava descarregar em algum lugar. Olhou para o monstro parado à sua frente no exato segundo em que a criatura se preparava para acertá-lo de novo.
— Sai! — Gritou e o acertou com seu escudo.
O metal brilhou e aqueceu, ao fazer contato com a neve esta se transformou imediatamente em fumaça e parte do boneco monstruoso se desfez como se fosse um picolé esquecido na praia. Quase metade do tronco superior foi destruído e o braço direito da criatura caiu no chão ainda se movendo, como que em busca de seu dono mutilado.
— Nossa, isso foi... — Mikaela sussurrou atrás dele.
Thomas não teve tempo para ficar surpreso porque o monstro rugiu, furioso, e investiu contra ele com o braço que lhe restava. Mais uma vez o escudo o salvou, mas desta vez seu inimigo estava atento e a mão de madeira se fechou na borda de metal dourada. Com um puxão, tentou arrancar o escudo de Thomas e ele o segurou como se sua vida dependesse daquilo. O que era a mais pura verdade.
Não apenas sua vida estava em jogo, mas também as de Mikaela e da mãe dela. Eu não posso deixar essa bola de neve idiota me derrotar.
Thomas travou os dentes e puxou seu escudo. Ele estava apavorado, só que de alguma forma o ato de estar lutando por alguém além de si mesmo foi o suficiente para faze-lo empurrar seu medo para o canto mais fundo de sua mente. Ele libertou seu escudo e investiu novamente contra o boneco de neve, colocando naquele golpe toda a energia que sentia vibrar em seus músculos e ossos.
Um grito horroroso e vapor preencheu a sala da casa. O frio e o calor açoitaram o rosto de Thomas, forçando-o a fechar os olhos. Quando os abriu, apenas restos de neve derretida e dois braços de madeira ocupavam o lugar do monstro.
— Eu consegui... — Ele disse, para si mesmo. Precisava daquelas palavras para poder acreditar que realmente estava seguro.
— Como é que você fez isso? — Mikaela perguntou, atrás dele.
Ela segurava sua mãe como se fosse o seu bem mais precioso. Mesmo com ela tentando manter o controle sobre a voz, Thomas podia dizer pelos olhos dela o quanto a garota estava assustada. Provavelmente tenho o mesmo olhar na minha cara.
Do lado de fora, Daniel voltou a apertar a buzina da van e isso serviu para lembrá-los que precisavam sair dali.
— Vem, vamos levar sua mãe para fora! — Ele disse e voltou a ajudar a garota a carregar a mulher.
Desta vez a senhora Dawson lhe pareceu leve como uma almofada e, surpreso, Thomas alçou as pernas dela com seus braços e a levantou como se fosse um bebê de apenas alguns meses e não uma mulher de mais de quarenta anos.
Mikaela não disse nada sobre aquilo, apenas manteve a porta da casa aberta e ele a seguiu para fora. Thomas notou movimentação na rua pelo canto do olho, ainda não estavam à salvo. Mais monstros os observavam e, largando as pessoas que carregavam, deslizaram em sua direção.
Para seu desânimo, aquelas criaturas pareciam tão rápidas quanto as que encontraram no parque e ele se deu conta de que não tinha como chegar até a van antes dos inimigos os alcançarem. Ele teria que enfrentar aquelas coisas, era isso ou permitir que todos fossem capturados.
Thomas engoliu em seco, mesmo com seu recém descoberto poder, a visão dos rostos dos monstros e os gritos deles ainda eram mais do que o suficiente para intimidá-lo.
Por algum motivo, o jogador de basquete se lembrou de um dia em que questionou seu pai à respeito de seu trabalho. Thomas havia perguntado como é que ele lidava com o medo e a perspectiva de um dia não voltar para casa. Seu pai não riu como se fosse algum tipo de herói que é intocado pelo medo, pelo contrário, admitiu que nunca, em mais de dez anos de serviço, aprendera a não ter medo. "Mas o segredo é transformar seu medo em ação, filho. Eu tento me focar no lema que descreve a minha profissão: Servir e proteger. Sempre penso nisso, o restante é fácil".
Naquela época Thomas enxergara aquelas palavras como um exagero do pai, mas agora, elas lhe pareciam o melhor conselho que alguém podia colocar em prática.
Use o medo para criar ação. Servir e proteger. O restante é fácil.
— Vai com o Daniel, vou atrasar essas coisas. — Disse à Mikaela, lhe entregando à mãe e correu ao encontro de seus inimigos antes dela ter a chance de responder.
Quatro bonecos de neve do mal estavam à sua frente e seu escudo encontrou os golpes dos dois mais velozes no grupo. Em sua cabeça, Thomas sabia que não tinha como um garoto de quatorze anos, por mais forte que fosse, segurar o impacto de uma porrada daquelas. Mesmo assim, ele o fez sem muito esforço. Cada golpe o preencheu de energia e ele enterrou seu escudo no peito do primeiro monstro, destruindo-o da mesma forma que o anterior.
O segundo foi rápido e sua mão de madeira se fechou ao redor do braço com o qual Thomas segurava sua arma mágica. Sem pensar, ele usou a outra mão para tentar se soltar e quando seus dedos pressionaram o pulso do boneco de neve, este se quebrou como se fosse apenas um graveto.
Thomas se viu livre e ficou olhando, pasmo, para o membro decepado da criatura. A chegada dos companheiros dela o fizeram se afastar, colocando seu escudo entre elas e ele. Pelo canto do olho, ficou feliz ao perceber que a van já estava em movimento e se afastava, ganhando velocidade aos poucos.
— E ai, quem vai ser o próximo que vai querer passar de neve para fumaça? — Perguntou aos inimigos, sentindo uma confiança esquisita diante do perigo mortal.
Os bonecos de neve olharam um para o outro e então atacaram. Mas não ele e sim a si mesmos. Confuso, Thomas ficou observando três monstros de neve se digladiando até que um deles começou a absorver os outros dois. O vencedor se transformou em uma versão maior e ainda mais horrível do que era antes.
Encarando um boneco de neve do mal, de pelo menos seis metros de altura e com seis braços e seis olhos, Thomas se xingou mentalmente. É nisso que dá pensar, mesmo que por um segundo, que as coisas estão indo bem.
O gigante de neve abriu a boca, só que ele não rugiu como Thomas esperava. Ao invés disso uma língua enorme e azulada pulou para fora e se enroscou em suas pernas, puxando-o como se ele fosse uma mosca e o monstro o sapo que espera pelo seu petisco.
Dentes de gelo afiados se fecharam ao seu redor e, tomado pelo horror, Thomas só teve tempo de colocar o escudo na frente.
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A lista das crianças más e a feiticeira do inverno eterno
ParanormalNo Polo sul, três criaturas mitológicas antigas tomam uma decisão vital para o mundo: Os humanos devem ser extintos! Assim começa a aventura! Agora, três adolescentes com poderes mágicos recém descobertos são nossa última linha de defesa contra um...