Capítulo 14 - Não sou covarde (Daniel)

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A queda foi assustadora, mas rápida. Daniel nem teve tempo de gritar porque quando abriu a boca para isso caiu com tudo dentro de algum tipo de lago. Ou ele imaginava que fosse um lago, tudo ao seu redor estava muito escuro então não tinha como ter certeza. Só o que sabia era de que estava dentro da água e precisava sair dali.

— Nossa, que frio! — Ele respirou fundo ao chegar a superfície e começou a movimentar braços e pernas para não afundar novamente.

Olhando ao redor, percebeu que estava em um lugar muito escuro, apenas uma fraca iluminação vinha do céu. A fonte da luz vinha de uma enorme lua e algumas poucas estrelas que pareciam dançar no céu.

Esquisito, com uma lua desse tamanho era de se esperar um pouquinho mais de luz.

O som de gritos ao longe chamou sua atenção e ele nadou na direção do barulho. Encontrou a margem do lago e saiu da água tremendo descontroladamente.

— Ee...emmm cha...cha..chamas — Balbuciou, mas seus poderes não funcionaram.

Sem ter uma ideia melhor do que fazer, resolveu seguir em frente. Andou na direção dos gritos, com cautela, para descobrir o que estava causando tudo aquilo. Enfiou as mãos nos bolsos da jaqueta molhada e apressou o passo. Logo começou a discernir algo do que era dito em meio a gritaria. Parecia algum tipo de briga de garotos.

— Chuta ele! Vai! — Alguém gritou e riu.

— O cara nem é homem para revidar! — Outro se uniu ao incentivo por violência.

Daniel viu três garotos, com não mais do que treze anos cada, cercando um outro que estava deitado no chão em posição fetal. De repente cada músculo de seu corpo congelou de vez, mas não porque estava molhado. Ele sabia quem era o jovem atirado no chão, conhecia muito bem aquela cena porque aquilo era algo que fazia parte de sua vida.

Uma parte de sua vida que ele queria esquecer.

— Vai Daniel, levanta! Mostra que o Denis está errado, mostra pra gente que tem um homem dentro de você! — O líder do trio caçoou e o chutou de novo. — Eu posso ficar aqui o dia todo, vai me fazer esperar até quando?

— Eu topo acabar com a sua espera. O que acha de me enfrentar, Lucas? — Um garoto de cabelos ruivos disse, se aproximando da confusão.

Por favor, isso não... de novo não!

Lucas se virou para dar uma resposta ao ruivo, mas foi ao chão após levar um belíssimo gancho de direita na cara. Os outros dois garotos se afastaram do recém chegado, eles claramente tinham medo dele. O que era engraçado já que o ruivo nem era tão mais alto do que eles e era até que um pouco magricela. Ele também aparentava ter a mesma idade de seus oponentes, mas algo à respeito do modo como seus olhos verdes estudavam cada um deles deixava claro que não seria uma boa ideia provocá-lo. A calça jeans de joelho rasgado e a jaqueta de couro lhe davam um ar de bad boy que colaborava e muito com o visual "você não vai querer se meter comigo".

— Calma ai, Jonas. — Um dos garotos disse. — A gente só estava brincando com o Daniel.

— Vão para casa, babacas. — Jonas respondeu. — A brincadeira acabou.

Distraído, ele não notou quando Lucas se levantou e o atacou. Os dois rolaram pelo chão trocando socos até que Jonas finalmente conseguiu ficar por cima. Ainda parado onde estava Daniel só conseguiu olhar para a outra versão de si mesmo que ainda estava no chão sem ter coragem nem para ajudar seu namorado.

Eu só precisava ter tido coragem. Se tivesse feito algo para...

Eu te avisei para parar de implicar com o Dani! — Jonas gritou, desferindo uma série de socos no rosto de Lucas.

A lista das crianças más e a feiticeira do inverno eternoOnde histórias criam vida. Descubra agora