Cleston não era uma cidade muito interessante. Thomas morava ali desde que se entendia por gente e em seus catorze anos de vida a coisa mais emocionante da qual conseguia se lembrar era a vez em que uma banda de Indie rock passou por ali. Os caras só precisavam de gasolina e direções, mesmo assim era um evento digno de nota na lista de "coisas legais que já aconteceram em Cleston".
Ele podia apostar que não existia lugar mais chato para se morar em todo o lado norte do estado de Nova York. Então, quando o convidaram para a festa no lago Drake, realmente não estava esperando grande coisa. Era véspera de natal e todo mundo ia estar lá. Só mais uma festa idiota, cheia de adolescentes fazendo coisas idiotas. Nada de mais. Se soubesse o quanto estava errado, talvez tivesse ficado em casa jogando videogame.
— Ai, mascote! Pega mais bebida para gente, beleza? — Brent, seu colega do time de basquete, chamou sua atenção, bagunçando seus cabelos loiros com as mãos.
Thomas revirou os olhos, mas se levantou e foi fazer o que lhe pediram. Odiava seu apelido no time por dois motivos: Primeiro, ele não era o mascote. Segundo, esse apelido idiota só servia para lembrá-lo de que era o mais novo na equipe, o novato do nono ano que recebera a "benção" do treinador e dos jogadores mais velhos para se unir ao time principal da Cleston High: Os águias douradas.
— Vocês já não beberam demais? — Ele perguntou e se arrependeu disso no mesmo instante porque começaram a rir de sua cara.
Brent ficou de pé, o garoto do décimo ano era mais alto do que ele, mesmo Thomas sendo o mais alto de sua classe com quase um e setenta de altura.
— Vai ser o suficiente quando a gente disser que é o suficiente. Hoje nós estamos comemorando, então que tal ajudar seus colegas de time a manter a festa rolando? — Brent disse e o encarou com seus olhos castanhos.
Seus cabelos arrepiados e modelados com gel lhe emprestavam mais alguns centímetros de altura e faziam Thomas lembrar de um porco espinho. Se Brent fosse um porco espinho, seria um bem branquelo, magro e engraçado. Thomas se controlou para não dizer nada do que lhe vinha à cabeça, não tinha medo dele, mas precisava se manter numa boa com o time. Eles poderiam sabotar seu jogo e fazê-lo perder sua vaga na equipe e isso iria arrasar com seu irmão Nathan, que adorava ir assistir suas partidas.
Nathan gosta de me ver jogar, lembre disso. Engole o orgulho e abaixa a cabeça. Eu devo isso à ele.
Thomas pensou consigo mesmo e forçou um sorriso falso.
— Beleza, vocês que mandam. — Deu de ombros e atravessou o grupo de adolescentes que se espalhava pelas margens do lago Drake, indo atrás de mais bebidas.
Graças às cores de seu uniforme de basquete Thomas era um ponto laranja em meio à multidão. Ele vestia seu casaco e calça esporte, com seus tênis favoritos. Para afugentar um pouco o frio que sentia, enfiou as mãos nos bolsos e tentou seu melhor para não esbarrar com ninguém.
Naquela noite os águias douradas comemoravam o fato de terem se qualificado para disputar o campeonato estadual. Não era a primeira vez que se classificavam e nas duas últimas vezes eles nem ao menos chegaram perto de vencer a disputa. Mas o verdadeiro motivo para festejar não era o campeonato e sim o fato de que naquele ano, pela primeira vez nos últimos cinco anos, o time de basquete era o destaque nos resultados dos campeonatos esportivos estudantis e não o de basebol.
Normalmente as únicas conquistas que chamavam a atenção eram as dos Tigres de Cleston, graças à estrela juvenil número um do estado de Nova York e a garota pela qual ele tinha uma queda desde os doze anos: Mikaela Dawson.
Desde que Mikaela iniciou sua carreira como rebatedora ninguém falava de outra coisa. O pai dela, Jacob Dawson, também fora um grande nome do basebol e suas conquistas eram tidas como símbolo de orgulho para todos na cidade. Quando Jacob foi forçado a se aposentar devido a uma lesão no joelho, Mikaela se tornou o mais novo símbolo de orgulho de Cleston. "Tal pai, tal filha", era o que todos diziam.
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