Daniel pisou fundo no acelerador e manobrou pela rua de Mikaela, tentando ignorar ao máximo o medo de capotar o veículo. A imagem que viu pelo retrovisor o ajudou a pensar em outra coisa, mas não de uma boa maneira.
— Meu Deus, aquela coisa engoliu o Thomas!
Ele e Mikaela olharam para trás bem a tempo de ver uma versão GG de um boneco de neve do mal devorar o jogador de basquete.
— Eu não acredito... — Mikaela sussurrou e abraçou ainda mais a mulher em seus braços. — O que fazemos agora?
A gente corre, o que mais podemos fazer? Ligar para o Godzilla?
Daniel fechou os olhos e se xingou por seu pensamento covarde. Parou a van e se forçou a encarar o monstro enorme que agora os observava com curiosidade. Como se fossem o próximo item de seu cardápio. Ele pensou no papai Noel e em como havia fugido da floresta. Agora, Thomas... Chega! Não quero mais fugir! O Jonas jamais deixaria um amigo para trás!
Pensar no seu ex-namorado e em como ele sempre parecia disposto a enfrentar o mundo para proteger seus amigos era algo que Daniel fazia muito desde que se mudara para Clarence. Estava cansado de não ter coragem para se impor e tinha decidido que ali seria uma pessoa nova. Uma versão melhor de si mesmo. Alguém de quem Jonas teria orgulho.
— Olha, Daniel! A boca daquela coisa está brilhando! —Mikaela disse, lhe chamando a atenção.
E realmente tinha um brilho dourado na boca do monstro. Aos poucos, algo abriu as mandíbulas de neve e Daniel ficou chocado ao perceber que Thomas estava fazendo aquilo sozinho!
— Temos que ajudá-lo! — Mikaela gritou.
— E nós vamos!
Sem nem perceber ou compreender o que estava fazendo, Daniel desceu da van e correu na direção da luta. O colar em seu pescoço brilhou e seu corpo todo ficou muito quente. Quando deu por si, suas mãos estavam em chamas. Por puro instinto, fechou os punhos e sentiu as chamas aumentarem sua intensidade. Elas pareciam prontas para disparar ao seu comando, e foi isso o que ele fez.
— Solta o loiro! — Gritou e impulsionou as mãos para frente.
Dois raios de fogo voaram e acertaram o boneco de neve na cabeça. A criatura abriu a boca para gritar e isso ajudou Thomas a sair de onde estava. O garoto pulou e rolou pelo chão, ficando de pé e com o escudo pronto para outra briga.
— Pensei que você ia gritar "em chamas" — Thomas disse e riu ao olhar para ele. Pela cara do loiro, centenas de perguntas deviam estar passando em sua cabeça.
O roqueiro não conseguiu evitar e também caiu na risada.
— Não quero ser um herói de uma franquia ruim de filme. Depois vou pensar em uma frase de efeito melhor do que "solta o loiro". — Disse.
Dois buracos fumegantes se formaram onde as bolas de fogo acertaram o monstro de neve e ele não parecia feliz com aquilo. Com um rosnado, avançou na direção dos dois e tentou agarrá-los com suas enormes garras de madeira. Thomas se agachou e rolou pelo chão, conseguindo escapar ileso, mas Daniel não teve a mesma sorte.
— Tiras as patas de mim! — Gritou, colocando suas mãos em cima dos dedos grotescos que o apertavam.
Suas chamas incineraram a madeira e ele se viu livre. Caiu no chão e tentou rolar com a mesma agilidade do loiro, mas "esportivo" não era uma palavra que o descrevia bem. Daniel grunhiu quando sentiu o tornozelo direito torcer e ele ficou estirado no chão coberto de neve.
Thomas correu na sua direção, mas o boneco de neve gigante voltou a abrir a boca e libertou sua língua. Desta vez o jogador de basquete estava preparado e ele pulou para trás, se distanciando da língua que balançava como uma serpente cor azul gelo. Ela se voltou na direção de um alvo mais fácil e Daniel tremeu quando a viu se aproximar dele. Ele disparou uma bola de fogo, mas a língua desviou no último instante e se enroscou na sua perna. Um puxão o fez gritar e quando deu por si, já estava à caminho da boca do boneco de neve.
Preciso reagir!
— Espero que goste de pimenta! EM CHAMAS! — Gritou e fechou os olhos, puxando cada gota de poder que sentia correr pelo seu corpo.
Quando abriu os olhos viu seu mundo escurecer ao entrar na boca do boneco de neve e depois tudo ficou muito claro e muito, muito quente. Ele realmente estava em chamas!
A língua o soltou garganta abaixo, mas Daniel não caiu por muito tempo. De alguma forma seus poderes o fizeram flutuar onde estava e ele riu. Olhou para cima e então decidiu que podia sair daquela situação com um pouco mais de estilo. Voou para baixo até onde imaginava ser o estômago da criatura e então expandiu suas chamas. Uniu os punho para disparar um raio de fogo maior e fez um buraco enorme na barriga do boneco de neve gigante.
Quando finalmente se libertou, pousou ao lado de um Thomas que o encarava boquiaberto. Olhou para trás bem a tempo de ver o que restava do seu inimigo se desfazer em uma poça de água. Os braços de madeira ficaram na rua, queimando e sem se mover mais.
Daniel olhou para Thomas e deixou suas chamas morrerem.
— O que aconteceu com "preciso de uma frase de efeito melhor?" — O loiro perguntou.
Dando de ombros, ele respondeu.
— Às vezes precisamos respeitar os clássicos.
Com uma última olhada na direção dos restos de seu inimigo os dois correram de volta para a van onde Mikaela os esperava. Por mais que estivesse se sentindo incrível, Daniel não queria esperar que outros monstros decidissem dar as caras por ali.
Enquanto isso, na floresta de Clarence
O Lobo caçador voltou a apurar seus sentidos e farejou o chão e as árvores. Não havia nenhum sinal do maldito cetro mágico de Noel naquelas matas. A feiticeira do inverno não iria ficar nada feliz com aquilo.
— Pensei que ela tivesse o poder necessário para enterrar os humanos debaixo de gelo. Por que diabos ela quer tanto aquele cetro? — Ele se perguntou, não pela primeira vez desde que fora deixado para trás para recuperar a arma mágica.
Então o seu olfato finalmente captou alguma coisa além dos cheiros da floresta ao seu redor. O cheiro inconfundível de magia fresca. E curiosamente o odor não estava perto da mata, ele vinha de algum lugar dentro da cidade que os homens haviam erguido naquela região.
Deixando a cobertura das árvores, o Lobo caçador olhou para o conjunto de prédios, casas e ruas que compunham a selva de concreto que os humanos chamavam de civilização.
— Então é aí que você foi parar, já estava quase perdendo a minha paciência. — Ele sorriu satisfeito.
Sem querer perder mais tempo que o necessário dentro do território dos humanos o lobo começou a correr, seguindo o rastro que seu olfato lhe mostrava com clareza.
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A lista das crianças más e a feiticeira do inverno eterno
ParanormalNo Polo sul, três criaturas mitológicas antigas tomam uma decisão vital para o mundo: Os humanos devem ser extintos! Assim começa a aventura! Agora, três adolescentes com poderes mágicos recém descobertos são nossa última linha de defesa contra um...