Capítulo 32 - Muitos motivos para não desistir (Thomas)

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A queda parecia não ter fim e Thomas fez uma anotação mental de nunca mais pular em um abismo sem ter cem por cento de certeza de que poderia sobreviver. Caso ele e Mikaela não se transformassem em panqueca, ele com certeza iria se lembrar de não repetir aquilo.

Para piorar, a escuridão opressora ao seu redor estava acabando com sua noção de tempo e espaço, era uma sensação horrível. Tarde demais uma ideia lhe ocorreu, ele tinha força e resistência sobrenatural para aguentar o impacto que viria a qualquer segundo, mas Mikaela não.

— Não achei que o buraco fosse tão fundo! — Ela o abraçou com mais força, parecendo dividir seu receio.

— Nem eu! — Agindo puramente por instinto, mentalizou uma ordem ao seu escudo e rezou para que sua ideia desesperada desse certo.

Nas suas costas, o escudo começou a vibrar, escapou do cinto que o prendia e voou até ficar abaixo deles. Quando finalmente chegaram ao fim da viagem a aura de poder do escudo, de alguma forma, ajudou a amortecer a força da queda. Mesmo assim Thomas trincou os dentes quando caiu em cima de sua arma mágica e sentiu cada osso de seu corpo tremer. Soltou Mikaela e a garota rolou com agilidade pelo chão.

— Nunca mais vamos repetir a dose disso! — Ela conseguiu ficar de pé com um pouco dificuldade, mas Thomas respirou aliviado ao ver que ela parecia bem.

Sua alegria durou pouco.

A primeira coisa que percebeu foi o tamanho da caverna, ela era enorme. Uma luz esverdeada, emitida por estranhas raízes que atravessavam o chão e paredes, banhava o lugar. Olhando com um pouco mais de atenção, ele decidiu que "raízes" não era a palavra adequada para descrever aquelas coisas. Elas pulsavam como se fossem veias. A segunda coisa que notou foi Daniel, que passou voando por cima de sua cabeça. Só que ele não voava por causa de seus poderes e sim porque alguma coisa o havia arremessado por cima dele.

O roqueiro caiu e rolou pelo chão e eles correram para ajudá-lo.

— Você está bem? — Perguntou, ajudando o garoto a ficar de pé.

Daniel limpou um filete de sangue que escorria de seu lábio cortado.

— Depende, se a sua definição de "bem" envolve levar uma surra de uma feiticeira e ser arremessado para lá e para cá, nesse caso estou ótimo. — O roqueiro resmungou.

Uma risada horripilante da qual Thomas sempre iria se lembrar chamou sua atenção e ele olhou para trás. A feiticeira olhava para eles, sustentada acima do chão por tentáculos que se amarravam a seus braços e pernas.

— Noel mandou mais crianças para tentar me deter? O velho está mesmo no fim de seus dias. — Lauriel disse e sorriu com deboche.

Ela estalou os dedos e dezenas de lanças feitas de gelo surgiram à sua frente. Thomas puxou Daniel para trás de si bem a tempo de protegê-los do primeiro ataque. Sentiu o braço tremer a cada lança que batia e explodia em seu escudo.

— Mika? — Olhou para os lados com medo porque a garota simplesmente desapareceu.

Tentou olhar para frente, mas as lanças de gelo continuavam a chover sobre eles sem piedade. Acima do gelo explodindo só o que ele ouvia era a risada de Lauriel.

Então os risos foram substituídos por um berro de dor e os ataques cessaram. Thomas olhou por cima do escudo e viu quando alguma coisa acertou o rosto de Lauriel e a fez cuspir sangue azul.

Mikaela só ficou visível para ele quando pisou no chão, mas ela logo desapareceu mais uma vez. Ele já sabia que com seus poderes ela conseguia ser muito rápida, mas antes ainda era possível ver a garota como se ela fosse uma imagem desfocada.

A lista das crianças más e a feiticeira do inverno eternoOnde histórias criam vida. Descubra agora