Capítulo 5 - E agora? (Daniel)

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Daniel segurava o volante com tanta força que estava surpreso por ainda não o ter quebrado. No momento em que as rodas da van subiram no asfalto da pista o seu mundo girou, e por consequência, também os de Thomas e Mikaela. Ele gritou, sem cerimônia alguma, enquanto tentava recuperar o controle do veículo que decidira brincar de rodopiar na estrada.

Não pise no freio!

Esse foi o primeiro pensamento que lhe veio à cabeça. Daniel se lembrava muito bem das aulas que fizera ao lado de seu pai antes de se mudar para Clarence. Peter adorava ensinar pelo menos dez vezes a mesma lição de trânsito, ou até vinte se tivesse a chance, e pela primeira vez em sua vida Daniel ficou grato pelos cuidados que seu pai tomou ao lhe ensinar. Atualmente, essa precaução era uma das poucas coisas boas que atribuía ao homem que o botara para fora de casa.

Controlando seu pânico, Daniel começou a desacelerar aos poucos. A van derrapou mais um pouco na neve e saiu dos limites da pista, por pouco não batendo em uma árvore. Respirando fundo, o roqueiro agradeceu sua sorte.

— Pensei que tinha dito que sabia dirigir! — Thomas reclamou em seu ouvido, depois de se recompor. O loiro estava mais branco do que o de costume.

— Eu disse que tirei a minha permissão, caso não saiba, tem uma diferença gigante entre isso e ser habilitado. — Ele respondeu, irritado. — Nunca dirigi sozinho nem em condições normais de temperatura e pressão, o que acha que posso dizer de fazer isso durante uma nevasca sendo perseguido por bonecos de neve monstruosos?!

— Por falar neles, vamos discutir leis de trânsito quando estivermos seguros? — Mikaela apontou para trás, onde Daniel conseguiu ver dois bonecos de neve seguindo na direção deles.

Acelerando com cuidado ele colocou a van de volta na pista e seguiu rumo ao centro da cidade. Só depois de alguns minutos conseguiu criar coragem para espiar pelo retrovisor e sorriu ao constatar que não tinha nenhum monstro na sua cola.

Do parque até a cidade era um trajeto de mais ou menos quinze minutos, mas a pista escorregadia e o medo que sentia de acelerar demais e acabar batendo o carro davam a Daniel a certeza de que levaria quase o dobro do tempo para chegar ao seu destino.

— Só para saber, vocês tem alguma ideia do que faremos a seguir? — Perguntou, tanto para saber o que seus colegas pensavam quanto para manter a calma.

— Vamos direto para polícia. — Thomas respondeu de imediato.

Daniel olhou para o garoto através do retrovisor e arqueou uma sobrancelha.

— É mesmo? E vamos dizer o que?

— Como assim? Tem gente sendo arrastada para floresta por monstros. A polícia precisa...

O loiro parou de falar, como se tivesse acabado de se dar conta do absurdo da situação.

— Daniel tem razão. — Mikaela disse e ele passou a gostar muito dela naquele momento. — Não vão acreditar na gente e quem pode culpá-los?

— Então mentimos. — Thomas insistiu. — Podemos só dizer que tem alguma briga fugindo do controle e...

— E nesse caso o meu... — Daniel percebeu que quase disse "tio", mas decidiu que a situação requeria um pouco mais de formalidade. — O xerife vai até lá sem reforço algum. O que acha que ele vai fazer contra um bando de monstros de neve? Isso para não mencionar a Elsa do mal, a garota vento e o lobo mau.

— De novo, sou forçada a concordar com ele. — Mikaela disse e cruzou os braços. Ela não conseguia parar de olhar para traz da van.

Conferindo mais uma vez se alguém os seguia, Daniel ficou aliviado por não encontrar sinal de ameaça e estacionou na margem da pista.

A lista das crianças más e a feiticeira do inverno eternoOnde histórias criam vida. Descubra agora