Capítulo 6 - Cidade adormecida (Mikaela)

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Inacreditável, para Mikaela a situação era inacreditável. Primeiro eles encontraram com o papai Noel, não um velho qualquer vestido em uma fantasia para trabalhar em shopping, mas o artigo genuíno. Depois, assistiram Noel ser atacado por inimigos mágicos e aterrorizantes. Pouco depois disso vieram os bonecos de neve saídos de pesadelos e agora haviam conseguido quebrar o cetro mágico que deveriam proteger. Tudo era simplesmente inacreditável.

— Está feliz agora? — Ela perguntou para Thomas, enquanto analisava o bracelete dourado preso em seu antebraço direito.

— Eu não planejei nada disto! — O garoto reclamou, tentando retirar seu bracelete dourado, sem sucesso algum. — Essa coisa está presa em mim!

— Será que tem alguma palavra mágica para que essas coisas abram? Sei lá, tipo os heróis das revistas em quadrinhos. Alguns deles ativam seus uniformes e aparatos com palavras mágicas. — Daniel sugeriu.

Rindo, Mikaela encarou o garoto com camisa de banda de rock.

— Não estamos em uma história em quadrinhos. — Disse.

— Bom, também não estamos em uma situação muito diferente de uma ficção, não é mesmo? — Ele devolveu e lhe mostrou a língua.

Ele acabou de me dar a língua?

Mikaela estava pronta para responder quando outra coisa chamou sua atenção. Do lado de fora da van a tempestade de neve começou a engrossar.

— Acho melhor sairmos daqui. — Thomas disse, ele parecia ter notado o mesmo que ela e claramente partilhava de suas preocupações. — Não queremos um novo encontro com os bonecos de neve, certo?

Daniel nem precisou de um convite, o garoto voltou ao banco do motorista e, depois de brigar um pouco com o motor, conseguiu dar vida ao veículo. Eles entraram em Cleston pela rua principal e Mikaela sentiu um aperto no peito quando seus olhos encontraram pessoas largadas pelas ruas, todas caídas no chão, sentadas em bancos de uma praça ou até mesmo dentro de seus carros parados no meio da rua.

— É a mesma coisa que vimos lá na festa... — Thomas murmurou e ela percebeu um tremor na voz dele.

— Acha que aqueles monstros já estão aqui? — Ela perguntou e começou a procurar por sinais deles.

O loiro não respondeu, ao invés disso se ocupou de pegar o celular no bolso da jaqueta laranja e ligou para alguém, provavelmente para sua família. Ela fez o mesmo, ligando para sua mãe. Percebeu que Daniel também já discava um número no seu celular e depois de alguns segundos os três trocaram olhares preocupados.

— Ninguém atendeu? — Mikaela arriscou um palpite.

— Caixa de mensagem. — Daniel respondeu, preocupado. — Meu tio raramente deixa isso acontecer.

— Também não consegui falar com o meu tio e nem com meu irmão. — Thomas disse.

Daniel dirigia devagar e com cuidado, desviando de outros carros e também de pessoas que haviam desmaiado no meio da rua. Mikaela reconheceu alguns dos desacordados, como seu vizinho, o velho Barnes. Seu treinador do time de basebol parecia dormir com a cara enfiada no carrinho de cachorro quente que tinha na frente da prefeitura, dois policiais estavam caídos atrás dele.

Preciso ir até minha casa... preciso saber se minha mãe está bem.

Ela abriu a boca para pedir que Daniel a levasse até sua casa, mas não conseguiu pronunciar as palavras. Como poderia? Era óbvio que ele e Thomas deviam estar pensando o mesmo que ela. O silêncio entre eles cresceu, dando espaço para que o medo no coração dela aumentasse cada vez mais.

A lista das crianças más e a feiticeira do inverno eternoOnde histórias criam vida. Descubra agora