Prólogo

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Não adiantava insistir.
O velho portão não abria, e ele já estava perdendo a paciência.
Olhando ao redor, Steve Burten  suspirou pesadamente.Tinha que contratar uma manutenção para consertar aquele portão o mais rapidamente  possível.
Enfiou novamente a chave na fechadura e nada. Praguejou baixinho.
Steve era um homem acostumado a ter todas suas vontades prontamente atendidas, e aquele velho portão estava irritando-o profundamente.
_Vamos lá, vamos lá...
Impaciente, girou a chave com força, e como que por encanto, o portão se abriu.
Então, ele entrou em sua Mercedes preta e dirigiu rapidamente  pela alameda que o levaria até a velha mansão.
Ao chegar ao topo da colina,  Steve desceu do carro e suspirou satisfeito. Aquele lugar era realmente o que estava precisando.
Um lugar distante e solitário com uma vista maravilhosa para o mar de Gales e longe o suficiente de Londres para relaxar tranqüilamente.
A velha propriedade de paredes descoloridas seria seu refúgio durante três longas semanas onde estaria ausente dos burburinhos sociais, negócios e reuniões exaustivas. Ele não estava ali de boa vontade, mas  ao se deparar com a natureza indomável, respirando aquele ar puro, começou a mudar de idéia sobre sua ida para aquele lugar isolado.
Na semana do natal, retornaria para Londres para cumprir sua longa agenda social.
Possivelmente, viajaria com Emma para os Alpes Suíços.
Steve caminhou pelo jardim descuidado da mansão. Mesmo o ar de abandono da mansão dava um charme todo especial ao lugar.
Voltar para Londres no Natal seria uma tarefa complexa, pensou ele desanimado.
O natal havia perdido todo o encanto, desde que seus pais morreram  seis anos atrás, num acidente de carro em Monte Carlo.
Desde então, ele sempre cumpria uma agenda informal de jantares beneficentes ou de viagens no seu iate alguns poucos amigos. O natal tornou-se apenas um dia comum que ele ansiava  que acabasse logo, para poder voltar a sua rotina solícita e abençoada. 
Steve continuou aproveitando o ar frio e o ambiente melancólico da sua nova propriedade.
A solidão lhe fazia bem.
Mas o ele não podia negar para si mesmo, era  que sentia muita falta dos seus pais e das grandiosas festas promovidas pela sua mãe, Anne Burten.
Anne era uma mulher maravilhosa e sabia como ninguém fazer do natal, uma ocasião muito especial. Na véspera, ela organizava uma ceia íntima compartilhada apenas com a família, ou seja, ela , seu pai Hilton Burten e ele mesmo.
No dia seguinte, entretanto, ela preparava um grande almoço onde todos os antigos amigos do casal e os funcionários graduados das empresas Burten  eram convidados a comparecer com suas esposas e filhos.
Com o passar dos anos, esse almoço se tornou concorrido e esperado por todos. Anne e Hilton Burten sentiam um grande prazer em receber todos na  sua mansão de St James.
Adoravam ter  grande casa em estilo vitoriano cheia de pessoas, cheia de alegria e contentamento. Nessa ocasião, todos  se divertiam  muito  e havia a tradicional e bem humorada troca de presentes em frente a enorme árvore de natal.
Anne sabia como ninguém agradar a todos, principalmente as crianças, que eram os personagens principais da festa.Steve sentia muita falta de seus pais e do ambiente familiar e afetuoso que havia perdido.
Seu apartamento em Mayfair era luxuoso, prático e funcional, mas não tinha o ambiente aconchegante e familiar  da casa de seus pais.
Tudo em sua vida estava muito diferente. Ele sentia que havia perdido seu eixo com a morte dos pais. Agora estava sozinho.
Steve riu de si mesmo.
Sentir-se sozinho parecia até ironia _ pensou Ele.
Sendo o tipo de pessoa que todos acreditavam ter uma vida perfeita, considerar-se um lobo solitário era no mínimo controverso. Os negócios da família Burten envolviam telecomunicações, telefonia e computadores, e ele era o único herdeiro desse vasto império espalhado pelo mundo todo.
Steve possuía uma conta bancária bilionária, além de uma beleza marcante. Aos trinta e oito anos era um dos solteiros mais cobiçados da Europa, mas ainda não havia encontrado nenhuma mulher que tocasse verdadeiramente seu coração. Inclusive,  ultimamente, apesar da companhia da estonteante Emma, vinha se sentindo estranhamente vazio.
Steve suspirou.
Estava em Rainbow Hill! Fora exatamente o nome diferente que o atraíra para aquela propriedade.
Numa noite, ele estava num jantar beneficente, quando conheceu Jordan Richmond. Jordan era arqueólogo, e estava de mudança para o Senegal e falara de seu desejo de se desfazer de sua propriedade. Steve lhe disse que desejava conhecer a casa.Uma semana depois, viajou até Gales e, quando viu a mansão e o bosque que circundava área, ficara simplesmente encantado. Era como se a qualquer momento uma linda fada fosse aparecer saída daquela imensa parede verde.
Steve riu do  pensamento estranho que o perseguia desde que comprara a velha mansão.
Olhou  novamente para a velha casa. Ela estava muito descuidada e em nada lembrava as propriedades que sua família possuía pela Europa. As residências  dos Burten  eram famosas por serem luxuosas e muito bem decoradas. As revistas de decoração adoravam mostrá-las em suas páginas.
Mas o ar desolado de Rainbow Hill agradava-lhe  bastante. Desde que vira a casa pela primeira vez decidiu que iria comprá-la. Ele dispensou a ajuda habitual de decoradores e jardineiros e cuidou de tudo pessoalmente.Não pretendia fazer mudanças excepcionais  na casa. Pretendia mudar somente as coisas  que fossem extremamente necessárias.Viajou para Gales durante dois meses, contratou pessoal do local para reformar a cozinha, modificar o sistema de aquecimento central e instalar uma moderna banheira de hidromassagem.
Em pouco tempo,  ele conseguiu uma casa perfeita, com uma linda paisagem, um freezer com bastante comida, uma televisão, uma deliciosa banheira e pronto!
Perfeita para Steve  Burten.
O que não diriam seus amigos se o vissem tão satisfeito com o mínimo de conforto  a que ele estava acostumado? O que não diria Emma?
Steve sorriu melancolicamente  ao lembrar da namorada.
Emma  Philips era filha única de um importante e influente político londrino. Ele a conheceu  num jantar  beneficente no Castelo de Windsor e mantinham um relacionamento afetivo  há aproximadamente três meses.
Steve se sentia bem na companhia de Emma . Ela era jovial aos 34 anos, além de bonita, educada e rica. Era uma pessoa agradável, embora fria. Ele reconhecia que a relação que viviam não era das mais ardentes, e que Emma não era a mais sensual das mulheres.
Eles não  costumavam manter relações sexuais freqüentes, mas  Emma não lhe cobrava fidelidade, desde que ele fosse discreto em suas investidas.
E Steve  sempre encontrava alguém desejável e disponível para distraí-lo. Emma aceitava tudo tranqüilamente. Ambos sabiam que viviam uma relação de conveniência, vantajosa para os dois.Steve tinha prestígio e dinheiro e  Emma  tinha a beleza e elegância  que encantava a todos.
Apesar de trabalhar mais de dezesseis horas para manter seu sucesso profissional, Steve sempre arrumava tempo para acompanhar Emma nas diversas festas, restaurantes, desfiles de moda, shows beneficentes e outros tantos eventos em que eram convidados. Emma gosta de viagens  e de viver cercada de amigos.Os dois eram sempre presenças marcantes em todas as festas mais badaladas de Londres.
Zachary Murray seu advogado e melhor amigo não escondia que achava a relação dos dois superficial.
Mas Steve não revidava. Mas acreditava que a   relação era perfeita e muito conveniente.Emma era o tipo de mulher que não fazia nenhum tipo de pressão psicológica, e ele sentia-se livre para fazer o que bem entendesse.
Um dia, enquanto almoçavam Zachary lhe desabafou:
_Não sei como você consegue manter um relacionamento sem se envolver afetivamente Steve.Isso é loucura. O seu relacionamento com Emma não existe, como pode uma mulher normal, não se importar em ver seu homem saindo com outras mulheres?
_Não vejo nada demais. Respondeu Steve na defensiva. _ Emma quer se divertir. E eu também.Não pretendemos nada sério.
O amigo o olhou incrédulo.
_ Steve, meu caro, você não está mais na idade de se divertir. Você tem que encontrar uma mulher de verdade que o  faça você rever todos  seus conceitos. Você tem que conhecer o valor de palavras como fidelidade, companheirismo, felicidade. Então, terá diante de si o amor verdadeiro.Irá casar, ter filhos e ser feliz para sempre.
Steve riu cinicamente.
_Olha só quem fala! Você só pode está enlouquecendo! Como pode me dar conselhos, se você ainda não se casou? Pare de falar besteira e não fique arrumando casamento para mim.- Disse Steve bebendo seu café, e encerrando a conversa.
Steve, porém, não revelou ao amigo que ultimamente, vinha sentido um sentimento estranho, uma inquietação interior que o atormentava imensamente.Era um vazio na alma, um sentimento de solidão tão grande que nada, nem ninguém o preenchia.
Por causa desses sentimentos, ele se via fazendo várias coisas ao mesmo tempo.
Trabalhava exaustivamente durante o dia e quando saía do escritório, ia para o clube onde participava de longas noitadas regadas a muito uísque e mulheres.
Estava dormindo menos de quatro horas por dia, mas mesmo assim ainda arrumava tempo para velejar, jogar golfe e tênis. Estava se cansando até a exaustão, porém nada abrandava aquela angústia no seu peito.
Na verdade, não queria admitir para si mesmo que não sabia o que estava buscando. Até que uma semana atrás fora parar no médico que diagnosticou exaustão física e mental._Descanso é o seu remédio, disse-lhe o médico.
Zach ao ficar sabendo da recomendação do médico, praticamente o obrigou a viajar para se recuperar.
_Você precisa colocar a cabeça no lugar meu caro. Inclusive sobre aquela afirmação que a Emma só quer se divertir. Você é um tolo se continuar pensando assim. Quando ela te fisgar, você vai ver como as coisas mudam de figura. 
Então,,Steve viajara para Gales debaixo de protestos, mas mesmo assim,  tomou todos os cuidados para que somente Zachary soubesse onde achá-lo.
Ele havia comprado Haibow Hill a seis meses , mas ainda não havia contado a Emma sobre a nova propriedade.
Ele não queria que  a velha mansão  fosse invadida pelas centenas de amigos dela.
Queria que Haibow Hill  fosse seu refúgio exclusivo de tudo e de todos.
Ele queria que aquele lugar se transformasse em seu pequeno paraíso perdido.
Balançando a cabeça para desanuviar a tensão que estes pensamentos lhe causaram, ele caminhou até o penhasco da onde se via o mar revolto .
O que ela mais precisava agora era ficar sozinho para colocar suas emoções em ordem e recarregar suas baterias, longe das festas, bebidas em excesso, assessores aflitivos,secretárias neuróticas, reuniões exaustivas, advogados cansativos, bajuladores e limites  de prazos a cumprir.
Steve sorriu ao lembrar-se da cara de espanto de Gail, sua assessora, quando lhe disse:_ Gail, vou sumir por três semanas inteirinhas, comunico-me com você por e-mail.
Sua assessora o olhou espantada, vendo-o desaparecer no elevador antes que tivesse chance de argumentar.
Steve olhou novamente ao redor, a casa ficava qqq meio do terreno. Em frente, havia a alameda e um pequeno bosque, do lado esquerdo ficava o chalé que pertencera à governanta dos Richmond e do lado direito se erguia o penhasco que acabava no mar de Gales.
Sozinho e mais feliz que nunca, respirou fundo, pegou suas malas no carro e entrou na velha casa.

O segredo de Samanth_ Revisado!!!!Onde histórias criam vida. Descubra agora