Capítulo 1

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Samantha estava exausta, a viagem de Londres até ali fora extremamente desconfortável e cansativa. Após chegar a Pembrokeshire pegara um ônibus até os arredores da cidade, e andou mais meia hora a pé até finalmente chegar ao seu destino final, Rainbow Hill.
Nove longos e sofridos anos haviam se passado desde que saíra dali recém -casada, cheia de expectativas e sonhos que nunca se concretizaram.Ao avistar o velho portão de ferro, Samantha suspirou. Era tão bom estar de volta ao lugar onde fora tão feliz!
Ultrapassara aquele portão dez anos atras recém chegada do Rio de Janeiro, em busca de melhores condições de vida. Sua madrinha Jane, vivia em Londres há muito tempo e trabalhava como ajudante de cozinha num restaurante em Paddington.
Com algum esforço, Jane lhe pagou um curso de inglês durante sua adolescência e tão logo apareceu uma oportunidade, ela arrumou um trabalho para sua afilhada querida, acreditando que estava fazendo o melhor para ela.
Chegara em Haibow Hill em 2015 com dezoito anos, vinda de uma família pobre, mas com pais corretos e honestos. Chegando na bela mansão de estilo vitoriano, foi recebida pela governanta do casal Richmond, Sra Emily, amiga de sua madrinha, Jane.
Sendo todos oa moradores já idosos, Samantha acabou recebendo o carinho e amor de uma filha, cercada de todos os cuidados e mimos, principalmente pela Sra Laura Richmond, que desde do primeiro instante ficara encantada com a moça delicada e muito educada.
A Sra Laura há muito tempo sofria com a solidão, pois seu único filho Jordan, já estava fora de casa há muito tempo. Primeiro na juventude, por causa da faculdade de Arqueologia e anos depois, pelas inúmeras viagens que fazia a trabalho para um museu em Londres.
Samanta então, passara a ser o centro das atenções da casa.
Ela sempre procurava fazer o seu trabalho ajudando Emily e as demais funcionárias da casa, mas pela sua natureza bondosa , A sra Richamond decidiu que Samanta seria sua dama de companhia.
Emily adorou a idéia, pois ha muito, a solidão da patroa a preocupava bastante, e a jovem Samanta, com sua beleza e alegria de viver infestavam a casa antes sombria e silenciosa.
Quatro meses apareceu em Haibow Hill o jovem Ryan Herrick. Ele havia acabado de chegar da Irlanda e estava procurando emprego.
Ryan não era bonito com seus cabelos vermelhos e olhos muito azuis. Mas a personalidade calada e misteriosa do rapaz, impressionou muito a jovem e solitária Samantha. Mal sabia ela que atrás daquele rosto jovial havia um lobo rebelde e de uma maldade incomum.
Laura Richmond ficou penalizada com a situação do rapaz e o contratou para ajudar Yves a cuidar do jardim, já que o velho jardineiro já não estava mais agüentando o fardo do trabalho, por estar bastante idoso.
Vivendo isolada em Rainbow Hill e de uma ingenuidade singular, Samantha foi aos poucos se encantando pela figura enigmática de Ryan.
Quando no final de dois meses, ela anunciou seu casamento com Ryan, Jane, Emily e a Sra Laura ficaram muitíssimo chocadas.
A madrinha ao saber da decisão da afilhada, ficou enfurecida;
_Não te trouxe para a Inglaterra, para você se casar com o primeiro que aparecesse... Se insistir em manter sua decisão, esqueça que eu existo.
Samanta desligou o telefone e chorando muito foi procurar a patroa
_ Não julgo sua madrinha Samanta. Ela quer o melhor pra você. Nós também estamos preocupados. Você deveria fazer uma faculdade. Estávamos providenciando para você cursar a Universidade de Gales. E além do mais, mal acabou de completar 18 anos querida, não acha que é muito cedo?- Disse Laura desconsolada.
Samanta abraçou a patroa com carinho
_Espero que me perdoe, mas eu não gostaria de fazer faculdade agora. Eu e Ryan vamos nos casar. Daqui a alguns anos eu volto a pensar nos estudos. _Respondeu ela
A patroa colocou a mão nos seus ombros e tocou sua cabeça.
_ Não posso impedi-la de fazer o que quer.Mas eu me arrependo profundamente de ter dado uma chance a este rapaz. Eu só acho que vocês deveriam namorar e se conhecer melhor. É no namoro que a gente vê se vale a pena levar uma relação a diante. Pense bem querida.
Samanta não queria magoar ninguém e tampouco parecer ingrata, mas estava decidida a seguir seu o próprio caminho. Tinha crescido e não queria continuar sendo protegida por ninguém.
Amava Ryan. E era com ele que queria ficar.
Durante alguns dias,  conversou abertamente com Lily e lhe disse o que sentia.A velha senhora demonstrou todo seu pesar com a união precipitada da jovem amiga. Mas concordou que ela tinha que seguir o ritmo natural da vida. Nascera, crescera e se apaixonara.
_ Não creio que Ryan seja o homem da sua vida. Você ainda não sabe, mas o amor ainda não lhe tocou. Mas você acredita que sim. E quem sou eu para impedir o seu destino?
Samantha , levantou-se do sofá onde estivera sentada e caminhou até a velha senhora.
_ Eu amo Ryan Tia Emily, e ele é o homem da minha vida. Prometo de pé juntos que vou ser muito feliz!!! - Disse samanta sorrindo.
A velha senhora a olhou com lágrimas nos olhos.
_ O amor transforma, minha querida. Não esqueça disso.Mas dou-lhe minha benção. E que se cumpra seu destino. Mas se alguma coisa der errado, você deve me prometer que voltará para Haibow Hill, imediatamente.
_ Eu prometo.
Então, Ryan e Samantha casaram -se apesar do protesto mudo de Tia Lily e do choro sofrido de Laura Richmond. A cerimônia simples foi celebrada numa pequena igreja no centro da cidade.
Naquela mesma noite, o jovem casal pegou o trem para Londres, para um inferno que duraria nove longos e sofridos anos.
Samantha suspirou pesadamente. Aqueles pensamentos lhe trouxeram um peso no coração.
Abriu o portão lentamente, estranhando o fato dele estar aberto e sem cadeado.
Subiu a alameda devagar.
Estava muito cansada e faminta.Seus sapatos estavam molhados de chuva e a incomodavam demais. O velho casaco de tweed não aquecia, e o frio da tarde a fazia bater o queixo.
Apertou o passo. Queria muito chegar e abraçar tia Lily.Querida tia Lily!
Havia seis meses que não se comunicavam, pois ela deixara de responder as cartas que enviava.Sua velha e querida amiga sofria de catarata e possivelmente o problema se agravara impedindo-a de escrever.
Tia Lily já passara dos oitenta anos e fora uma delicadeza de Jordan deixá-la continuar vivendo ali em Raibow Hill depois da morte de seus pais. O velho Yves e a cozinheira ranzinza Sra Rowena Roberts também viviam ali.
Daqui a poucos instantes iria rever a todos.
Apressou o passo, pois o peso da pequena mala estava se tornando insuportável e seu estômago pedia clemência.
Ela nem se lembrava da última vez que comera decentemente, mas mesmo chegando de surpresa, sabia com toda certeza que tia Lily teria um chá e um bolo fresquinho que ela devoraria num piscar de olhos.
Ao chegar no fim da alameda e ver a velha mansão seus olhos se encheram de lágrimas.
Estava em casa!
Parou um pouco para se recompor.
Não queria que tia Lily a visse chorando.Não nesse momento tão especial, em que as duas finalmente iriam se reencontrar depois de tanto tempo. Queria apenas abraçá-la, sentir seu amor e deixar que seu mundo voltasse ao normal lentamente. Somente isso!
Samantha olhou ao redor.
O ar de abandono da casa e do jardim fizeram seu coração dar um salto angustiado. Tudo parecia tão diferente e silencioso! Tão vazio! Tão sem vida!
Sentido um misto de medo e apreensão, resolveu adiar por mais alguns minutos seu encontro com a tia, temia seus próprios pensamentos.
Caminhou devagar até a beira do penhasco de onde se podia avistar o mar de Gales.
Ah! Como amava aquele lugar!
Fechou os olhos e ficou sentindo o vento frio no rosto, a sensação de estar ali era tão maravilhosamente boa que as lágrimas lhe caíam dos olhos sem que sentisse. Finalmente chegara ao seu destino!
Distraída com seus pensamentos, não percebeu que um carro subia a alameda e que um homem alto e forte caminhava furiosamente em sua direção.
_Hei, O que você pensa que está fazendo? Isso aqui é uma propriedade particular! Saia já daqui!!!!
Ela levou um susto tão grande que se desequilibrou e deixou cair sua mala no chão, esparramando suas roupas e pertences na grama úmida.
_ O que pensa que está fazendo? Quem é você? Você é uma droga de jornalista, não é? Se por acaso você for, eu vou te expulsar daqui a pontapés mocinha!
A Samantha estava petrificada, não conseguia emitir um som sequer. Os gritos furiosos do homem alto e bronzeado a fizeram tremer de medo. Quem era ele afinal? O que ele fazia ali? Involuntariamente, ela se encolheu diante da figura poderosa e prepotente.
O homem fitou a desconhecida com os olhos vermelhos de raiva, estava pronto para sacudi-la pelos ombros quando percebeu que os olhos castanhos dourados da mulher estavam aterrorizados, e que seu rosto pálido estava tomado pelo pavor.
Steve nunca vira nada igual. Falou um palavrão e fitou o olhar angustiado com curiosidade. Quem era ela afinal? O que fazia ali?
Estava curioso. E queria descobrir porque aquela jovem e amenrontada mulher se encontrava no jardim da sua casa.
_E então, o gato comeu sua língua?_perguntou sarcástico
Em pânico, Samantha não conseguia se mexer, nem emitir um único som sequer.Sentia um medo terrível. Onde estaria Yves? Tia Lily? Queria gritar, mas além de não conseguir, tinha certeza que isso deixaria o homem a sua frente profundamente enraivecido. O melhor a fazer era permanecer calma para não aborrecê-lo mais ainda. Ele a olhava fixamente, obrigando-a a levantar a cabeça para olhá-lo nos olhos.
_Eu...Eu. Sinto muito...Eu não queria. Desculpe-me -ela disse assustada sem saber o que falar e como agir diante do olhar ameaçador, ela ajoelhou-se para recolher suas roupas espalhadas no chão.O que diria a ele?
_Levante-se sta. Deixe que eu faço isso.- Steve falou hostil.
Obedecendo à voz ríspida, ela levantou-se no mesmo instante.
Disfarçadamente, observou-o enquanto ele recolhia as roupas.Seus músculos fortes se moviam sob o suéter e inesperadamente, ela começou a sentir um calor estranho percorrer-lhe o corpo. Ele era alto, forte, tinha os cabelos castanhos e uma barba muito bem feita e era muito, muito bonito.
Ele citou o rosto para ela, sentindo-se observado.
Envergonhada, Samanta desviou o olhar.
Aquela situação era muito incômoda, para não dizer surreal.
Fosse ele quem fosse, pelas roupas que vestia e pelo ar de autoridade que possuía, devia ser um homem poderoso, rico e sofisticado. E pelo fato de estar em Haibow Hill, certamente devia ser um amigo do Sr Jordan.
Steve recolheu a roupa silenciosamente e quando terminou, entregou a velha mala para a mulher desconhecida. Quem seria ela? Pela qualidade das roupas simples não devia ser uma jornalista. A não ser que estivesse disfarçada.
Mas a expressão assustada e a palidez de seu rosto o fizeram desistir dessa idéia. Seu rosto angular era muito feminino e expressivo, pois ela mal conseguia disfarçar o medo e a insegurança que sentia na presença dele. Não havia um pingo de falsidade naquela mulher.
Fitando-a sem reservas, Steve reparou então que a mulher a sua frente era muito bonita apesar de parecer exausta.
A pele era clara, os olhos castanhos dourados eram redondos, grandes e muito expressivos, a boca trêmula era carnuda e vermelha, e parecia desenhada a mão de tão perfeita. Os cabelos que eram curtos e batiam na altura do queixo estavam despenteados e sem corte, mas ele a achou simplesmente linda! A mulher mais bonita que já vira em toda a vida. Steve suspirou fundo."Que pensamento absurdo"
_ Tudo bem, vamos começar de novo. O que você faz aqui?- disse gentil ao perceber o olhar apavorado dela.
Tomada pelo pânico, Samantha começou a suar frio nas mãos e sem conseguir se controlar, seu corpo começou a tremer compulsivamente, gostaria que um buraco se abrisse no chão, para que pudesse fugir do olhar atento e frio daquele homem.
_ Eu... Morei aqui, quer dizer... trabalhei aqui... - ela disse timidamente desviando do olhar intenso do desconhecido. Não podia deixar de sentir um arrepio estranho cada vez que seus olhares se encontravam.
_ É mesmo? Você não é inglesa.Noto pelo seu sotaque. De que país você é? Perguntou. Gostou de ouvi-la falar, ela tinha uma voz tão doce, tão suave...
_ Sou do Brasil, do Rio de Janeiro. Trabalhei aqui de ajudante da governanta Emily Reynolds. Meu nome é Samantha Gomes- ela cautelosamente.
Silencioso, Steve caminhou até o penhasco afastando-se da mulher. As informações dela confirmavam os dados das fichas dos antigos funcionários que havia encontrado na mansão.
Ele também havia conhecido a Sra Emily antes dela falecer.
Fora ela que lhe mostrou a propriedade e enquanto conversavam, a senhora havia dito sobre a jovem Samantha, sem entrar em detalhes, disse apenas que esperava que ela retornasse um dia de Londres.
Se não bastasse isso, quando chegou na casa, encontrou várias fotos de Samantha espalhadas pela casa. Inclusive, ele havia ficado bastante impressionado com a beleza da jovem. Entretanto, a mulher que estava na sua frente, era muito diferente da jovem sorridente que estava nas fotos.
Steve percorreu lentamente com os olhos o corpo feminino.
A roupa simples que ela vestia escondia um corpo magro. Seus rosto estava pálido e cheio de olheiras como se ela não dormisse bem a alguns dias. Seus olhos castanhos não tinham força nem vivacidade e, ela aparentava mais idade do que devia ter.
Seu ar era de uma pessoa muito abatida e desamparada. Sozinha. Deixada ao acaso.
Notando o silêncio tenso, Samantha remexeu na bolsa e caminhou até ele entregando-lhe seus documentos e algumas fotos dela em Raibow Hill. Não sabia porque, mas queria muito que aquele homem soubesse que ela não era uma intrusa.
_ O senhor pode chamar a tia Lily por favor-
Diante do olhar cauteloso de Steve, Samantha sorriu.
_ Desculpe, é o meu jeito de chamá-la. Mas se você chamar a Sra Emily ela vai confirmar o que eu digo.
Steve a olhava intensamente, enquanto Samanta retorcia as mãos nervosamente.
_ Há quanto tempo não entra em contato com sua "tia"?- ele perguntou   devolvendo-lhe seus pertences.
Samanta o olhou desconfiada.
O tom suave de sua voz, fazendo a pergunta lhe dizia que boas notícias não iam chegar. Havia uma certa comiseração discreta. Sentiu um aperto diferente no seu coração e seu sentidos se aguçaram. Oh meu Deus! Não queria perguntar, mas tinha que saber a resposta.
_Hã... Há uns cinco meses aproximadamente. Porque?
Steve abaixou a cabeça e passou as mãos nos cabelos diversas vezes, desarrumando-os. Ele parecia perturbado. Como diria a ela?
_Ela...Ela...Morreu não é mesmo?- perguntou Samanta num fio de voz.
Ele confirmou lentamente com a cabeça, aliviado por Samantha ter decifrado a verdade ele não precisar revelar  essa notícia tão dolorosa.
_Eu sinto muito Sta Gomes - ele disse suavemente.
Ao ouvir a triste notícia, dada por um desconhecido, algo se rompeu dentro dela.Nem em um milhão de anos, ela conseguiria conter a forte emoção que sentia.
Soluçou alto.
Naquele instante nada lhe importava, a não ser a sua própria dor.
As lágrimas manchavam seu rosto e Samantha chorou por toda sua dor e tristeza, pelo seu luto e principalmente pela morte de seus sonhos. Num gesto infantil, ela escondeu os olhos com as mãos, parecendo a Steve uma criança desamparada, perdida.
Samantha não se conformava com a sua negligência. Ela deveria ter desconfiado que havia alguma coisa errada, pois ela e Emily haviam ficado muito tempo sem se corresponder.Nas últimas cartas, a senhora reclamara discretamente de sua saúde, como que preparando-a para o pior.
Agora já não havia mais nada a ser feito, a não ser chorar. Chorar e aceitar a dolorosa perda.
Samantha sentia uma dor tão profunda no peito que quando o estranho impulsivamente a puxou para  si, ela não resistiu e se aninhou nos braços fortes e acolhedores que lhe abraçavam desajeitadamente com  leves tapinhas nas costas.
Mesmo se sentindo estranhamente acolhida,ela não conseguia controlar o pranto convulsivo. Samantha chorava pela morte de Emily, mas também pelo seu passado. Chorava pela jovem menina que saiu de seu país em busca de uma vida melhor, chorou pelos pais que haviam morrido, sem que ela voltasse revê-los, chorou pela jovem tola e apaixonada que acreditou num sonho de amor e pelo infortúnio do seu presente.
Steve a amparava em seus braços. Ele ficara extremamente comovido com a tristeza daquela jovem mulher.Sua trágica reação diante da noticia da morte inesperada da governanta, dissipou toda e qualquer dúvida que pudesse sentir a respeito dela. E a abraçou apenas para lhe confortar. Ele sabia que a perda de um ente querido era terrível. Havia passado por isso também.
Então, ele a apertou mais em seus braços.
Sua vulnerabilidade também ficou exposta diante do sofrimento dela. E ele não sabia bem o que fazer. Quando seus pais morreram, ele havia sofrido muito, mas soube controlar suas emoções, nunca foi capaz de externar seus sentimentos daquela maneira, por mais que amasse seus pais. Agora estava ali, . Aquela desconhecida o deixara completamente sem ação. Ele mesmo sentindo vontade de colocar pra fora, tudo que havia represado há tantos anos atrás. 
Aquela mulher demonstrava seus sentimentos de maneira tão latente, com sinais tão evidentes de desespero, que o levou, num impulso a querer consolá-la custasse o que custasse.
Nunca uma mulher lhe parecera tão frágil e vulnerável como Samantha. Em seus olhos castanhos esverdeados, ele viu tanta solidão que sentiu ímpetos de protegê-la, de querer apagar seu sofrimento, para livrá-la da dor que sentia. Aquela reação era totalmente nova para ele. As mulheres que convivia não eram nada frágeis nem indefesas, muito pelo contrário, sabiam cuidar muito bem de si mesmas.
Permaneceram abraçados ainda durante algum tempo. Steve sussurrava nos seus ouvidos palavras carinhosas de conforto. Ele queria que ela se acalmasse. Queria que ela ficasse bem, nada, além disso. Mas de repente, algo foi acontecendo entre eles.
Uma onda mágica e energética começou a inundar o sentido de ambos. E eles sentiram imediatamente a vibração se transformar.
O corpo de Samanta era quente, e embora ela fosse uma mulher pequena, parecia caber perfeitamente em seus braços. O contato com o corpo feminino e macio o fez sentir reações estranhas em seu próprio corpo. Queria senti-la.
Tê-la para si.
O cheiro adocicado da pele dela foi deixando-o excitado. "Que loucura é essa?" Pensou ele confuso.
Ele a olhou completamente consternado. Nunca em mil anos poderia imaginar-se atraído por uma mulher como ela.
Uma mulher, jovem, simples e sem nenhum atrativo sensual. Ele gostava de mulheres sofisticadas, maduras, voluptuosas, elegantes e cultas.
As emoções a flor da pele que sentia, deixando seu corpo excitado deixou-o bastante assustado. Queria satisfazer sua vontade, o desejo primitivo que sentia com aquela mulher.
Lentamente, ele se afastou.
Quando Steve a largou, ela sentiu-se estranhamente sozinha,
De repente percebeu que seu corpo trêmulo precisava dos braços fortes dele. Quando deu-se conta disso, sentiu-se tão fraca que pensou que fosse cair.
Samantha abaixou a cabeça.
Ela não deveria sentir-se daquela maneira. Não podia achar que seu lugar era nos braços daquele desconhecido. E principalmente deveria esquecer o calor que lhe invadiu o corpo e alma, quando esteve junto dele, fazendo- a sentir como se tivesse achado o que sempre procurou na vida.
Timidamente, o olhou. Eles ainda estavam tão próximos um do outro, tanto que ela podia ver que os olhos dele não eram pretos como pensava, mas sim azuis profundamente escuros, sombreados por cílios longos e espessos.
_ Está melhor agora?- Ele perguntou vagamente distante.
_Não...Sim...Quer dizer...Desculpe...Senhor... _disse Samantha confusa com a intensidade de seus sentimentos por aquele homem. Não sabia sequer seu nome!
_Steve Burten - Ele disse olhando fixamente para os lábios trêmulos.Ela não demonstrou nenhuma reação diante do nome mundialmente famoso.
_ Eu sou o novo proprietário de Haibow Hill. Eu comprei a casa de Jordan Richmond.
Ele falava suavemente, enquanto a olhava pelo canto dos olhos. Havia algo naquela mulher que o atingia, que o fazia querer ser gentil e suave.Talvez fosse seu ar indefeso que o levava a estes pensamentos desconexos e anti naturais como o que sentia agora de querer beijá-la._Como podia estar pensando coisas desse tipo numa hora dessa?_ Pensou aflito.
Samantha no entanto parecia não notar seu conflito, perdida em seus próprios pensamentos caóticos enquanto olhava na direção do chalé que fora sua casa um dia.
_ O senhor a conheceu?-ela perguntou baixinho.
Steve olhou-a um minuto sem entender, mas acompanhou o seu olhar para o pequeno chalé e respondeu:
_ Sim. Foi ela que me recebeu e que me mostrou a propriedade quando estive aqui nas primeiras vezes.Um dia quando voltei, fui comunicado da sua morte pela Sra Roberts.
_ E a sra Roberts? E Yves?_ Ela perguntou curiosa.
_ Parece-me que a Sra Roberts foi morar na Escócia com a filha e o velho jardineiro infelizmente, também faleceu.
Samanta fechou os olhos com força. Delicadamente ela colocou a mão sobre a boca. Seu coração doía desesperadamente, todos que amara se foram, todos.
Agora, o seu passado estava definitivamente encerrado com a perda das pessoas queridas que esperava rever.
Não restava ninguém além dela mesma. Sua madrinha Jane, desde seu casamento se recusava a falar com ela. Ela esperou nove longos para voltar e agora parecia incrível não ter mais ninguém no mundo.
Porém o mais difícil de tudo era saber que nunca mais veria Emily, que nunca mais veria seu sorriso,seu olhar carinhoso, nunca mais ouviria sua voz doce.
"Nunca mais a veria, nunca mais, nunca mais".
Samanta andou até o chalé devagar. Deixou Steve para trás observando-a em silêncio.
O que ela mais gostaria de fazer era ter pedido desculpas a ela e a sra Laura, por ter sido tão egoísta e ingrata, por não ter levado em consideração as opiniões delas a respeito de Ryan... Mas agora era tarde demais. Teria que conviver e carregar essa culpa e a dor do remorso.
Quando ela virou-se para Steve, foi incapaz de esconder que seus olhos estavam repletos de dores muito antigas. Então, ele fitou demoradamente aquela mulher de olhos perdidos.
Ela tinha uma beleza limpa, suave e encantadora. Parecia que tinha séculos que não via uma mulher sem maquiagem. Emma estava sempre muito maquiada até mesmo nas primeiras horas do dia. Mas a beleza de Samantha era livre de subterfúgios. Nunca uma mulher tão jovem, tímida, sem artificialidades lhe parecera tão bela. E como o cheiro de sua pele era gostoso!
Samantha se encolheu ante ao olhar possessivo de Steve.
Ela olhou para céu, tentando disfarçar suas emoções. A noite já estava chegando e o frio de novembro lhe doía nos ossos.E agora para onde iria? Ela sabia que não podia ficar ali. Mas... para onde iria?
Ignorando Steve, ela pegou sua mala e muito tímida olhou para ele. Não podia negar que a figura imponente do homem alto, a atraíam profundamente. Dele, emanava força e poder. Sua beleza era simplesmente devastadora, nunca conhecera um homem como ele.
Notando que Steve ainda a encarava de um modo peculiar, Samanta desviou seus olhos assustados.
_Bem, eu acho que eu vou indo. Obrigado por tudo, Senhor Burten _ Disse ela para o homem de olhos azuis cortantes.
Samantha fazia uma força enorme pra não chorar. Mas precisava disfarçar seus sentimentos na frente de Steve. Mas em seu íntimo, o medo tomava conta de seu coração. Não havia mais nada a fazer ali. Aquele lugar não era mais sua casa. Mas, para onde iria?
Em silêncio, Steve acenou com a cabeça levemente concordando com o que ela falou.
Mas seu coração lhe perguntava:
_Para onde ela iria?

O segredo de Samanth_ Revisado!!!!Onde histórias criam vida. Descubra agora