Capítulo 4

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Na manhã seguinte Samantha acordou assustada com o conforto do colchão, o cheiro de lavanda dos lençóis e o imenso silêncio. Tudo isso a fez  dar um pulo da cama.
Então era verdade!
Por um momento pensou que havia sonhado com tudo aquilo! Mas não! Ela estava em Gales novamente.
O leve contentamento que sentiu, durou pouco, pois a dureza da realidade logo se abateu sobre ela. A tristeza da perda de tia Lily, a angústia da solidão e o medo do futuro a fizerem sentir todos os sintomas de ansiedade novamente: boca seca, taquicardia, pensamentos rápidos e negativos.
_ Oh Deus! eu preciso me recuperar, não posso continuar desse jeito. Preciso encontrar forças para viver, de alguma maneira..._ Disse Samantha em voz alta.
Ela sabia que  auto-piedade não iria ajudá-la em nada agora. Levantou-se da cama e tomou um banho rápido. Desanimada, verificou que suas roupas ainda estavam úmidas, mas ela se recusava a vestir novamente a mesma roupa de ontem. Enrolou-se na toalha e sentou-se na cama pensativa. E agora, o que faria?
Ouviu uma leve batida na porta, seu coração se acelerou. Ela levantou-se de um sobressalto.
_Quem é...?_ perguntou baixinho sem abrir a porta.
_Esther Pennick, a governanta, trouxe-lhe o café da manhã.
Samantha abriu  parcialmente a porta e corou quando a velha senhora a olhou de cima em baixo em sinal de reprovação.
_Eu...Desculpe atendê-la assim, mas as minhas roupas estão molhadas...-ela desculpou-se sem graça.
Depois de colocar a bandeja no aparador, a Sra Pennick olhou para as roupas espalhadas em cima da cama e franziu os olhos.
Quem era essa moça?  ela não  parecia uma das namorada do Sr Burten. Ele era um homem  bonito e elegante e essa moça, bem...Havia gosto para tudo.
_ Bem, se quiser,  eu posso secar sua roupa na máquina  e trazê-la em poucos minutos pra você.- disse ela educadamente.
Samantha a olhou agradecida.
_ Se não for atrapalhar, eu gostaria muito sim. Obrigada.
Sorrindo sem jeito, entregou uma calça preta e um suéter vermelho muito gasto nas mangas para a governanta  que olhou para as roupas e depois olhou para ela e se retirou sem dizer uma palavra.
Sentindo-se humilhada pela reação da mulher, os olhos de Samantha se encheram de lágrimas,
Droga! estava parecendo uma boba se  importando com o olhar reprovador de uma  velha senhora!
Tomou seu café da manhã com apetite e quando a sra Pennick retornou trazendo a roupa seca, ela resolveu lhe  explicar toda a sua situação. Ao final da conversa, a senhora pareceu estar penalizada com  a sua situação  e começou a tratá-la de maneira mais educada, porém fria.
_ Assim que terminar de se arrumar, por favor, desça, pois o Senhor Burten a espera lá embaixo._ Disse a Sra Pennicck.
Depois de pentear e secar os cabelos ela  sentiu-se bem melhor para descer e enfrentar  Steve. Quando chegou no hall, um silêncio absoluto reinava na casa. Ela ficou parada no corredor sem saber para onde ir.
_Dormiu bem?
Sobressaltada, ela  virou  para o local de onde vinha a  a voz masculina. Ele estava num canto da sala, com uma xícara de café na mão. Seu coração acelerou ao vê-lo. Em plena luz do dia, Steven  Burten  era ainda mais bonito. Ele estava muito elegante  e jovial num suéter azul e calças pretas que realçaram ainda mais sua beleza máscula.
_ Sim. Obrigado.- Ela respondeu tímida
Steve levantou -se do sofá onde estava e chegou próximo a ela, de tal maneira que pode sentir o cheiro delicioso de seu perfume masculino.
_A Sra Pennick me falou que você já tomou seu café. Podemos conversar agora?
Samantha assentiu ruborizada.
Porque será que  ele sempre a olhava daquele jeito tão íntimo? Tão perturbador?Era  como se ele quisesse descobrir seus mais íntimos  segredos.
Ela seguiu-o silenciosamente pelo corredor até a biblioteca.
As paredes continuavam repletas de estantes de livros que iam do teto ao chão. Os quadros valiosos  ainda estavam pendurados nos mesmos lugares. As únicas modificações no local, era  o enorme sofá de couro marrom e os  tapetes coloridos  e elegantes que deram ao ambiente um ar gracioso e moderno.
Steve sentou-se no sofá e fez um gesto para que ela se sentasse também.
_E então, já resolveu o que irá fazer?- Ele perguntou friamente tirando-a das suas divagações.
Steve  a olhou disfarçadamente. Sabia que não estava sendo justo com ela, que deveria ser menos direto no assunto delicado que era sua partida de Rainbow Hill, mas depois danou-se passada, ele a  queria bem longe de sua casa e de seus olhos, de preferência, o mais rápido possível. Seu instinto que era cirúrgico para os negócios e nunca falhava, lhe dizia: de alguma maneira essa mulher lhe traria muitas complicações.
Samantha mexia com suas emoções de uma maneira irracional. Ele não havia conseguido dormir aquela noite, revirando-se entre os lençóis, lembrando dos lábios carnudos, dos olhos cheios de dor e pureza, de sua aparência doce e desamparada. E principalmente, de sua reação  assustada quando ele a tocou.
Ela era um mistério. Não sabia se aquela altura da sua vida, precisava viver esse tipo de relacionamento, mesmo que fosse por alguns dias, e no caso específico dela, por uma noite apenas.
Desviando o olhar da figura feminina pequena e frágil, ele procurava manter uma certa frieza nas suas palavras até quando  notou que ela  torcia nervosamente as mãos.
E então Steve ficou pensando em como abordar  a partida dela de um modo mais cortês, mais gentil...
O silêncio reinava na biblioteca, e podia -se ouvir alguns passarinhos cantando a distância. Samantha estava super  tensa.
O tom distante e cortante de Steve a emudeceu completamente. E agora? Como diria a este homem que não sabia o que fazer de sua vida?
Ela estava com muito medo de deixar Raibow Hill, pois ali sempre foi  seu porto seguro. Não era justo ela se sentir com uma intrusa ali. Mas era isso que se sentia: uma intrusa num ninho que anteriormente lhe deu todo amor e segurança que jamais teve
Samantha suspirou.
Racionalmente, sabia que estava errada e que não poderia continuar ali, pois nada lhe pertencia, mas seu coração se recusava a aceitar a razão.
Suas mãos tremiam tanto e seu coração batia com tanta força, que ela  teve medo que Steve pudesse  ouvir.
Samantha sabia  que  ir embora era a única solução. Arranjaria um emprego e recomeçaria sua vida em outro lugar. Talvez em Londres. Seria difícil para ela, mas na verdade tanto fazia. Estava sozinha em Londres e também no Brasil.
Estava sozinha no mundo, por sua própria conta e todos os riscos.
ela demorou  tanto para responder que Steve impulsivamente acendeu um cigarro. Já fazia três anos que ele havia parado de fumar, mas desde a noite anterior, sua ansiedade o fizera  sair a noite e comprar  um maço de cigarros.
Steve a olhou discretamente.
Embora ela usasse roupas simples que não valorizavam em nada sua beleza, ela era imensamente linda! Simplesmente linda como um sonho!!
Ele levantou-se muito perturbado.
O que aquela mulher tinha que o deixava naquele estado mental confuso?bNunca se sentira tão fortemente atraído por uma mulher como estava agora por Samantha. Precisava lutar contra essa atração insana, ou ficaria louco.
Steve apagou o cigarro no cinzeiro com força.
_ E então?- Disse ele hostil notando  seu ar de fragilidade e insegurança.
_ Vou embora ainda hoje Sr Burten, aliás, vou embora agora. – Disse ela levantando-se.
Steve cruzou seu caminho rápido e ignorando o nervosismo de Samanta parou na sua frente olhando-a friamente.
Impulsos. Puro impulso investigativo.
_Desculpe minha curiosidade Sta Gomes, mas porque demorou tanto tempo para entrar em contato com a senhora Emily? Eu não acredito que você seja uma criança egoísta que abandona velhinhas a própria sorte.
Steve falou sarcasticamente, mas arrependeu-se na mesma hora ao ver a expressão de dor estampada nos olhos dourados.
Ohhh não!
Como pudera ser tão insensível?
Samanta fechou os olhos. Estava se sentindo muito ofendida. Ela não abandonara Emily. Ela Foi levada a se afastar. Mas ele não precisava saber de nada de sua vida.
Era um estranho.
Um estranho bruto e cruel.
_Eu não sou nenhuma criança Sr Burten.Sou uma mulher de 24 anos, responsável  pelos meus atos e se eu não entrei em contato com minha ela , foi porque não foi possível.Eu nunca iria abandonar...tia Lily...O senhor não sabe nada sobre mim e não pode falar assim comigo...
Descontrolada, ela começou a chorar novamente.
Raios! As lágrimas desciam abundantes de seus olhos dourados sem que ela pudesse controlar.
Estava desequilibrada emocionalmente e não sabia como lidar com tudo o que estava lhe acontecendo.
Porque tinha sempre que chorar na frente daquele homem?
Steve pareceu perturbado com o choro de Samantha. Era horrível ter que admitir que não estava sendo um cavalheiro gentil com ela, muito pelo contrário, estava fazendo um papel de um homem sem respeito nenhum por uma mulher.
Ele a olhou e não tinha como não desculpar-se pela sua atitude grotesca.
_Olha, eu sinto muito,  eu não quis magoá-la.- Disse Steve suavemente depois de algum tempo.
Mas Samantha não estava disposta a ouvir. E  querendo sair dali o mais rápido possível, Samantha passou por ele bruscamente, e  quase derrubou uma cadeira no chão. Quando  olhou para ele,  foi com total desprezo que falou.
_O senhor não precisa se preocupar comigo, pois estou indo embora. Não vou mais perturbá-lo com minha presença. Só quero ir até ao chalé pela última vez, isso se o senhor permitir, é claro!
Steve aproximou-se dela e a pegou pelas mãos. Samanta debateu-se no primeiro instante.
_Estou lhe dizendo que sinto muito. Não devia ter falado daquela maneira. O que aconteceu na sua vida deve ter te afastado daqui e possivelmente tem uma explicação lógica. Me desculpe Samantha.
E lá estava ela novamente aos prantos. Meu deus! De onde saia tanta lágrima?
Do tempo. Da dor. Do desespero. Da desesperança. Steve a abraçou.
O abraço tinha o objetivo apenas de consolá-la, pois ela estava visivelmente abalada e ele lamentava ser o causador disso tudo que estava acontecendo com ela.  Ela merecia ser consolada. Nunca conhecera uma mulher tão cheia de sensibilidade como Samanta,  e ele precisava acalentá-la, tê-la em seus braços para acalmá-la com carinho.
O coração de Samanta se acelerou quando seu corpo encontrou o de Steve. A  única reação que teve foi se entregar ao abraço masculino. Isso a assustou profundamente. Não queria que Steve a tocasse novamente, mas não conseguia se mover dali. Ou não queria?
Depois de alguns minutos, ela lentamente foi se afastando do corpo másculo, porém  Steve  não a soltou completamente e vendo que ela não resistia o seu toque, ele a envolveu novamente num forte abraço.
Insegura, carente e profundamente envolvida por sentimentos desconhecidos, ela desistiu de lutar e se entregou ao abrigo daqueles  braços fortes.  Estava ali sendo amparada nos braços do homem de olhos azuis.
Quando finalmente ela se acalmou,  se afastou e viu que suas lágrimas haviam molhado o suéter de Steve.
_Desculpe, molhei sua roupa -murmurou baixinho.
Steve sorriu devagar.
_ Eu é que peço lhe  desculpas pela minha estupidez.
Steve a observou enquanto ela enxugava os olhos com as costas das mãos. Definitivamente, o que ele estava fazendo? Samanta era uma jovem imigrante e desamparada, e ele estava sentindo-se irremediavelmente atraído por ela. Que sentimentos desconhecidos eram estes? Onde estava o racional, frio, imponente, irascível e inacessível Steve Burten?
A tristeza dela o incomodava. Ele tinha ímpetos de protegê-la, quando  sentia que ela estava perdida, queria cuidar dela e aliviar seu sofrimento.
Mas porque, se não tinha nada a ver com isso? O que lhe importava se ela tivesse perdido tudo na vida? Porque simplesmente não a mandava embora e ponto final?
_Está se sentindo melhor?_ Ele perguntou gentilmente libertando-a de seus braços
Samantha limpou o rosto e torcia a mão nervosamente
_Estou  sim. _Samantha respondeu encabulada evitando olhar diretamente para ele.
O sentimento estranho de proteção que sentiu nos braços de Steve era algo inteiramente novo para elas Por um instante não sentiu medo, angústia, nem dor. Só uma sensação de bem estar, de acolhimento, de segurança e um calor diferente que percorreu todo seu corpo
"Não seja boba. Ele não é homem para você"._Pensou ela.
Steve estava pensando em dizer algo que pudesse acalma-la e de repente, se viu perguntando:
_Alguém a espera em Londres?Ou no Brasil? _ ele disse sentando-se novamente atrás da grande escrivaninha de mogno.
Samantha negou com a cabeça.
_Não. Não tenho ninguém me esperando em lugar nenhum._ ela respondeu com a voz doce.
_Uma proposta de emprego,  talvez - Ele insistiu.
_Não. No momento estou desempregada.- ela respondeu tensa.

Um  então sorriso brincou nos lábios de Steve.
_Então, está tudo resolvido.
Samantha olhou para ele curiosa.
_Como...Como assim? ela perguntou confusa.
Steve colocou as mãos sobre a mesa e sua fisionomia era amistosa.
_A Sra Pennick me comunicou esta manhã que não poderá continuar trabalhando, pois seu marido será internado em breve para operar um tumor nos rins.Você poderia ficar no lugar dela. Acha que seria capaz de cuidar da casa, preparar o jantar, essas coisas?
Steve falava  rápido.
Não sabia porque, mas não queria que ela partisse.

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