O dia passava e ela não conseguia esquecer a reação inesperada de Steve. Havia se esforçado muito para ir até ele e, no entanto, ele reagiu daquela forma.
Como sempre pensar em Steve lhe provocava várias emoções. Amor, apreensão, raiva, angústia, necessidade de proteção e daquele calor delicioso. Talvez fosse melhor ir embora. Não devia permanecer ali, porque não sabia quanto tempo mais resistiria a forte atração que sentia por ele.
Confusa e impaciente, Samantha se pegou diversas vezes olhando pela janela esperando ver o carro de Steve subir a ladeira de Raibow Hill.
Embora tivesse vivido a maior parte de sua vida naquela casa, agora se sentia estranhamente sozinha repleta de recordações do tempo que vivera ali.
Decidida a distrair, enquanto esperava a volta de Steve, Samantha resolveu ir até o chalé novamente e arrumar as roupas e demais pertences de Tia Lily.
Colocou tudo em caixas de papelão que encontrou no sótão e separou algumas lembranças para si mesma. Quando acabou a arrumação já era noite e Steve ainda não havia chegado. Voltou para casa tremendo de frio e Samantha resolveu acender a lareira.
Enquanto a casa aquecia, fez uma sopa de legumes rapidamente, tomou um banho e jantou sozinha na sala de estar. Estava quase dormindo em frente à televisão quando ouviu o barulho do carro. Olhando no celular, viu que era mais de meia noite. Ela então resolveu desligar a televisão e se apressou para subir para seu quarto antes dele entrar. Estava nos primeiros degraus da escada, quando Steve abriu a porta da frente. Ambos se olharam com intensidade.
_ E então está correndo do bicho papão?- ele perguntou ao ver sua posição retraída.
Samantha se voltou para ele e falou baixinho:
_ O senhor demorou...Estava preocupada...- Ela disse timidamente.
Steve levantou as sobrancelhas.
_ É mesmo? – ele perguntou cínico, tirando o grosso casaco e entregando-a a ela, num gesto desdenhoso e autoritário.
Samantha demorou um pouco para pegar o casaco que ele lhe entregava, mas o fez, tomando cuidado para que suas mãos não se tocassem.
_Sirva-me um conhaque. Disse ele secamente jogando-se no sofá. Seus olhos não se desviavam dela.
Samantha estava sem jeito, e sentiu o rubor invadir o seu rosto diante do olhar perscrutador de Steve.
Então ele resolveu colocar-lhe no seu devido lugar?
Melhor assim. _pensou ela com amargura. Pendurou o casaco no hall, foi até a sala e preparou-lhe o conhaque. Ela se movimentava com delicadeza, mas havia insegurança em cada gesto. Entregou-lhe o copo com as mãos trêmulas.
_ O senhor deseja que eu sirva o jantar? Fiz uma sopa, posso esquentar... perguntou ela baixinho.
Steve tomou um gole do conhaque.
_ Não. Já jantei. Obrigado._ Disse ele tenso quando sentiu a fragrância suave que vinha dela.
Steve fechou os olhos. Estava cansado. O que essa mulher tinha que o fazia fugir dela tão desesperadamente? Passara o dia inteiro longe de casa. Esperava encontrá-la dormindo, mas lá estava ela acordada, mais linda que nunca, pronta para atormentá-lo. Não podia mais conviver com ela, sem tê-la para si.
O jeans desbotado que ela usava moldava-lhe as formas perfeitamente, os seios redondos marcavam o suéter marrom claro. Seus seios eram brancos, pequenos e rijos.Essa lembrança fez Steve cerrar os maxilares.
_ Está tudo ótimo. Sta Gomes. Pode se retirar._ disse ele brusco.
Tentando não parecer ofendida ela levantou o queixo, mas estava tremendo dos pés a cabeça. Já ia se retirando, mas decidiu voltar.
Corajosamente , encarou Steve nos olhos.
_ Estive pensando Sr Burten que talvez fosse melhor eu ir embora - Disse ela séria.
Steve colocou o copo de conhaque na mesa de centro e a encarou com uma cara de poucos amigos.
_ Por que Samantha? - disse ele depois de algum tempo
Confusa, ela não sabia o que responder. Sua coragem se esvaia aos poucos.
_ Porque...Ora, porque sim. Será melhor assim. Eu lhe agradeço muito por tudo que fez por mim, mas eu não posso continuar aqui.
Steve sabia que ela estava certa. Essa era a melhor decisão que ela poderia tomar.
_ Compreendo-A expressão dele endureceu_ Então já sabe para onde vai?
Ela baixou os olhos para as mãos. _ Não. Não sei. Mas isso não tem importância.
Olhando para ela com atenção, viu em seus olhos tristeza e abandono. Não a deixaria partir e por isso escolheu as palavras cuidadosamente
antes de falar.
_ Como não tem importância? É lógico que tem importância! Olhe, eu sei que não tenho sido uma boa companhia, mas, por favor, não se deixe levar pelo meu comportamento abominável. Se eu lhe prometer que não vou mais incomodá-la, você fica? Eu sei que você ainda está fragilizada com a morte da sua tia e eu sinceramente, gostaria que você ficasse Samantha. Por favor.
Ela ficou em silêncio. O temor fazia eco no seu coração.
Sabia que continuar em Raibow Hill seria um erro. Um terrível erro que poderia por tudo a perder novamente em sua vida. Ela se sentia intensamente atraída por ele, mas não podia tê-lo. Como poderia conviver com esse conflito que a magoava tão profundamente?
Por outro lado, como poderia partir?A vida lá fora nunca lhe parecera tão dura e tão difícil de encarar. Ela sentiu uma vontade imensa de se atirar nos braços dele e se deixar ficar sem pensar em nada. Queria apenas sentir-se acolhida e protegida.
Pensando nisso, abraçou seu corpo com os próprios bravos.
Steve notou sua indecisão.
_ Você tem algum parente em Londres?_ ele perguntou aproximando-se devagar.
Balançando a cabeça negativamente ela caminhou para a janela. Não podia chorar. Tinha que manter a calma para usar a razão com sabedoria e precisão.
_ Não. Vim para cá com minha madrinha, mas eu nunca mais a vi. Meus pais morreram, e não tenho irmãos ou tios. Minha família sou eu mesma.
Steve sentiu compaixão por ela. Por ele também. Pois vivia na mesma situação, a não ser com parentes distantes que se falavam somente em algumas ocasiões no ano.
_ Compreendo.
Indo até a lareira, Steve atiçou o fogo, incapaz de ficar parado.
Samantha sentiu que Steve parecia penalizado com sua situação e decidiu intervir.
Não precisava da compaixão dele.
_ Por favor, não tenha pena de mim. Eu não me importo com isso.É uma historia muito antiga e já não é importante.Não guardo ressentimento de ninguém. A vida é o que é. Aqui em Raibow Hill, encontrei uma família de verdade. Os Richmond custearam meus estudos, me proporcionaram coisas maravilhosas. E havia tia Lily que com seu amor materno me ensinou a ter alegria e vontade de viver.
Enquanto falava, os olhos dourados brilhavam e iluminavam o lindo rosto dela. Ela nunca lhe parecera mais segura.Steve via toda a sinceridade em suas palavras.
Ela parecia aceitar tudo de uma maneira tão definitiva, tão digna que não seria ele a fazer melodrama. Mas saber que Samantha era sozinha no mundo, sem família e parentes próximos, sem uma casa para morar, fez com que seu instinto de proteção em relação a ela ficasse potente, e feroz.
Um momento de silêncio ecoou pela sala até que ele foi até ela onde Samantha estava, a virou de frente e a pegou pelas mãos.
_ Eu não aceito sua demissão e prometo que a partir de hoje, irei me comportar como um cavalheiro. Dizendo isso, beijou-lhe delicadamente no pulso.
_Mas...- ela argumentou ofegante com o corpo em brasa, sentindo que o beijo leve e sensual que Steve lhe dera lhe derretia todas as barreiras que ela colocava entre eles.
Então, ele a soltou subitamente. Esfregou os braços com força. Não podia quebrar sua promessa, minutos depois de tê-la feito.
_ Está decidido Samantha - disse ele firmemente_ Você fica.
Seus olhos se encontraram por um longo tempo.
O ar estava carregado de tensão , de desejo e de palavras que não foram ditas. Ela desviou seu olhar.
Não era isso que ela queria? Ficar em Raibow Hill?
Então por que de repente a ideia não lhe agradava?
_ Está bem.Eu vou subir. O senhor precisa de mim?
Steve fitou-a com os olhos semicerrados, ela corou ao notar-lhe os olhos cheios de desejo contido.
_ Acho melhor você ir bem rápido para sua cama Samantha - ele disse rouco.
Ela deixou a sala sem olhar para trás.
Quando chegou ao quarto, seu coração batia disparado. Não sabia se estava fugindo de Steve ou dela mesma. Como pudera aceitar continuar ali, se não podiam ficar na mesma sala por cinco minutos sem que ardessem de desejo um pelo outro?
Será que estava apaixonada por ele?
Descobrir esse sentimento, a fazia desejar fazer amor com ele. Nunca sentira aquele calor interno que a consumia por dentro fazendo-a pulsar de desejo a todo instante. Ela se sentia tão ardente com Steve que se esquecia de tudo que sofrera no passado, e da sua verdadeira repugnância em relação ao sexo. Colocou o pijama e deitou-se na cama, mas não dormiu.
Sua única experiência sexual fora com Ryan e fora a coisa mais terrível que lhe acontecera na vida.
Enquanto namoravam, ele era gentil e delicado, mas nunca tentara passar dos limites, portanto, ela se casara virgem.
Entretanto na noite de núpcias, num hotel em Cardiff. Ryan bebera bastante durante o jantar e não fora nada gentil com ela na sua primeira noite. Depois do sexo, ele perdeu a chave do seu carro e a fez procurar. Quando Samantha não encontrou, ele a esbofeteara violentamente.
_Sua cadela imprestavel!
Esta foi a primeira noite em que descobriu a face obscura do marido. O marido que julgava amar e a tratava com dignidade e respeito. Fizera tantos planos para aquela noite, sonhos de amor que nunca se realizariam.
Ryan era um manipulador e a enganou sem piedade. Não esperou sequer a noite de núpcias para deixar seu monstro interior vir a tona.
Samantha passou a noite inteira chorando, culpando-se pela sua inocência e inexperiência. Só que ela descobriu muito rapidamente que aquela se tornaria a primeira das muitas noites de humilhações e violência que ela sofreria ao lado de Ryan.Com o passar dos anos e à medida que seus vícios aumentavam, Ryan ia ficando cada vez mais violento e obsessivo.
Ele não tinha pudor de satisfazer seus desejos mais íntimos e absurdos e se ela não consentisse, ele abusava fisicamente e psicologicamente dela. Sem dó nem piedade.
Deitada na sua cama, ela se encolheu e sentiu que tremia ao lembrar-se de tudo que vivera. O menosprezo de Ryan , suas humilhações xenofóbicas, a fazia se sentir, a pior das mulheres no planeta terra.
Quando conseguia fugir de suas agressões, ela se escondia em hotéis baratos, mas na maioria das vezes não conseguia escapar das investidas dele. Ryan sempre a encontrava.
Então, ele a fazia voltar para casa onde era cruelmente espancada e obrigada a fazer sexo brutal a durante toda a noite.
Sem poder conter as lágrimas, soluçou ao se lembrar das várias vezes que humilhada, fora parar no hospital muito machucada por fora e por dentro.
Esse desespero durou quatro longos e sofridos anos. Ela rolou na cama deitada no escuro durante um bom tempo sem conseguir pegar no sono.
Sua cabeça latejava muito enquanto suas feridas internas voltavam a sangrar.
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O segredo de Samanth_ Revisado!!!!
HorrorSamanta é uma jovem frágil, bonita, imigrante brasileira em Londres. Saiu do Brasil ha dez anos, numa busca desesperada pelo seu lugar no mundo. E agora, ela espera que o mundo seja realmente seu amigo, pois o seu terrível segredo do passado é um...