Capítulo 10

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POV Hashirama

Minha cabeça estava explodindo e eu mal conseguia abrir meus olhos, mas as lembranças do meu show na noite passada ainda estavam vivas em minha mente. Tudo que eu disse era o que vagava em meus pensamentos nesse último mês, mas colocar pra fora entre lágrimas foi vergonhoso.

— É incrível ver como o álcool pode levar o deus shinobi ao fundo do poço — a voz debochada de Mito preencheu o quarto e eu abri os olhos, a vendo escorada na porta com uma postura despreocupada.

— Vai mesmo me zoar? — cobri meus olhos com os braços porque a claridade estava doendo ainda mais minha cabeça.

— Foi você quem disse que queria a verdadeira Mito — senti o lado da cama afundando — trouxe um suco, não acho que seu estômago vá aceitar comida agora.

— Obrigado!

Me sentei e tomei o suco, quando acabei ela abaixou a cabeça e se aproximou mais de mim, estendendo as mãos até a lateral da minha cabeça, completamente corada.

— Não ache que vou fazer isso de novo, é só um alívio porque de certa forma sou responsável pelo estado deplorável que você ficou ontem — ela usou o ninjutsu médico para aliviar os efeitos da bebida e em um minuto eu já me sentia renovado — Francamente, um puteiro? Você é o hokage, tem uma imagem a zelar!

Dei uma risadinha, mas no fundo me magoou o fato de ela não se importar pessoalmente por eu ter ido aquele lugar, apesar disso, receber uma bronca de Mito era muito bom, mostrava que ela estava confiando em mim pra se mostrar.

— Desculpa, não vou fazer mais isso — ela assentiu e estava se levantando quando segurei sua mão — Precisamos conversar!

— Com certeza precisamos, mas agora você precisa tomar um banho — corei com sua constatação e ela riu — Te espero na biblioteca!

Tomei um banho relaxante, mas rápido, escovei meus dentes e vesti uma roupa casual para ficar em casa. Passei na cozinha e peguei onigiris, levando para a biblioteca, fiz aquele cômodo inteirinho para ser o refúgio dela, por isso bati na porta e só entrei quando ela autorizou.

Mito estava linda com os cabelos vermelhos soltos em volta do corpo, um vestido longo verde, sentando no banco da janela que tinha vista para a manhã ensolarada no jardim.

— Me desculpa por ter dado trabalho ontem — me pronunciei sentando em frente aos pés dela e lhe estendendo um onigiri.

— Tudo bem, foi bom pra gente ter essa conversa hoje — ela falou desviando o olhar para o jardim — Desculpa por ter dificultado as coisas, mas eu achava que seu jeito gentil era só um personagem, só ontem eu percebi que você é gentil na essência!

— Eu entendo, você tem razão de pensar assim com tudo que arranquei de você, com o que fiz com você na nossa primeira noite... — ela corou e olhou pra mim — Se eu tivesse perguntado, mas achei que estava apenas tímida e pensei que conversar só ia piorar as coisas.

— Eu tinha que abrir a boca, mas minha mãe veio falando que era minha obrigação como esposa e eu tinha que fazer e eu já tava tão saturada, só aceitando tudo que eu nem contestei — ela falou tudo num fôlego só, como se estivesse aproveitando um surto de coragem.

— Isso não é obrigação, Mito, sua única obrigação no casamento é honrar nosso compromisso, assim como eu, mas não tem obrigação de transar comigo, pra fazer isso tem que haver desejo, se eu soubesse jamais teria te tomado pra mim naquela noite — coloquei uma mecha de seu cabelo atrás da orelha — Eu te machuquei muito, não foi?

— Um pouco — ela respondeu com a voz baixa e eu erguei seu queixo.

— Foi mais que "um pouco" e nós dois sabemos disso, me perdoe por tudo!

— Obrigada — ela olhou em meus olhos — Você recuou todas as outras vezes que me procurou, notou meu desconforto e recuou, obrigada!

— Eu não fiz mais que minha obrigação — me recostei na janela — Então, amigos?

— Amigos — ela respondeu com um sorriso mínimo e estendendo a mão em minha direção.

— Agora pode me dizer o que gosta de fazer? Porque bordar eu já vi que não é!

Mito sorriu, um sorriso verdadeiro, com uma lua crescente e eu fiquei bobo naquele momento, minha esposa é com certeza a mulher mais linda do mundo!

— Eu gosto de nadar, me sentar no topo das árvores, caminhar — ela suspirou e fechou os olhos — Mas não há nada que eu goste mais do que o pôr do sol na praia, aquele cheiro... eu cresci em uma ilha, então o cheiro do mar sempre esteve ali, é com certeza o que eu mais sinto falta!

— É uma pena que Konoha não tenha mar, mas quando tudo estiver tranquilo eu te levarei a praia — ela me olhou com doçura e assentiu — E do seu irmão, sente falta?

— Céus, eu sinto falta até das travesuras de Kantaro — ela respondeu divertida e eu fiz uma careta, me lembrando do jantar em sua casa — Desculpa por isso, ele fez aquilo porque soube do acordo!

— Tudo bem, ele só estava te protegendo — dei de ombros — Aquela garota que veio contigo, também é importante pra você não é?

— Saori é minha melhor amiga, filha de uma amiga da mamãe, eu cresci com ela e Satoru... — Mito abaixou a cabeça — Desculpa!

— Relaxa — respirei fundo e olhei para a estante de livros a minha frente — ele faz parte da sua história. E sua relação com sua mãe? Me pareceu um pouco conturbada.

— Ela é difícil, mas eu também sou, sempre me dei melhor com papai, digamos que eu não sou o que minha mãe me criou pra ser ou pelo menos não era!

— Então casar comigo contrariou todos os seus planos de frustrar sua mãe? — perguntei rindo.

— Com certeza — ela respondeu entre gargalhadas e depois ficou séria — Ela me criou pra ser uma mocinha do lar, que gostasse de bordar e cuidar da casa, fazer compras e sobretudo, que não aprendesse a ler, porque ler era coisa de homem. Mas papai me ensinou a ler, ele sempre disse que eu devia pensar pela minha própria cabeça e acho que por isso eu sempre preferi seguir ele do que ela.

— Entendo perfeitamente e devo dizer que concordo com seu pai, você tem que pensar por sua própria cabeça — ela assentiu.

— Quando fui crescendo eu percebi que vestidos eram desconfortáveis e cuidar do cabelo dava muito trabalho, então preferia calças e cabelos presos, porque o que eu realmente gostava era de correr pela floresta, nadar, coisas que pra ela eram inaceitáveis que uma garota fizesse — Mito suspirou e olhou para o jardim antes de voltar a me olhar — Isso foi nos afastando cada vez mais, as cobranças e punições que ela me impunha por não ser o que ela queria criaram uma barreira entre nós duas e me fizeram me aproximar mais ainda do meu pai. De acordo com ela, no dia que tiver meus filhos eu vou entender, mas eu duvido, não sei o que você pensa sobre isso, mas quero que meus filhos pensem por conta próprio e não quero distinguir os meninos das meninas!

— Eu concordo com você, tento convencer as pessoas aqui a deixar as meninas estudarem e até lutarem se for a vontade delas, mas tradicionalistas não mudam facilmente suas cabeças — folheei um livro — Madara é um dos poucos pais que treina a filha, mesmo Haru ainda tendo três anos e se tivermos nossa menininha, também vou querer treina-la!

Mito sorriu pra mim com os olhos marejados e levou a mão até meu rosto, fazendo um carinho discreto.

— Eu realmente tive sorte — ela se sentou direito e beijou minha bochecha — O que acha de caminharmos pela vila no seu dia de folga?

Me perguntei se algum dia eu poderia negar algo a essa mulher quando ela me olhasse com esse brilho nos olhos.

A Aliança - Hashirama SenjuOnde histórias criam vida. Descubra agora