Expactativas

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Era engraçado como a pessoa que mais devia estar nervosa ali, na verdade era o único ponto de calmaria no meio dos quatro seres agitados que o rodeavam. Tengen se amaldiçoava mentalmente por ter seguido seu irmão e suas primas numa caminhada pelo jardim da propriedade, os quatro não paravam de falar alto e o encher de perguntas sobre o casamento.

Tatsuo, seu irmão um ano mais velho, tagarelava sobre como a casamenteira tentou explicar para a senhora Naho que o ômega escolhido não era a melhor opção. Makio, Suma e Hinatsuru, suas primas, não pareciam tão convencidas das observações da casamenteira após roubarem escondidas de Naho, a pintura do ômega em questão. Na cabeça delas, não tinha como uma figura tão angelical e calorosa ser uma má opção.

- Ora, quando vocês vão calar a boca? Estão me dando dor de cabeça.- Tengen reclamou fazendo o burburinho se dissipar.

- Não está nervoso?- Suma, sua prima beta baixinha de cabelos pretos, questionou sugestiva.

- Por que eu estaria?

- As vezes a gente esquece que você é um alfa convencido que acha que tudo vai dar certo só por sua presença. - Makio, a alfa de cabelo bicolor, provocou dando um beliscão no braço do primo.

- Estou ansiosa para conhecer o anjinho em questão. - Hinatsuru, a alfa de longos e lisos cabelos pretos e olhar simpático, comentou com um pequeno sorriso.

- Vocês vão ficar falando disso o dia inteiro?- Tengen massageou as temporas buscando paciência. Ele não estava ansioso ou sequer curioso com essa história de casamento, a verdade é que ele não podia se importar menos com isso.

Já fazia muito tempo desde a última vez que seus instintos alfas se remexeram por alguém, o destino não podia ter sido mais cruel com ele e seu amado, ele ainda tinha receios de aproximações românticas depois do ocorrido. Além é claro, de que ele sentia extrema pena do ômega a quem fora prometido, o coitado estaria entrando num ninho de cobras com aquela união. Tengen não queria assistir seu pai e seu irmão mais velho estragando mais uma alma, assim como aconteceu com seus irmão. Ele já estava farto de ver sorrisos sumirem diante de seus olhos.

- Ora, você é muito chato! - Makio cruzou os braços indignada. - Como está indo sua nova composição? Faz tempo que não o vejo tagarelar sobre suas músicas.

- Estou com um bloqueio criativo tão humilhante que nem me sinto eu mesmo. - O mais alto resmungou dramático.

- Bem feito, senhor perfeitinho. - Tatsuo o zombou fazendo as primas rirem.


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O vento soprava levemente pelo pomar, fazendo os cabelos loiros se remecherem embaixo do chapéu de palha. Zenitsu gostava de caminhar pela plantação de pessegueiros da propriedade quando tinha tempo livre e disposição.

Geralmente seu avô o enfiava no quarto com pilhas de livros de etiqueta e diversos outros assuntos que Zenitsu não podia negar serem interessantes. Ele gostava de ler ficções, livros acadêmicos de história e geografia, não era muito bom com matemática mas também não era um completo fracasso. Jigoro havia o incentivado muito a se focar em estudos, e o ômega havia o feito de bom grado com a condição de que pudesse ter seu próprio quartinho para desenvolver suas artes.

Desde muito pequeno Zenitsu amava toda forma de arte, gostava de fazer esculturas de argila, havia se interessado por violino e ukulele quando fizera 15 anos, além de que seu maior orgulho eram seus quadros dos quais passava semanas e meses se dedicando com um grande sorriso. O único quadro que ele detestava era a pintura de Kaigaku que foi obrigado pelo avô a fazer no aniversário do alfa mais velho.

A relação do ômega com Kaigaku nunca fora muito próxima ou amigável, o alfa era grosseiro com ele a maior parte das vezes, seus feromônios sempre azedos quando estavam perto ou interagindo. Nem mesmo os diversos sermões de seu avô mudavam o tratamento de Kaigaku consigo. Não era como se o loiro se importasse muito, ele tinha Tanjiro e Inosuke como seus melhores amigos e não precisava choramingar pela atenção do mais velho.

Naquele instante, o ômega tentava com todas suas forças manter o mínimo de calma enquanto colhia alguns pêssegos, estava nervoso com as últimas notícias e não fazia ideia de como ainda não havia soltado berros com a cara enfiada no travesseiro. Respirou fudo buscando parar a leve tremedeira que começava a lhe tomar, encarou a fruta em sua mão lembrando da vez que Inosuke tinha lhe dito que ele cheirava a pêssego e a terra molhada, ponderou por alguns instantes sobre os pêssegos, sua mente viajando em pensamentos aleatórios e observações esquisitas sobre gosto de pêssego e dias de chuva, nem escutou os passos agressivos e ligeiros de alguém se aproximando.

- Zenitsu-sama!- A criada o chamou lhe dando um grande susto ao tocar seu ombro. - A casamenteira chegou.

Zenitsu arregalou os olhos, havia se esquecido que Mitsuri lhe visitaria naquela tarde. Saiu correndo na frente da criada após deixar o cesto com os pêssegos na mão da mesma. Entrou em seu quarto jogando o chapéu em qualquer canto e se direcionando o mais rápido possível ao guarda roupas, pegou um vestido salmão com bordados marrom e rosa, amarrou os cabelos no alto da cabeça com uma fita e calçou sapatinhas pretas.

Saiu correndo pelo corredor em direção a sala de visitas onde provavelmente seu avô o estaria xingando mentalmente pelo atraso enquanto a casamenteira estaria tagarelando entre os goles na xícara de chá. Parou em frente a porta para respirar fundo e se acalmar, abriu um sorriso e bateu duas vezes na porta antes de entrar devagar.




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