Intenso

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A casa Kibutsuji estava mergulhada no silêncio, Douma estava na cozinha fazendo chocolate enquanto Enmu comia sanduíches na mesa. Enmu não gostava muito quando Douma estava tão silencioso, ele sabia que muitas aflições cercavam o mais velho, não gostava de quando seu irmão parecia mergulhado em pensamentos dolorosos.

Terminou o sanduíche e voltou seu olhar para o ômega maior, Douma parecia dividido entre uma grande carranca e a vontade de chorar, concentrado totalmente em mecher o chocolate no fogo. Enmu levantou-se e abraçou o loiro por trás, ouviu um fungado de nariz e apertou mais o abraço.

- Enmu, vai lá perguntar para Daki se ela vai querer chocolate. - Douma pediu com a voz baixa.

Enmu rapidamente atendeu seu pedido, entendendo que na verdade ele só queria ficar um tempo sozinho. Douma se sentia completamente perdido, sua memória sempre voltando ao acontecimento de mais cedo, testando seu limite de resistência. Não suportava mais toda aquela porcaria, não queria continuar sendo daquela desgraça de família, mas não queria estragar tudo e abandonar seus irmãos mais novos.

Era um saco sempre que Muzan ficava irritado com qualquer coisa. Daquela vez, Douma nem sequer sabia qual era o motivo, antes que pudesse perguntar qualquer coisa, foi atingido por um vaso de vidro. Akaza e Kokushibo estavam na sala também, assim como Douma, estavam ouvindo Muzan reclamar por bons minutos, e nem sequer piscaram quando o vaso se quebrou contra o braço do ômega. Douma queria dizer que estava tudo bem, que já estava acostumado com o fato de sempre ser o alvo das frustrações de Muzan, afinal, ele era o único ômega homem mais velho.

Seu braço doía mesmo com os movimentos leves que fazia, havia fingido que nem estava doendo durante a reunião, foi para seu quarto e se cuidou sozinho, não queria preocupar Enmu, Rui ou Daki.

Se perguntava o que faria, a cada dia que passava ficava mais óbvio que Muzan estava caçando a própria ruína com sua obsessão e fraquezas expostas aos inimigos. Akaza já havia deixado claro que os irmãos Shinazugawa havia sumido completamente do mapa, Kokushibo não conseguiu nada com os Tomioka, e para a mente perspicaz de Douma, essas duas situações tinham haver uma com a outra, e só resultaria na iminente morte de Muzan.

- Não devia mecher o braço desse jeito. - Se assustou com a voz de Kokushibo. O mesmo estava encostado na porta da cozinha, de braços cruzados.

- Ara, Kokushibo-san!- Douma abriu um sorriso torto. - Não devia assustar os outros assim. Quer chocolate?

Kokushibo balançou a cabeça negativamente, não para o chocolate, mas para a mania de Douma sempre desviar do assunto principal. Se aproximou e pegou uma colher na gaveta, pegou chocolate o suficiente para quase cair da colher e enfiou na boca, estava muito bom. Douma o encarava com cara de paisagem, o loiro nunca sabia como agir na presença de Kokushibo, tratá-lo como irmão não dava certo e isso era óbvio pra todo mundo, só restava o clima de estranho que se instaurava.

- Devia deixar alguém olhar os cortes. - Kokushibo alertou pegando mais chocolate, encarava as orbes coloridas de Douma profundamente.

- Não precisa. - Douma respondeu desviando o olhar.

O loiro sentou em cima da mesa segurando a panela cheia de chocolate, pediu para Kokushibo lhe dar uma colher enquanto amarrava o cabelo num coque, para poder comer sem interferência. Kokushibo pegou a colher, mas o invés de lhe dar, mergulhou ela no chocolate e ergueu, pairando perto de seus lábios. Douma não sabia se ficava em choque com o repentino gesto de afeto, ou se soltava uma risada com a cara séria demais de Kokushibo numa situação daquelas.

Sem demora abocanhou a colher com um sorriso satisfeito no rosto, tomou um susto quando a mão do mais velho se aproximou de repente de seu rosto, afastando os cabelos loiros que caíam sob seus olhos.

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