Fragilidades

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O grupo havia acabado de voltar, cada um com uma coroa de glicínias na cabeça, feitas por Zenitsu durante o longo tempo que ficaram no lugar secreto. Durante esse tempo Tanjiro e Inosuke ganharam mais intimidade com as primas de Tengen, reconheceram até coisas que tinham muito em comum, principalmente Hinatsuru e Tanjiro.

Assim que Zenitsu encontrou uma das criadas pelos corredores foi surpreendido com um berro e lágrimas da mesma, que correu em sua direção. Tanjiro e Inosuke se aproximaram para saber que diabos estava acontecendo.

- Zenitsu-sama!!!- A criada chamou em meio ao choro desesperado, segurando o ômega pelos ombros. - O-onde esteve e-este tempo todo?- Soluçou no meio da frase se esforçando para manter-se coerente.- Procuramos o senhor pela propriedade toda!! Jigoro-sama, passou mal e está deitado em seus aposentos, achamos que ele apenas um enjôo por algo que comeu, mas ele não acorda de jeito nenhum e as veias dele estão muito saltadas!!

Zenitsu arregalou os olhos sentindo as pernas bambas, o mundo ao seu redor pareceu girar por alguns instantes, a mão de Tanjiro em seu ombro o trazendo para a realidade. Inosuke segurou sua mão firmemente quando percebeu a violenta tremedeira que tomava o corpo do Agatsuma, guiou o ômega junto com Tanjiro até sua cama para sentar antes que desmaiasse. Ambos haviam ouvido as palavras da criada junto a Zenitsu, aquela situação era extremamente séria. Se Jigoro não se recuperasse e acabasse morrendo, Zenitsu não só ficaria arrasado por perder a única família que tinha, como também Kaigaku certamente assumiria a posse dos bens Agatsuma, além de se tornar o responsável por Zenitsu.

Tanto Tanjiro quanto Inosuke sentiam uma profunda preocupação e mal pressentimento sobre isso tudo, eles conheciam Kaigaku muito bem, tinham noção de que se o velho Jigoro morresse e Kaigaku assumisse a liderança da família antes do casamento de Zenitsu, colocaria a segurança e a felicidade do ômega em risco. Precisavam adiantar o casamento o quanto antes caso Jigoro acabasse morrendo mesmo, ele já estava velho, sua saúde não era mais a mesma fazia muito tempo, a bengala era uma das evidência disso.

Tanjiro sentou ao lado de Zenitsu na cama e segurou sua mão, Inosuke aproveitou a deixa e foi fofocar o ocorrido com as primas de Uzui, não sem antes deixar um beijo na testa do Agatsuma. Zenitsu não estava conseguindo pensar direito, estava com a mente tão desesperada e confusa que talvez um cego no meio de um tiroteio estaria melhor que ele. O sangue pulsava forte e alto demais em suas orelhas, sua cabeça havia começado a latejar e um mal estar se apossava de todo seu corpo, não sentia forças nem para levantar da cama.

As lágrimas desciam pelo seu rosto sem nenhum controle, só conseguia pensar em todo o trabalho que deu ao seu avô até ali, se sentia culpado por nunca ter dado orgulho para o velho. Se lembrava dos momentos que passaram juntos, de todas as vezes que o baixinho ranzinza batia com a bengala em suas pernas para o repreender, se lembrava de como ele sempre reclamava de Zenitsu lhe assustar jogando uma coroa de flores em sua cabeça, simplesmente do nada. Ele lembrava de quando era criança, e de como Jigoro sempre desviava do assunto de seus pais e sua morte. Zenitsu agora mais do que nunca, queria voltar no tempo, dar um tapa na cara de seu eu do passado e enfiar juízo na própria cabeça, talvez agora não estaria se arrependendo de ter sido o motivo das dores de cabeça do vovô. Mas ele não podia fazer nada agora.

Não queria mergulhar em lembranças dolorosas, não queria sequer cogitar que seu avô morreria, precisava de manter firme como nunca fez antes, precisava tomar as rédeas da situação. "O vovô não vai morrer de forma alguma, não vou deixar que ele se vá. Eu logo irei me casar, ele precisa estar lá para ver esse momento acontecendo! O vovô não vai morrer!", com isso em mente, se levantou abruptamente da cama sentindo a vertigem tomar sua visão, não se importou com isso e continuou caminhando pelos corredores com passos pesados. Limpou as lágrimas do rosto e fungou para impedir qualquer líquido de escorrer por seu nariz, cerrou os punhos e respirou fundo deixando a tremedeira de lado.

Sentiu Tanjiro segurar seu ombro e só então percebeu que o ruivo o seguia preocupado, sorriu minimamente e continuou caminhando até encontrar Ume, voltando da cozinha com uma expressão estranha no rosto e ombros encolhidos, talvez já soubesse da situação de Jigoro.

- Ume!- Zenitsu chamou e estranhou a platinada não estar lhe dirigindo o olhar, apesar de caminhar em sua direção. - O que houve? Você está bem?

- Sim, sim!- Se apressou em responder erguendo o olhar.- Só estava pensativa, apenas isso.

- Hum.- Zenitsu estreitou os olhos notando a pele da garota arrepiada. - Tanto faz. Preciso que contate a senhorita Tamayo e sua esposa Shinobu, imediatamente! Informe que é urgente a presença delas aqui, e não se distraia ou tarde nessa mensagem, entendeu?

- S-sim, Zenitsu-sama!- A platinada arregalou os olhos com o tom autoritário do loiro e se apressou em sair para cumprir a ordem.





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Quando Tamayo e Shinobu chegaram na residência Agatsuma, já fazia um tempinho que o sol havia se ocultado e a lua começava a subir no céu. Zenitsu não parava de caminhar de um lado para outro no quarto de Jigoro, onde Tengen estava sentado próximo de si, as três primas se mantinham em pé perto da porta, e Kaigaku estava no corredor com uma cara tranquila, da qual dava nos nervos de Zenitsu. Quando uma criada veio avisar que as duas médica haviam chegado, Zenitsu praticamente correu para recebê-las o quanto antes.

Jigoro se mantinha inconsciente durante todo esse tempo, sua pele começava a ficar pálida e manchas escuras surgiam nos pontos de articulação. Zenitsu não conhecia muita coisa sobre medicina mas entendia o básico de primeiros socorros e envenenamento, graças á Obanai-san que lhe ensinava algumas coisas quando Mitsuri precisava sair, então ele tinha razões suficientes para acreditar que seu avô foi envenenado, isso tornava as coisas ainda mais sérias (como se antes já não fossem o suficiente). Por essa razão havia chamado especificamente Tamanho e Shinobu, elas eram as melhores médicas de toda a religião e tinham uma especialidade divina em relação á veneno, confiava que os cuidados delas seriam mais que o suficiente para tirar seu avô das garras da morte.

- Boa noite, Zenitsu-san.- Shinobu cumprimentou com um sorriso pequeno. A voz doce e a estatura incrivelmente pequena da mulher não combinavam muito com o fato dela ser uma alfa, pelo menos era o que ouvia falarem.

- Boa noite, Shinobu-chan, Tamayo-chan.- Fez uma breve reverência para as duas e, sem enrolação, explicou a situação do avô enquanto caminhava pelos corredores em direção ao quarto onde ele estava.

- Precisaremos da ajuda das criadas e de alguns utensílios da cozinha.- Tamayo, a ômega elegante da qual havia casado com Shinobu, avisou a Zenitsu enquanto arrumavam suas coisas no quarto.

Sem demora o Agatsuma saiu a passos firmes pela casa dando ordens nas criadas, empurrou duas mesinhas para o quarto do avô para servir de apoio aos utensílios e medicamentos, deixou três criadas no quarto para acompanhar e atender os pedidos das médicas e deixou mais três na cozinha, além de ficar junto com Ume e Suma na porta ou pelos corredores, prontas para qualquer coisa. Tangen estava completamente perdido com toda aquela agitação, mas não deixou de notar o quão incrível era ver Zenitsu organizando e liderando tudo com eficiência, era isso que gostaria de ver cada vez mais do loiro, apesar de também estar bastante preocupado com o velho Jigoro, não sentia algo bom vindo dessa história toda.











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